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E o 15 que não é de Rachel?

 

Rachel de Queiroz marcou a literatura brasileira quando, com "O Quinze", entrou com todo vigor no grupo daqueles que Oswald de Andrade chamou de "os búfalos do Nordeste" -que invadiram a Semana de Arte Moderna com a temática da seca.


Quando fui candidato a senador, nessa confusão de números que passaram a ser as eleições eletrônicas, eu era o 15. Perdi o nome. Era sempre: "Vote no 15".


Agora todos relembram os 20 anos de redemocratização do Brasil -15 de março de 1985. Mas ninguém fala do 15 de março de 1990, há 15 anos. Eu passava o governo a Fernando Collor. Sua mãe, Leda Collor, filha de Lindolfo Collor e, portanto, conhecedora de eleições, dizia: "Foi uma eleição limpa, bem presidida pelo atual presidente da República".


Saía sob forte crítica da mídia. Duas coisas eram muito batidas: "Fez tudo para prolongar o seu mandato de quatro para cinco anos"; "A inflação é a maior da história, 80%".


Os gregos diziam que as coisas são boas quando terminam bem e se procurava passar a imagem de que terminaram mal. Mas a verdade, essa que o tempo constrói, era bem outra. Não deixávamos nenhuma hipoteca para o futuro governo. Encontrei as finanças com déficit de 2,58% e deixei um superávit primário de 0,8%, o que mostra o equilíbrio das contas públicas. A dívida externa, que era de US$ 123 bilhões, fora reduzida para US$ 99 bilhões - caíra de 37,5% para 24,8% do PIB. O Brasil, que era a oitava economia industrial, passou a ser a sétima. Não tínhamos dívida interna significativa. A carga tributária era de 24% do PIB - hoje é de 39%. A renda per capita, que, em 1984, era de US$ 1.468, era de US$ 2.923 em 1989 e, hoje, 15 anos depois, diminuiu para US$ 2.789. O PIB cresceu 119% no meu governo; no de Collor, 30%, e no de FHC caiu 15, 49%. São dados da FGV.


Mas se disse que a década de 1980 foi a década perdida. O crescimento da América Latina naquela década só não foi negativo por causa do crescimento do Brasil no período de 85 a 90. Nosso superávit de exportação era o terceiro do mundo, depois do Japão e da Alemanha. A taxa de desemprego foi de 2,36%, a menor de todos os tempos. Até hoje, 15 anos depois, esses números não foram repetidos nem alcançados.


O mandato de cinco anos? Quando assumi, recebi do Congresso uma ata na qual o mandato de Tancredo e o meu estavam fixados em seis anos. Vem a Constituinte e abre-se a discussão. Achando que era desprendimento, propus a diminuição do meu mandato em um ano. Criaram na opinião pública a idéia de que eu queria prorrogar meu mandato em um ano. Assim, perdi um ano e espalharam que eu ganhara um a mais! É que todos queriam antecipar as eleições, julgando que iriam ganhá-las. Coisas da política.


Quanto à inflação, com os números macroeconômicos bons, ela se mantinha nos parâmetros das inflações com correção monetária, muito diferentes das sem correção. Como calculamos o PIB e a renda per capita em dólares, pedi à Tendências Consultorias que calculasse a inflação do meu governo em dólares, isto é, a verdadeira: média de 17,3% ao ano. A disparada dos últimos meses não era mais minha, era das expectativas criadas pela eleição. Era o tal medo do Lula e do tiro único que o presidente Collor prometera para matar o dragão da inflação. O mesmo que aconteceu na última eleição, quando o risco Brasil foi para a estratosfera. Tudo passou.


Como se diz no Nordeste, "galho verde é que faz fumaça".


Quinze anos depois, acabaram-se os galhos e a fumaça.


 


Folha de São Paulo (São Paulo) 18/03/2005

Folha de São Paulo (São Paulo), 18/03/2005