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A disputa bipolar

 

O primeiro fim de semana de Lula fora da prisão transcorreu sem qualquer convulsão social, como muitos previam, o que foi uma boa notícia. Isso, porém, não significa que estamos livres da polarização política. Ao contrário, o atual e o ex-presidente não convivem sem ela. Lula disse que saiu da cadeia mais à esquerda do que entrou. Já Bolsonaro não conseguiria se situar mais à extrema direita de que sempre esteve.

Os dois só empatam no ódio à TV Globo, a qual o capitão já premiou com os seguintes termos de seu tosco vocabulário: “canalha”, “patife”, “covarde”, “sacana”, entre outros. A Federação dos Jornalistas contabilizou 99 ataques dele à imprensa. Lula, por usa vez, assim que foi solto, anunciou que no seu coração só havia lugar para o amor, mas xingou a emissora com palavras chulas.

Em nota, a Globo mostrou que uma das provas de sua isenção é ser alvo de ataques dos dois extremos, que nem por isso deixam de estar presentes nos seus veículos quando são notícia. “A Globo faz jornalismo sério de qualidade e continuará a fazer. Sem se intimidar e sem jamais perder a serenidade.”

Lula e Bolsonaro praticam entre si um jogo de faz de conta. O petista fingia recusar o “jogo rasteiro” dos apoiadores que querem derrubar o atual presidente: “esse cara tem mandato de quatro anos”. O “cara” que simulava não se importar com a soltura de seu principal inimigo, ao qual se referia, sem nomear, como “canoa furada”, o ameaça agora com nada menos que a Lei de Segurança Nacional, que prevê pena de até 20 anos de reclusão. “Ela está aí para ser usada”, avisa, pronto para recorrer à Justiça.

O Globo, 12/11/2019