Setembro, 11, uma lembrança amarga. Pela tragédia, pela brutalidade, pelos que morreram, pelos que sofrem. E pelas conseqüências desestabilizadoras para o mundo. O presidente Bush não viu o episódio em sua dimensão universal. Encarou-o com uma visão de vingança e truculência.
Nunca na história americana a leitura de uma agressão foi tão equivocada. O presidente Roosevelt utilizou Pearl Harbor para salvar o mundo. Seu país saiu mais forte do conflito, o maior líder mundial, pólo de poder capaz de resistir à ideologia comunista, salvar o mundo da guerra nuclear e fazer desintegrar-se a União Soviética.
O ataque de 11 de Setembro recebeu a solidariedade unânime internacional. Era a hora de Bush reunir todo o mundo sob sua liderança numa cruzada de cooperação para enfrentar o terrorismo, inimigo da humanidade.
Ao contrário de uma visão de estadista, Bush reagiu para legitimar-se de uma eleição decidida pela Suprema Corte e sair para uma guerra de revide contra o Iraque para eliminar Saddam Hussein. Seu pai não cedeu a essa sedução na Guerra do Golfo.
O Iraque nada tinha a ver com o 11 de Setembro e transformou-se numa guerra insolúvel cujo fim não aparece.
Resultado: os Estados Unidos perderam milhares de jovens vidas, desmoralizaram-se nas torturas de suas prisões, rasgando uma de suas bandeiras fundamentais, a dos direitos humanos. Gastaram trilhões e ainda vão gastar outros trilhões. Desgastados, ressuscitaram a Rússia, que no vácuo das vulnerabilidades reinicia uma nova Guerra Fria. A China aproveitou-se e, em breve, dividirá com os Estados Unidos a hegemonia do poder mundial. A Europa, aliada, dividiu-se. Rolou a cabeça de seu estado-maior, Durão Barroso, Aznar, Berlusconi e Blair. A opinião mundial posicionou-se contra os EUA.
O senador republicano aliado de Bush, Richard Lugar, resumiu bem o momento em que vivem os EUA: "A essa altura, com nosso exército desgastado por causa da guerra do Iraque, nossos ganhos globais freados por causa do fardo do Iraque, que o governo não nos peça paciência!".
O dólar enfraqueceu-se, a crise financeira dos fundos especulativos e outros problemas econômicos internos crescem. Bush tem seu prestígio em níveis baixíssimos e a população americana revolta-se e pede cada vez mais uma paz que se torna distante.
Bush recebeu os Estados Unidos no maior esplendor de sua glória e rememora o 11 de Setembro em um declínio humilhante. Será que por uma ironia trágica, o fanático louco Bin Laden alcançou seu objetivo? Isso não pode ocorrer.
Jornal do Brasil (RJ) 14/9/2007