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Depoimento presencial é sinal de independência

 

A decisão de Celso de Mello de mandar o presidente Bolsonaro depor pessoalmente parece indiscutível - embora tenha havido uma exceção para Michel Temer  - e é fruto da necessidade do STF de mostrar independência em relação ao governo, a quem a gestão de Toffoli estava muito atrelada.  Tomar decisões de independência ao governo é importante para pelo menos manter a boa imagem do STF. Mas o presidente está numa fase boa de relacionamento. Acabou com a acusação permanente ao Supremo, seus seguidores foram controlados e está tentando ter um relacionamento normal com o judiciário e o Congresso. Desse ponto de vista, vai depor num ambiente mais favorável e controlado. Na época da denúncia, era completamente diferente. Hoje, aparentemente, a crise está superada e acredito que o depoimento não terá problemas para ele, a não ser que caia em contradição. Mas terá tempo suficiente para se preparar.
O impacto político para Bolsonaro pode ser forte, mas não se pode dizer que esteja sendo perseguido, pois é o cumprimento estrito da lei. Pode também demonstrar uma fragilidade dele como presidente, de ter que se submeter à lei, coisa que ele não gosta muito, mas não é uma declaração de guerra, e sim de independência. É a linha que será seguida pelo ministro Luiz Fux na presidência do STF e assim foi a decisão de Celso de Mello.

O Globo, 11/09/2020