Está sendo colocado em xeque o novo equilíbrio político no país com que a presidente Dilma imaginou atravessar os próximos 18 meses, até a eleição municipal, com a ascensão do vice Michel Temer à coordenação política do governo e a presença de Joaquim Levy no Ministério da Fazenda.
Essa estratégia, "uma mudança impressionante e, sobretudo, uma decisão correta, dado o fracasso da política econômica e do padrão de relacionamento com os partidos aliados que caracterizaram o período", na definição do cientista político Octavio Amorim Neto, Professor da EBAPE/FGV em artigo no mais recente número do Boletim Macro, uma publicação do IBRE-FGV, está sendo corroída por dentro da própria base aliada do governo, com o aparente estímulo velado do ex-presidente Lula, que atualmente faz um jogo duplo.
Ao mesmo tempo em que se reúne com a presidente Dilma antes do anúncio dos cortes de cerca de R$ 70 bilhões no Orçamento, libera seus mais chegados, como o senador Lindbergh Farias, para dinamitarem o programa do governo.
A estratégia identificada por Octavio Amorim Neto de Dilma, Lula e o PT darem "um passo atrás –delegar poder para dois “estranhos no ninho” – para, depois, tentar dar dois à frente, isto é, fazer a economia voltar a crescer a partir de 2017, de modo que o partido continue a ser competitivo na eleição presidencial do ano seguinte" está sendo contestada internamente pela impaciência dos que consideram que o projeto petista está sendo derrotado na opinião pública e exigem uma mudança radical, até mesmo com a saída de Levy.
Não foi à toa que o ministro da Fazenda contestado pela base petista não apareceu no anúncio oficial dos cortes no orçamento. Aproveitou-se de uma gripe e da explicação técnica de que Orçamento é questão do Planejamento para marcar sua ausência, num recado claro de que pode deixar o governo a qualquer momento se as pressões resultarem no fracasso do pacote de ajuste fiscal.
Levy Recebeu nos últimos dias o apoio da diretora do FMI Christine Lagarde, que fez comentários tão ingênuos sobre o Brasil, como quando comparou o teleférico do Morro do Alemão ao de estações de esqui na Europa, que demonstra estar desinformada sobre a nossa real situação.
Isso não invalida o fato de que a ingenuidade de Lagarde, se o ajuste não sair como o prometido, pode se transformar em sérias críticas, desencadeando um processo de revisão do grau de investimento do Brasil pelas agências de risco.
A estratégia que Octavio Amorim Neto define em linguagem militar, Dilma, Lula e o PT estão montando, "travando, uma batalha pela retaguarda e, simultaneamente, batendo em retirada, na expectativa de voltar ao ataque a partir de 2017", está sendo contestada abertamente por parte do PT, e indiretamente pelo próprio Lula, o que retira poder político do ministro da Fazenda "estranho no ninho".
O PMDB, comparado muito bem por Octávio Amorim Neto nesse artigo a "um exército mercenário que, dependendo do resultado do ajuste, poderá ou abandonar o PT ou aliar-se à oposição ou ficar ameaçando fazer as duas coisas o tempo inteiro", já anuncia suas críticas ao pacote de cortes, querendo impor ao governo um projeto que tem o apoio dos presidentes das duas Casas de reduzir o número de ministérios como maneira de cortar custos mais produtiva do que tirar recursos ou reduzir reduções em programas sociais.
Cortando ministérios e reduzindo o número de cargos de nomeação direta do governo federal, Renan Calheiros e Eduardo Cunha pretendem responder aos ataques de que agem com fins fisiológicos, mas na verdade estão mesmo querendo impor-se ao Palácio do Planalto.