Ultimamente, vivemos uma enxurrada de pesquisas que não servem para nada. Li outro dia que, depois de um trabalho exaustivo de pesquisadores, chegou-se à conclusão de que os velhos pagam mais impostos. Ora, se os velhos compram mais remédios e todo remédio tem um imposto indireto embutido, é claro que, mais remédios, mais impostos. Óbvio que os velhos precisam de mais medicamentos. Há também a pesquisa de que os carecas têm a cabeça mais larga que os cabeludos. E daí? Para não ser careca tem de diminuir a cabeça?
Mas não é só por aqui. O professor Lawrence Summers, reitor de Harvard, essa universidade que é referência no mundo inteiro como templo do saber e do ensinar, disse que as mulheres têm menos sucesso nas ciências mais por fatores biológicos do que por falta de oportunidades, o que, trocado em miúdos, quer provar que as mulheres são mais burras do que os homens, sabidamente burros. Contestado, malhado pela burrice do que disse, pediu desculpas, mas insistiu: "Adoraria que provassem que eu estou errado".
É a vaidade de ser discutido e de apresentar conclusões estúpidas que faz essas esquisitices intelectuais e pesquisas absolutamente inúteis.
Certamente, Adão também pensava assim, porque achou que Eva caiu em sua lábia, comeu a maçã e deu a maçã para ele comer.
Mas a mulher passou por maus bocados. Só recentemente criou-se a consciência da igualdade de gêneros. Eu pessoalmente sempre pensei assim e sempre gostei muito mais das mulheres do que dos homens.
Foi por isso que há 20 anos constituí a Comissão Especial para a Criação do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, conselho este instalado em 10 de setembro de 1985, sob a presidência da admirável lutadora Ruth Escobar. Era organismo pioneiro, totalmente voltado para a problemática da mulher, reconhecendo as desigualdades sociais e as discriminações de que sempre foram vítimas. Elas são a maioria da população e do eleitorado e, no Parlamento, uma força irresistível. Bertha Lutz dizia que o "lar não cabe mais no espaço entre quatro muros, lar também é a escola, a fábrica, a oficina; lar é, acima de tudo, o Parlamento, onde se votam as leis que regem a família e a sociedade humana".
Este ano é considerado o Ano da Mulher Latino-Americana e Caribenha, e elas estão bravamente participando e avançando nos espaços políticos. Mas ainda vai levar muito tempo para que tenhamos banidos os atos de violência contra a mulher. São maridos e companheiros -e mesmo sem ser nada - brutos e bárbaros que as submetem a todo o tipo de agressão, que vão das corporais às psicológicas.
A força da mulher é tão grande que eu, pessoalmente, que tinha uma péssima impressão da Condoleezza Rice, que, ao contrário de madame Thatcher, que era a "dama de ferro", a considerava a mulher de ferro, aquela que na Guerra do Iraque aparecia dura e má. Pois não é que ela chegou dengosa, contando sua história de uma família pobre no Alabama, que não podia ir à lanchonete dos brancos e que apenas rompeu com a discriminação pela educação, e foi até simpática, com um toque humano, sábia e inteligente.
Chegou como Condureza e saiu como Conternura.
Folha de São Paulo (São Paulo) 29/04/2005