A sensatez tinha prevalecido, até o momento em que os três promotores reuniram a imprensa para anunciar a decisão que foi criticada por seus próprios colegas e pela oposição
Se fosse hora para brincadeira, até que caberia ironizar dizendo que, se o Ministério Público de SP queria promover Lula, conseguiu. Talvez achasse que era preciso reforçar a imagem de vítima do ex-presidente, como se o episódio da condução coercitiva pela Lava-Jato na sexta-feira passada não tivesse sido suficiente. Como se explica esse pedido de prisão preventiva quase no fim de uma semana em que os esforços foram no sentido de evitar pretextos que pudessem acirrar ainda mais os ânimos às vésperas da manifestação anti-Dilma, amanhã? O governo foi o primeiro a pedir a desmobilização da militância petista para impedir atos de desagravo. A presidente argumentou que queria um “quadro de paz”. Também o ministro Ricardo Berzoini solicitou a parlamentares que convencessem os ativistas do PT a escolher outro momento para protestarem. O presidente do Partido dos Trabalhadores fez o mesmo. Por seu lado, o governador tucano Geraldo Alckmin vetou que a Avenida Paulista fosse usada por outra concentração que não aquela já programada com antecedência. O ministro Marco Aurélio Mello, do STF, foi outro preocupado com os eventuais conflitos de rua, chegando a temer o “surgimento de um cadáver”. As precauções acabaram funcionando, e não houve notícia de nenhum incidente que pudesse abalar a ordem pública. A sensatez tinha prevalecido, até o momento em que os três promotores reuniram a imprensa para anunciar a decisão que foi criticada por seus próprios colegas e inclusive pela oposição. O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima, protestou: “Lula é primário, tem residência fixa e não consta que esteja planejando fugir do país”. Caberá à Justiça a última palavra. Se aceitar o pedido, Lula vira “mártir”, como ele admitiu uma vez ao analisar a hipótese de prisão. Se não aceitar, será um desgaste sério para o MP paulista como instituição, mais especificamente para Cássio Conserino, que se atribui o papel de algoz do ex-presidente.
O efeito político imediato foi a solidariedade que lhe hipotecou a presidente Dilma, oferecendo-lhe o ministério que escolhesse para funcionar como refúgio e, assim, com foro privilegiado, estar fora do alcance de Sérgio Moro. Lula teria ficado de pensar até segunda-feira. Sua resistência é porque, além de o expediente não blindar sua mulher e filhos, aceitá-lo seria interpretado como uma confissão de culpa. Além disso, há a frase pronunciada por ele em 1988 e lembrada pela jornalista Renata Lo Prete na GloboNews: “No Brasil, é assim. Quando um pobre rouba, vai para a cadeia; quando um rico rouba, vai para um ministério”. Seria mais um inconveniente. Porque, ministro, Lula teria que não só ficar explicando seu envolvimento com o sitio de Atibaia e o tríplex do Guarujá, como gastar parte do seu tempo justificando para a imprensa a incômoda frase que soa hoje como uma gafe.