Em 1998, na minha penúltima eleição para senador, conheci no Amapá uma repórter e apresentadora de televisão simpática, talentosa e inteligente. Era do Maranhão e fora contratada por uma equipe de TV para a campanha eleitoral do Amapá. Sorriso aberto, alegria sempre nos lábios. Era uma moça negra que transmitia aos telespectadores segurança e uma presença carinhosa. De grande coração, alegre, solidária.
A reencontrei
Andréas não desejava que Hannah - alfabetizada em alemão - esquecesse a língua da terra onde nascera e com ela conversava todas as noites, contando histórias dos lagos de Hamburgo e das bruxas da Baviera. Como no poema de Raul Bopp, longe da pátria, ela ficava no colo e pedia: "Papai, conta-me histórias". Ele foi para o Amazonas e estava feliz porque ia conhecer uma nova tribo no Xingu. Ligou entusiasmado, anunciou à filha as histórias que iria contar quando chegasse a Brasília no dia seguinte. Metódico, marcou hora: 20 horas e 30 minutos. "Vá me buscar no aeroporto".
Sua filha brincava com outras amigas no pátio do prédio onde mora. Às 16h30, a menina Hannah parou e disse às colegas: "O avião de meu pai explodiu". Todas ficaram curiosas. Hannah não disse mais nada e continuou a brincar.
Dalva foi ao aeroporto receber Andréas. Esperou, foi à companhia aérea e, da angústia, passou ao desespero. Como dizer à filha? Hannah deve saber tudo. Por que tramas do destino ela soubera que o avião de seu pai tinha explodido? Quando sua mãe em prantos contou-lhe a verdade, ela pediu-lhe para não chorar: "Papai em breve vai voltar".
Essa moça pobre do Maranhão, que lutou para formar-se, apaixonou-se, casou, viveu o sonho de um príncipe encantado louro e teve uma princesa loura de cabelos crespos. Seu marido lutou no Kosovo e não morreu.
Vem um Legacy, em rotas de milhares de milhas, e num segundo, numa entre bilhões de probabilidades, encontra-se com o Boeing
Como dizia Drummond: "mundo, vasto mundo…"
Jornal do Brasil (Rio de Janeiro) 06/10/2006