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Candidatura empacada

 

Se a medida para avaliar o potencial de uma candidatura é sua capacidade de agregar apoios partidários, a de Fernando Haddad à prefeitura paulistana continua empacada. Até o momento, nenhum partido aceitou fazer uma aliança com o PT para a disputa municipal, o que diz muito da desconfiança com que os políticos a estão tratando, mesmo tendo Lula como seu fiador.

Restam PSB e PCdoB como chances de aliança política para engordar o tempo de televisão e rádio na propaganda eleitoral gratuita. O PSB paulista, que fazia parte da base aliada do governador Geraldo Alckmin, prefere majoritariamente apoiar José Serra, e o governador Eduardo Campos está tendo que intervir para mudar essa tendência, atendendo ao pedido de Lula.

E o PCdoB tem em Netinho um candidato de fôlego curto, mas que pode ter uma base de votos importante para a eleição de vereadores e uma negociação no segundo turno. A tendência, no entanto, é que os dois partidos acabem aderindo à candidatura Haddad, mas o PSB fará isso sem entusiasmo.

Partidos da base aliada ou estão com o tucano José Serra, como o PV e o PR, ou estão tratando de suas próprias candidaturas, como o PMDB com Gabriel Chalita, o PP com Celso Russomanno ou até mesmo o PDT com Paulinho da Força.

É que, em circunstâncias como esta, é mais fácil ter uma candidatura própria para se resguardar para o segundo turno do que enfrentar diretamente Lula, negando-se a fazer a aliança, como fez o PR. Mas o PR tem razões próprias para demonstrar seu descontentamento com o governo.

O apoio do PR à candidatura à Prefeitura de São Paulo de José Serra, provocando lamentações no próprio ex-presidente Lula, que tentou em vão levar o partido para apoiar Fernando Haddad, o candidato petista que ele inventou, é exemplar da bagunça em que se transformou nosso sistema partidário.

O minuto e meio a que o PR tem direito na propaganda eleitoral gratuita de rádio e televisão faz com que o passado do partido seja absolvido em qualquer coligação partidária, seja do PSDB, seja do PT.

Afastado do governo Dilma por acusações de corrupção, o ex-ministro Alfredo Nascimento continua atuando como grande cacique político, barganhando os minutos que seu partido tem país afora, sem que o programa partidário ou a ideologia tenham alguma coisa a ver com as coligações que vai fechando.

O tucano Serra diz que faz acordos com partidos, não pessoas, para exorcizar a presença no PR do mensaleiro Waldemar da Costa Neto nos bastidores da negociação.

Já Lula considera estranho que o PR, estando na base aliada de Dilma, apoie um candidato tucano à prefeitura paulistana.

Enfim, uma verdadeira geleia geral que só pode resultar em governos sem espinha dorsal e, sobretudo, sem valores a defender.

O PMDB acredita que seu candidato, Gabriel Chalita, tem mais chances de ir para o segundo turno que Haddad e faz o jogo da coligação para contar com o apoio do PT num segundo turno contra Serra.

Se o caso é de apresentar um candidato "novo", então Chalita tem melhores condições do que Haddad, pois, além de ter um ar mais jovem que o do petista, tem mais experiência política, já tendo sido testado com sucesso nas urnas.

Essa estratégia de contrapor o "novo" ao "velho", tratando o candidato tucano como "desgastado", como disse Lula a seu respeito no "Programa do Ratinho", só tem despertado a indignação da senadora Marta Suplicy, barrada por Lula na pretensão de ser novamente candidata a prefeita justamente sob o argumento de que o partido precisaria de uma figura "nova" para sinalizar ao eleitorado que algo havia mudado.

Tudo isso para marcar a idade do candidato tucano, pois José Serra tem 70 anos, enquanto Fernando Haddad tem 49, mas atingindo a veterana senadora.

Acontece que a questão não deveria se resumir à idade do candidato, mas à maneira nova de fazer política, e isso até agora não se viu na campanha petista e, ouso dizer, não se verá, pois ela é fruto do mais antigo modelo de fazer política, a imposição pelo "cacique" de um nome de sua preferência, sem que as bases partidárias possam dar sua opinião.

Se uma prévia fosse feita, é provável que a senadora Marta Suplicy a vencesse com sobras, mesmo com Lula apoiando Haddad.

O PT fez em São Paulo o que está fazendo em Recife, onde desrespeitou as prévias para impedir a candidatura à reeleição do prefeito João da Costa.

Da conspiração para fazer do senador Humberto Costa o candidato oficial participa também o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que se oferece ao eleitorado como uma liderança jovem e renovadora, mas que tem hábitos de oligarca, seguindo a tradição de seu avô Miguel Arraes.

Hábitos, aliás, que Lula critica nos discursos de palanque, mas adota com grande gosto. Entre o que Lula diz e o que faz, apoiando as grandes oligarquias nacionais, como a dos Sarney no Maranhão, vai uma grande diferença.

Em São Paulo, Serra, o político "velho", que já concorreu três vezes à prefeitura, tendo sido eleito em uma delas, teve que disputar uma prévia dentro do PSDB pela primeira vez para concorrer, numa demonstração de que os "velhos" hábitos podem ser modificados, desde que se queira.

Na coluna de ontem, escrevi que a prescrição da pena por formação de quadrilha equivaleria a uma absolvição, o que só ocorreria se se tratasse da prescrição pelo máximo da pena cominada.

A hipótese que pode ocorrer é da chamada "prescrição retroativa", que considera a pena aplicada, a chamada "pena em concreto", se ela for de até dois anos.

Assim, deverão constar no acórdão a condenação e a seguir a declaração de extinção de punibilidade, o que não equivale a uma absolvição.

A situação do deputado João Paulo Cunha e dos demais mensaleiros, se condenados, é muito mais grave do que a inclusão na Lei da Ficha Limpa.

Eles terão seus direitos políticos suspensos enquanto perdurarem os efeitos da pena, nos termos do artigo 15, inciso III, da Constituição da República. Sequer poderão votar.

O Globo, 6/6/2012