A passagem da comitiva brasileira que acompanhou a primeira participação do presidente Michel Temer na abertura da Assembleia-Geral da ONU em Nova York deixou boas impressões nos investidores, mas ainda falta o novo governo demonstrar capacidade política e de organização para implementar seus programas de privatização e controle de gastos públicos.
O presidente Temer, por sinal, foi quem mais surpreendeu positivamente, com posições firmes à respeito de temas polêmicos, como a capacidade de aprovar no Congresso as reformas estruturais que darão o norte do novo governo, como o controle dos gastos públicos.
Mas ficou ainda a sensação de que a realidade brasiliense pode ser mais forte do que as palavras e boas intenções do novo governo. As imprecisões e falhas de organização continuaram sendo marcas brasileiras. Nas reuniões sobre Parcerias para Infraestrutura, coordenadas pelo secretário Moreira Franco, queaconteceram em três grupos de 40 patrocinadas pelo Bank of America, Goldman Sachs e Citi, no Hotel Plaza Athené, ficou a boa impressão, uma “excelente manifestação de novas intenções e princípios no nível da microeconomia”, na definição de um dos presentes.
Moreira Franco foi muito claro na autocrítica sobre erros passados, tanto do ponto de vista ideológico quanto processual. A reunião, contudo, foi pouco eficaz na opinião geral, porque deveria ter sido estruturado no nível "macro" com ministros, e outra mais específica com executivos do governo que conhecem (ou pelo menos, deveriam conhecer) o tema.
A organização foi frágil porque, apesar do envolvimento dos bancos americanos, toda a orquestração ficou por conta da Apex e Brain (uma organização patrocinada pela Bovespa). Tudo funcionou, “ou não funcionou” ao estilo brasileiro, a começar que nenhum dos três ministros fala inglês: além de Moreira Franco, participaram das reuniões o ministro das Minas e Energia Fernando Bezerra e o de Transportes Mauricio Quintella.
Todos demonstraram conhecer a carta de princípios, mas pouco sobre a execução. Mesmo no nível de princípios existem vícios do estado brasileiro, na opinião dos investidores - extrema dependência de Bando do Brasil e Caixa Econômica, além de BNDES -; falta de um time competente de executivos para operacionalizar tudo e, principalmente, superficialidade e fragilidade quanto ao processo de financiamento.
Os investidores, ainda traumatizados com experiências nos governos petistas, tinham uma grande questão do ponto de vista de credibilidade, especialmente os em infraestrutura, investimentos de longuíssimo prazo: qual a garantia de que em 2018 não volte Lula ou outro ideólogo de esquerda e repita o que a Dilma fez com investimentos tipo Energia Elétrica, rodovias, etc.
Esta, porém, é uma garantia que nenhum governo democrático pode dar, ou deve dar. Mas algumas mudanças que mostrem um novo caminho foram colocadas. É preciso uma nova estrutura de órgãos reguladores, com compromissos que sejam independentes do governo incumbente, segurança jurídica e política.
Apesar das ressalvas, a maioria considerou um bom início, mas ficou a sensação de que daqui para adiante precisam chegar de forma mais profissional e convincente. A reunião de Temer e ministros com 400 líderes, no hotel St Regis, foi organizada pelo Council of the Americas e Brazilian Chamber of Commerce. O presidente falou de improviso por cerca de 20 minutos. Foi preciso, assertivo, firme no que se refere à agenda econômica e de comércio internacional, na avaliação geral, deixando uma impressão “muito boa”.
Apesar disto, ficou em aberto o compromisso do Temer com a nova ordem ética do Brasil. Os investidores não parecem muito confiantes de que Temer e o PMDB representem uma garantia de que o esquema de corrupção encontrado pela Lava-Jato não vá continuar. Por isso Temer teve que apagar incêndio, desautorizando seu ministro Geddell Vieira Lima, que havia dado uma declaração a favor da anistia para os políticos que usaram Caixa 2 em suas campanhas eleitorais, alegando que “não é crime”.
O ministro Henrique Meirelles foi o único que falou em inglês, (além do chanceler José Serra) e agradou, como era esperado: firme, claro, otimista com relação à aprovação das reformas no Congresso. Transmitiu muita credibilidade. Mas persiste a dúvida se Temer terá a mesma coragem em Brasília, e conseguirá fazer algo para mudar os trejeitos da capital, na definição de um dos participantes, e do time do senador Renan Calheiros, que é a grande incógnita para os investidores depois de suas investidas contra a Lava-Jato, embora sub-reptícias e cheias de dubiedades.
Mesmo porque, apesar de todas as garantias que o presidente Michel Temer deu sobre a aprovação da PEC de controle de gastos, diversos partidos da base aliada já começam a se mexer para fazer alterações. E muitos relutam em fechar questão em torno do projeto do governo.