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Amor e paixão

 

Amor que acaba não foi amor. Paixão que acaba continua sendo paixão. Não cultivo o gênero da frase pela frase, embora admire os grandes frasistas, que são abundantes no ofício das letras. Dois deles são mais do que famosos, eles foram meus amigos e sempre que posso gosto de citá-los. Poderia aumentar a lista dos grandes frasistas, lembrando o padre Vieira, o Eça de Queirós e, especialmente, o famoso técnico de futebol Gentil Cardoso. 

Conhecida a frase de Neném Prancha: "Pênalti é tão importante que quem devia cobrá-lo era o presidente do clube". Pessoalmente, não a considero boa, mas é repetida com ou sem propósito. No entanto, adoro uma frase de Gentil Cardoso, endereçada aos jogadores dos times que dirige: "Quem se desloca recebe; quem pede tem preferência". Pensando bem, ela serve para qualquer situação, na política, nas finanças e até na literatura. 

Volto à frase inicial desta crônica, livrando o Nelson e o Otto da responsabilidade. Ela é minha mesmo apenas na segunda parte, que se refere à paixão. Ao longo da vida, tive paixões, algumas abomináveis, por exemplo, bife com batatas fritas, o Fluminense Futebol Clube e iscas de fígado e outras paixões. Todas terminaram e não foram substituídas. 

Difícil classificar o amor e a paixão no que diz respeito às mulheres. Interiormente, faço uma confusão egoísta e sábia misturando tudo e ficando com nada. Culpa da má argila com que fui feito. O diabo é que transfiro umas por outras, no fundo desconfiando que eu nunca amei nem me apaixonei. 

Antes que eu me esqueça, abro exceção. Quando era seminarista e usava batina, vi uma moça num trem que vinha para o Rio e ela ia para São Paulo. Admirada de ver um jovem de vinte anos usando batina, ela me olhou surpreendida. Eu também a olhei e nunca a esqueci.

Folha de S. Paulo (RJ), 01/03/2015