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Amar os outros como a si mesmo

 

Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), em seu "Diário Secreto", Humberto de Campos, o maior cronista da época, comenta um telegrama da agência de noticias Reuters, narrando a noite de Natal vivida por franceses e alemães. Como se sabe, aquela guerra foi basicamente uma guerra de trincheiras: os alemães de um lado e os franceses de outro. A terra de ninguém, entre os dois combatentes, era mais ou menos de 100 metros.

Numa noite de Natal daqueles anos, por volta da meia-noite, os dois lados combatentes pararam o tiroteio e cantaram simultaneamente, uns em alemão, outros em francês, o hino oficial daquela data: "Noite Feliz". Terminado o hino praticamente universal, o tiroteio recomeçou com uma espantosa ferocidade.

Alguns historiadores garantem que, apesar das trincheiras, foi uma das batalhas mais ferozes daquela guerra. Os soldados de um lado eram da Baviera, a região mais católica da Alemanha. Os franceses também eram católicos, nascidos na "filha primogênita da Igreja" que era a França.

Em princípio, qualquer guerra é absurda e mancha para sempre a história dos países que desejam eliminar o inimigo. Muitas vezes inutilmente, com o tempo se tornam amigos, embora com divergências que não provocam lutas fratricidas.

Entende-se uma guerra entre crentes antagônicos: é o caso das lutas entre devotos de Cristo e de Maomé. Estes últimos chegaram a formar um Estado Islâmico, que agora optou pelo terrorismo. Por sua vez, os cristãos promoveram cruzadas para eliminar o adversário maometano.

Mesmo assim, pelo menos naquela noite sagrada, embora pelo espaço de uma canção, os dois adversários encontraram um momento comum e breve para saudar aquele que ensinou: devemos amar o próximo como a nós mesmos. 

Folha de S.Paulo (RJ), 25/12/2016