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Alto risco

 

A situação brasileira é tão complicada que é possível surgirem as soluções mais estapafúrdias diante da evidência de que a cada dia este governo perde um pouco sua capacidade de atuar, o que poderia ser chamado de governança, já que governabilidade ainda existe pois não foi dissolvida formalmente a base aliada que comanda os ministérios e órgãos públicos.

Ontem em Brasília, diante da realidade de que ninguém tinha confiança de garantir que os vetos presidenciais não seriam derrubados por um Congresso virtualmente fora de controle, partiu-se para adiar a sessão em que eles seriam analisados, numa demonstração clara de que já não existem líderes partidários capazes de responder integralmente por seus deputados e senadores.

A reação do mercado foi imediata, o dólar passou de R$ 4 e o Palácio do Planalto passou a acionar deputados e senadores com uma orientação oposta: era preciso colocar em votação para dar uma demonstração de força.

Mas entre colocar para votar e conseguir manter os vetos há uma distância grande, e o próprio ministro da Fazenda Joaquim Levy passou a telefonar para líderes tucanos, sua antiga grei, pedindo apoio.

Paradoxalmente, a presidente da República, cuja permanência no cargo está em xeque, colabora para uma instabilidade maior quando resolve fazer uma reforma ministerial em meio a essa crise e, rejeitada pelo comando do maior partido da coalizão, resolve oferecer ministérios diretamente para as bases partidárias.

O PMDB deu seu recado claro através do vice-presidente Michel Temer: o melhor seria não fazer reforma nenhuma no momento, e sua direção se recusa a negociar caso a reforma venha a acontecer.  

A presidente Dilma decidiu então partir para buscar apoios isolados dentro do partido, colocando num balcão imaginário cargos que estão à disposição de líderes secundários, que se aceitarem estarão fazendo uso pessoal do que resta do governo enquanto podem, sem condições de garantir o pagamento que o governo necessita com mais urgência no momento, apoio parlamentar.

A presidente Dilma já havia feito coisa semelhante ao pedir que a ministra da Agricultura Katia Abreu atuasse junto à base do PMDB para garantir um bloco anti-impeachment no Congresso.

Ora, Katia Abreu pode ser uma liderança do setor agrícola, mas não é uma liderança política reconhecida no seu próprio partido, e essa tarefa de negociadora dentro do PMDB irritou lideranças mais tradicionais que foram deixadas de fora.  

O Globo, 23/09/2015