A denúncia de formação de um cartel nas licitações de obras do metrô em São Paulo desde a gestão do governador Mario Covas colocou na agenda eleitoral um obstáculo importante para o PSDB. Os principais caciques do partido estão sendo atingidos pelas denúncias, que cobririam os governos Covas, Alckmin e José Serra.
As duas principais seções regionais do partido terão que enfrentar acusações de corrupção no decorrer da campanha, com o provável julgamento da atuação do lobista Marcos Valério na eleição para governador de Minas Gerais em 1998 que atinge diretamente o então presidente do partido, hoje deputado federal Eduardo Azeredo, no que ficou conhecido como “o mensalão tucano”.
A denúncia do cartel partiu da multinacional alemã Siemens, que teria apresentado provas às autoridades do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), num acordo de leniência que preservaria a empresa de punições. Por enquanto a investigação se limita a manobras ilegais de diversas empresas para evitar concorrências nas licitações, sem que o aspecto criminal esteja em pauta, pois esta não é a função do CADE.
Mas o Ministério Público de São Paulo estaria oferecendo o benefício da delação premiada para que funcionários da empresa alemã denunciem as autoridades que teriam recebido propinas nesse período. É muito provável que não tenha havido apenas combinações entre as empresas, como o governador Geraldo Alckmin trata o assunto, mas corrupção envolvendo secretários de Estado, presidentes e diretores de estatais.
O secretário de Transportes do Governo Covas, Cláudio de Senna Frederico, diz que não soube do cartel, mas fez um adendo preocupante: “Não me lembro de ter acontecido uma licitação, de fato, competitiva”. Ele tentou explicar que essas licitações, envolvendo grandes obras e empresas multinacionais geralmente são combinadas no mundo inteiro, mas essa não é uma desculpa aceitável de uma autoridade pública.
O pior dos mundos para a democracia seria se ficar provado o que os petistas chapa-branca já dão como certo nos blogs e noticiários oficiais: que o esquema seria uma espécie de irrigação permanente de dinheiro ilegal para as campanhas eleitorais dos tucanos desde o governo Covas.
A reação do PSDB paulista, de acusar o CADE de estar atuando como “polícia política” do governo petista, fazendo vazamentos seletivos do processo para prejudicá-los, é comum a todos os partidos denunciados, que costumam posar de vítimas para acusar adversários de perseguição política.
É evidente que as investigações contra os governos do PSDB são prejudiciais ao partido, assim como o processo do mensalão prejudica o PT. Não há dúvidas de que os vazamentos são ataques perversos, pois não dão a idéia de um quadro geral e jogam a suspeita sem que seja possível uma defesa coerente. Mas fazem parte do jogo democrático da livre informação.
Os dois partidos disputarão as eleições de 2014 tendo que se defender de acusações de corrupção, restando ao eleitor relativizar a importância de cada um dos escândalos ou escolher uma alternativa. A ex-ministra Marina Silva é quem mais uma vez se sairá melhor nesse quesito, e o governador de Pernambuco Eduardo Campos tem contra si apenas escândalos regionais.
Nosferatu
A respeito da coluna de domingo “O Estado-babá”, o diretor da ANVISA José Agenor Álvares da Silva esclarece que não se referiu com a designação de Nosferatu “a nenhum dos presentes à reunião da Diretoria Colegiada realizada no dia 30 de julho passado”, mas sim “à indústria do tabaco, que é o vetor da maior causa de mortes evitáveis no mundo e responsável por mais de 6 milhões de mortes por ano”. O texto de seu voto,na parte em questão, é o seguinte:
“Como enfrentar esse “Nosferatu” que sobrevive cada vez mais forte e viaja através dos tempos para aportar no século XXI mais resoluto, mais pujante e com os caninos afiados para enterrar na garganta da sociedade mundial e sugar a vida de pessoas jovens e cheias de esperança por um futuro melhor?
O Globo, 6/8/2013