Sérgio Moro, ao ordenar a condução coercitiva do ex-presidente, acabou por inflamar os ativistas contra e a favor, estimulando a tão indesejada radicalização.
Além de devolver a Lula o palanque, as ruas e a disposição de uma jararaca da qual cortaram o rabo e deixaram a cabeça, como ele mesmo se autodenominou, o juiz Sérgio Moro, ao ordenar a condução coercitiva do ex-presidente, acabou por inflamar os ativistas contra e a favor, estimulando a tão indesejada radicalização, numa prévia do que pode vir por aí: a transformação do espaço público num campo de batalha. O tumulto, as agressões até a jornalistas, as pancadarias que ocorreram logo em seguida à operação de sexta-feira passada provocaram um efeito contrário ao pretendido pelo mandado do magistrado, que era “preservar a ordem pública”, impedindo que se repetissem os violentos incidentes ocorridos no mês passado. Se não houve a má intenção denunciada pelos petistas, houve pelo menos um lamentável erro de cálculo, além de soberba e precipitação. A legalidade ou não da ação tem sido discutida por advogados e juristas, com críticas e apoios. O ministro Marco Aurélio Mello, do STF, por exemplo, foi contra, explicando que esse devia ser o “último recurso” e que não há notícia de que Lula tenha se recusado a prestar depoimento.
É um debate técnico para iniciados, mas, do ponto de vista político, o que não se discute é que o resultado serviu para o PT “levantar a cabeça” e mobilizar os que estavam sem motivação, usando a estratégia que a ex-senadora Marina Silva chamou de “apologia do confronto” de quem se encontra sitiado pelos fatos. A verdade é que aumentou o clima de tensão e beligerância, inclusive em Brasília. O líder do governo na Câmara, José Guimarães, conclamou “todos os militantes a irem para as ruas”. O senador Lindbergh Farias usou uma imagem bem condizente com o atual estado de espírito, ao afirmar que os seus companheiros agora estão com a “faca nos dentes”. Ou seja, estão com o corpo pintado para a guerra, acreditando que a Lava-Jato é direcionada especialmente contra o Partido dos Trabalhadores. E isso sem que se leve a sério os surtos de paranoia como o do deputado Wadih Damous, que está vendo um “golpe articulado” por setores do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal, junto, claro, com os “grandes meios de comunicação”. O que não falta é imaginação conspiratória.
Por outro lado, partidos de oposição prometem obstruir as votações até que a comissão de impeachment seja instalada. E há mais delações à vista. Resta pedir a Deus para que as manifestações de rua programadas para breve não saiam do controle e agravem a nossa crise — se é que Ele aceita se meter nesse beco sem saída. Acho que é bem provável que diga: “Me inclui fora dessa”.