Como uma predestinação, o Sr. Murilo Melo Filho jamais pensou em outra profissão que não fosse o Jornalismo. Assim realizou uma belíssima e consagradora carreira.
Viestes do vosso amado Rio Grande do Norte, para conquistar a cidade cosmopolita e misteriosa; penastes, naquele início espinhoso dos nordestinos, para depois vos consagrar como um astro de primeira grandeza nessa atividade sacrificada e, ao mesmo tempo, gratificante. Hoje, sois seguramente um dos maiores jornalistas políticos do País, com uma notável aura de credibilidade e respeito.
Nossa amizade data dos primeiros tempos da revista Manchete. Transferido por Adolpho Bloch para Brasília, antes mesmo da inauguração da Capital, respirastes com dificuldade a poeira vermelha da tabatinga, que se tornou o combustível da vossa integral adesão ao sonho maior de Juscelino Kubitschek de Oliveira, vosso grande e querido amigo.
Eram tempos difíceis. Formara-se uma poderosa resistência à construção de Brasília, muitos chegando a considerá-la uma loucura. Com a identificação de Bloch ao projeto de JK, sem que tenha auferido qualquer vantagem material, fostes deslocado para o Planalto Central. O então Chefe de Reportagem recebia as matérias destinadas à revista, ao lado da vossa atraente e saudosa seção de notas curtas, intitulada “Posto de Escuta”. Fostes pioneiro nesse tipo de Jornalismo.
Ao recordar esses tempos gloriosos, vividos na companhia da vossa dedicada Norma, posso contar um fato que presenciei, no final da década de 50. Adolpho Bloch, com o seu jeito muito peculiar, de olhos baixos, resmungou, enviando um bilhete para o jovem repórter:
“Murilo, aí vai a nossa lancha para Brasília. Não faça economia em matéria de relações públicas. Use-a à vontade no lago. Por falta de relações públicas, os judeus perderam Jesus Cristo.”
E completou:
“Um homem daqueles nós jamais deveríamos ter perdido.”
Como jornalista, seguistes as instruções do chefe, para vos tornar um ponto de referência na Capital. Escrevendo de forma rápida, com um estilo pessoal inconfundível e dono de uma integridade insuperável, logo vos tornastes o principal arauto da construção, vivendo tempos gloriosos. Se o brasileiro, a partir daí, adquiriu uma patriótica autoestima, pode-se creditar-vos uma fundamental parcela, aliás, sempre reconhecida por JK, sobretudo depois que, vítima da inveja e do receio do retorno, foi lamentavelmente cassado por algozes que se perderam no tempo e no espaço. Quem deles hoje se lembra?
Alongando um pouco mais esse momento da vida do nosso novo acadêmico, devo contar um segredo jamais revelado. JK foi acusado seguidamente de ser dono da sétima fortuna do mundo. Teria tanto dinheiro que desconheceria o total. Tudo intriga. Juscelino era um homem inteiramente voltado para a sua obra. Aí, sim, considerava-se um milionário, e a história provou isso.
Quando foi cassado, vítima de um ato político da pior inspiração, precisou sair do País (com o que jamais se conformou) e não dispunha de mínimos recursos para se sustentar lá fora. Vivemos, então, eu e o Sr. Murilo Melo Filho, uma terrível experiência. Seguidas vezes, viajamos para a Europa e os Estados Unidos, como emissários de Adolpho Bloch, levando pequenas quantias em dinheiro, para que JK tivesse um mínimo de conforto no seu triste exílio. Lembro da nossa chegada, de uma feita, em Nova York. Ele estava numa aula de inglês, fez questão de nos receber, sobretudo porque morria de saudades da terra e queria notícias frescas.
Deve-se frisar que esses gestos não eram de retribuição por benefícios recebidos, até porque isso nunca houve. A revista era grata ao desenvolvimento operado na Era JK, o que propiciou a ampliação das suas tiragens, até chegar a incríveis 250 mil exemplares semanais, enquanto os seus concorrentes desciam de circulação em virtude de críticas amargas que faziam à construção da nova Capital.
Devo saudar, neste momento de glória do Sr. Murilo Melo Filho, também a vossa personalidade reta, sem medo, amiga, um homem talhado para o convívio dos que hoje fazem da Casa de Machado de Assis parte ponderável das suas vidas.
O ESCRITOR
Destacado jornalista, nem por isso deixastes de inscrever o vosso nome na galeria dos grandes ensaístas brasileiros, no campo da Comunicação. Autor de doze livros, o primeiro dos quais fizemos em parceria: Cinco Dias de Junho, em 1967. Fui buscar na minha biblioteca o autógrafo com que vós, na ocasião, me homenageastes: “Ao irmão, coautor e principal responsável por este cometimento, o abraço fraterno do Murilo.”
Depois vieram outros êxitos literários, como Reportagens que Abalaram o Brasil e O Assunto é Padre, em regime de coautoria. Para chegar ao vosso clássico O Desafio Brasileiro, que alcançou 16 edições, com quase 100 mil exemplares. A razão desse sucesso? A análise realista, que fizestes, em 1970, das virtualidades do nosso país. Para concluir, a trinta anos do final do milênio, com uma visão objetiva do Brasil:
Temos problemas enormes. Mas quem não os tem? Até hoje, nenhuma nação, nenhuma empresa, nenhum indivíduo descobriu a fórmula mágica de progredir sem sacrificar-se... O Brasil continua falando demais e fazendo de menos... No fim deste século, teremos de prestar contas à nossa geração e dizer ao mundo se fomos competentes para construir uma grande sociedade ou se seremos sempre (e apenas) o país do futuro.
Sábias palavras, que ainda continuam atuais.
Na lista dos vossos livros, podemos acrescentar o The Brazilian Challenge e O Milagre Brasileiro, este com dez edições e 50 mil exemplares, além de prêmios da Academia Brasileira de Letras e da Câmara Brasileira do Livro. Depois vieram O Modelo Brasileiro, O Progresso Brasileiro, Memória Viva, Meu Rio Grande do Norte e o recente Testemunho Político, em que mostrais, na plenitude, a vossa vivência de repórter consagrado. Descreveis os bastidores da política brasileira, de 1930 a 1965, com o realismo de quem viveu os fatos “por dentro”, com intimidade, como talvez nenhum outro escritor ou jornalista tenha feito. Dissevos, depois de ler a vossa obra mais importante, que me sentia como se tivesse sido transportado, num tapete mágico, para a época em que tudo aconteceu. A instigante técnica de entremear, em cortes no tempo e desdobramentos paralelos, os episódios políticos tornou a obra ainda mais atraente. A ponto de merecer do Presidente e Acadêmico Barbosa Lima Sobrinho esta frase definitiva:
Estamos diante de uma preciosa obra de memorialística, em que se enlaçam decisivos fatos políticos com acontecimentos importantes na vida de um repórter nascido em Natal, nordestino como eu e que, também como eu, enfrentou tempos duros e difíceis no Rio de Janeiro.
Amigo íntimo do poeta Augusto Frederico Schmidt, que conheci em vossa casa, no bairro de Laranjeiras, dele recolhestes uma espécie de programa para o patriotismo de todas as horas. Está nestes versos em prosa:
O sinal terrível do nosso tempo é a
ausência de grandeza. Todos se
recusam a ser grandes. Não quero,
porém, que meu país seja um
mendigo ingrato, uma coisa
insignificante, ou a pátria dos
recalcados e dos raivosos, mas uma
nação positiva e criadora, amante
do seu destino.
A FAMÍLIA
Sou testemunha do quanto, Sr. Murilo Melo Filho, sois católico apostólico romano. Fizemos viagens, e em todas elas reservastes espaço, em geral bem cedo, para as missas de que jamais abristes mão. Esse fervor religioso é o mesmo da vossa amada Norma e dos filhos Nelson, Fátima e Sérgio, hoje felizes com a glória do seu patriarca.
Se os vossos pais Murilo Melo e Hermínia ainda estivessem no mundo dos vivos, certamente, vibrariam com esta solenidade; de toda forma, eles aqui estão representados pelos irmãos Carlos Herilo, Hênio, Elma, Ilma, Ana Emília e Eduardo, unidíssimos, como é característico das famílias nordestinas. Os vossos netos Janaína e Bernardo, ainda hoje inocentes, crescerão para entender na plenitude o significado de ser membro da Academia Brasileira de Letras.
Tendes um estilo próprio de escrever, o vosso português é de uma limpidez absoluta, o que naturalmente engrossará a relação dos imortais que se comprometem a lutar pela valorização da Língua Portuguesa, compromisso primeiro assumido por Machado de Assis ao aceitar a presidência da ABL.
Vivemos um momento de desrespeito ao nosso idioma. Enquanto outros países, como Portugal e França, demonstram grande interesse na aproximação com o Brasil até mesmo para enfrentar, nos limites da crescente latinidade, a extraordinária presença da Língua Inglesa, internamente sofremos o bombardeio do mau uso do vernáculo, que se faz de modo variado, na fala e na escrita.
Não se pode aceitar simplesmente a ideia de que o povo tem o direito de falar como quiser. Se assim fosse, teríamos de abandonar o entendimento do que seja norma culta, para apenas nos limitarmos à discutível dualidade do que é adequado ou não adequado. Uma forma de desintegrar o País, do ponto de vista linguístico, como se estivéssemos defendendo uma política tribal, em que os dialetos se dividem de forma desintegradora. Não é o que se deve pretender para o Brasil, cuja exemplar unidade é devida à manutenção do seu território e de uma língua única, aqui trabalhada de forma competente, durante os dois primeiros séculos da nossa existência, pela colaboração da Companhia de Jesus, responsável também pela unidade religiosa.
Se fomos competentes para chegar até os 500 anos com essas características de integração, falando a mesma língua que se entende em todo o País de 8,5 milhões de km2, não se pode hoje, em nome de um estranho modernismo, abrir mão dessa conquista. É a grande missão da Academia, na manutenção dos princípios que marcam a Língua Portuguesa.
Homem afeiçoadíssimo à família e à vossa cidade de Natal, Sr. Murilo Melo Filho, vivestes histórias antológicas. Como a que aconteceu com o vosso tio Múcio. Ele sempre desejou conhecer o Recife. Era o seu sonho de consumo. Passou meses preparando-se para o grande dia. Comprou um terno de linho branco S-120, sapatos de bico fino, um chapéu panamá especialíssimo e viajou alegre e feliz, não sem que antes a mulher tivesse feito mil recomendações, meio desconfiada de tanta preparação.
Ao chegar ao Recife, tio Múcio imaginou de que maneira poderia exibir tamanha elegância. Achou que só poderia ser no estribo de um bonde. Dito e feito: o bonde aproximou-se, e tio Múcio nem esperou que ele parasse no ponto. Agarrou-se no estribo, mas tinha chovido muito, estava escorregadio; ele acabou se estatelando no chão, bem em cima de uma poça de lama. O terno ficou sujo, o chapéu amassou, a elegância acabou-se. Só ocorreu a tio Múcio um pensamento, com o qual ele concluiu a sua aventura: “Nessa hora, lá em Natal, minha mulher deve estar dizendo: o Múcio tá é gozando o Recife...”
O REPÓRTER
Viestes para o Rio aos 18 anos, para tentar a vida. O vosso primeiro emprego foi no IBGE, depois no Ministério da Marinha, sempre como datilógrafo. Depois, começastes a vossa carreira jornalística. Correio da Noite, Tribuna de Imprensa, Jornal do Commercio, O Estado de S. Paulo, TV Rio e Manchete.
Talvez não exista outro repórter político, no Brasil, que tenha convivido com tantas e tão diversificadas personalidades. Fazem parte da relação: Carlos Lacerda, Café Filho, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros, João Goulart, Itamar Franco, José Sarney, Fernando Henrique Cardoso, além de John Kennedy, Richard Nixon, Ronald Reagan, Charles de Gaulle e Giscard d’Estaing.
Estivestes em algumas guerras localizadas, como as do Vietnã (1967), Camboja e Laos (1973), vivendo as emoções e os perigos a que somos levados pela irracionalidade humana. Mas tivestes a compensação de ver também os picos gelados de Zermat, na Suíça, e as planícies imensas da Califórnia, nos Estados Unidos; os desertos de Nevada e do Saara; os templos sagrados de Angfor e de Kyoto; os lugares exóticos de Bangkok e de Phnon-Penh; as geleiras de Anchorage no Polo Ártico e as tórridas plantações de cacau na Costa do Marfim; o frio de São Petersburgo e de Kiev e o calor bíblico da Galileia e do Mar Morto; o misticismo do Vaticano e de Jerusalém; as ruas do Harlem e do Cairo – enfim, boa parte do mundo a que pudestes ter acesso como repórter curioso e cheio de energia criadora.
Por isso mesmo, concordo com o Acadêmico Antonio Olinto, na conceituação do Jornalismo como “literatura sob pressão”. Afirmou o autor de A Casa da Água que a história literária e política do Brasil se acha tão intimamente ligada ao Jornalismo que não há um só acontecimento, avanço, mudança do País que a imprensa não tenha dirigido e comandado.
A partir de Hipólito José da Costa e culminando, já na Independência, com Evaristo da Veiga, levamos para as páginas periódicas toda a nossa problemática e nelas depositamos nossas esperanças e frustrações. Continuamos a fazer a mesma coisa ao longo dos últimos dois séculos. É natural, assim, que a Academia Brasileira de Letras se constituísse, desde o começo, de escritores que buscavam a transparência do jornal para discutir rumos e resolver os problemas imediatos do País.
Seguis, assim, a tradição de Hipólito José da Costa, de Evaristo da Veiga, de Carlos de Laet, de João do Rio, de Elmano Cardim, de Múcio Leão, para chegar ao nosso patriarca tão querido e respeitado que é Barbosa Lima Sobrinho, glória maior da Imprensa Brasileira de todos os tempos. E na vossa retidão que todos nos miramos e mais particularmente nos vossos cinquenta anos de Jornalismo combativo.
Na verdade, como nos disse o romancista e cronista Carlos Heitor Cony:
Murilo é jornalista desde o berço. Cedo ingressou na profissão que exerce com brilho e carisma. Atravessou a história recente do País, dela participando em alguns momentos cruciais, pois sua área preferencial foi o Jornalismo Político. Mas nunca usou a sua pena para proveito próprio ou para injustiçar quem quer que seja.
É um prêmio ao vosso caráter, por todos admirado. O autor de Quase Memória estende o comentário sobre o colega de profissão, com uma brilhante síntese: “Murilo maneja com sobriedade um estilo objetivo, elegante, correto nas informações, isento nos comentários. Sua obra é uma referência indispensável ao historiador e uma agradável leitura para qualquer leitor.”
Reconhecido pela vossa competência, fostes eleito membro titular do Pen Club do Brasil, numa histórica solenidade em que tive a honra de ser o orador, além de membro efetivo da Academia Norte-Riograndense de Letras, onde sucedestes a Nilo Pereira, na Cadeira 19. Como se fosse uma progressão natural, agora chegais, para nossa alegria, à Cadeira 20 da Academia Brasileira de Letras, sucedendo ao Acadêmico Aurélio de Lyra Tavares, um dos grandes historiadores do Exército Brasileiro.
A LATINIDADE
Acadêmico Murilo Melo Filho,
Estamos hoje aqui celebrando a glória da vossa entrada na Casa de Machado de Assis. Sou testemunha do vosso interesse pelo destino desta instituição e do carinho com que, como jornalista e escritor, colaborastes para a divulgação das suas teses, entre as quais a defesa da latinidade. Foram incontáveis as nossas conversas, na paradisíaca cidade de Teresópolis, sobre o que deve ser feito, no sentido de enriquecer a língua nascida em Roma e projetada com tanto vigor pelo mundo inteiro. O tema foi objeto de uma conferência, em março deste ano, na Universidade de Coimbra, em que buscamos a parceria de Portugal para o projeto de expansão da Língua Portuguesa, hoje falada por 200 milhões de pessoas. Por que não realizar um esforço especial e estratégico para o resgate da nossa importância junto a comunidades, como, por exemplo, as de Goa, Macau e Timor Leste, no sentido de fazê-las voltar plenamente à nossa cultura? Não seria uma boa razão para dar mais vida à Comunidade dos Povos de Língua Portuguesa, em que o Governo Brasileiro parece agora empenhado?
Na visita que nos fez, por ocasião da Bienal Internacional do Livro, o escritor José Saramago, laureado com o Prêmio Nobel de Literatura, afirmou enfaticamente: “Chegamos ao momento em que a História exige que tomemos decisões. Há uma grande ansiedade pelo destino da nossa língua. Qual é futuro da língua em que somos capazes, verdadeiramente, de pensar e de sentir?”
O autor de Memorial do Convento exigiu atitudes de todos nós. Palavras foram ditas, em diversas ocasiões, mas não significaram a abertura de portas. “Não se andou um passo”, disse ele. Propôs – e foi aceito pela Academia Brasileira de Letras que andássemos juntos, para levar os livros às pessoas. Livros mais baratos e de distribuição generosa, como se poderia tratar numa original feira só de escritores do mundo lusófono, a realizar-se no Rio de Janeiro, iniciativa a que imediatamente demos a nossa total adesão. Isso significa, Sr. Murilo Melo Filho, que algo começou a mudar, e é para esse desafio que sois convocado, logo de saída, como se fosse o compromisso número um da vossa vida acadêmica, que certamente será fecunda, como é característica da vossa existência.
Latinidade e globalização constituem expressões que devem caminhar juntas, em nossa preocupação. A União Latina, pelo que nos conta o Embaixador Geraldo Cavalcanti, está empenhada na valorização dos países de língua e cultura latina, fiéis a valores espirituais fundados na civilização humanista, que devemos respeitar, ao lado dos notórios avanços científicos e tecnológicos da humanidade. Nada será mais importante do que fazer avançar a ciência sem prejuízo dos códigos que coloquem o homem no centro de todas as nossas preocupações. É com essa visão muito nítida que devemos buscar o futuro da Humanidade.
Segundo René-Jean Dupuy, da Academia de Direito Internacional de Haia, “para o latino, a História é herança e não profecia. O latino acredita na inteligência e na virtude do raciocínio, mas não para privilegiar a teoria e sim para aproveitar a experiência”. Podemos conceituar, como Jorge Luis Borges, que a latinidade não tem e nem deve ter qualquer sentido étnico.
Se pensarmos na força do pluralismo linguístico, sob inspiração da latinidade, dentro de dez anos poderemos ter 500 milhões de falantes do Espanhol, 250 milhões os de Francês e 280 milhões os de Português, totalizando mais de 1 bilhão de falantes de línguas latinas, ou seja, cerca de 18% da população mundial, ocupando uma área correspondente a 26% da superfície terrestre. Já imaginastes o que isso pode representar em termos de cultivo da nossa civilização e do que ela representará para a Humanidade?
Temos um compromisso civilizatório mais que evidente. Como a montagem de um banco de dados linguísticos, em que o português participaria com 400 mil termos (só o nosso Vocabulário Ortográfico registra 360 mil), o mesmo número para o Italiano e 350 mil para o Espanhol, além de 60 mil para o Romeno. A União Latina empenha-se na realização desse projeto, que pode nos unir, da mesma forma que tentamos, em nossa comunidade, o Acordo Ortográfico de Unificação da Língua Portuguesa, que um dia se tornará realidade, com respeito à proclamada variedade cultural que nasceu com o modelo político instaurado pela civilização romana. São fatos e desafios que respondem pela nossa fidelidade à civilização latina.
CONCLUSÃO
Acadêmico Murilo Melo Filho,
Nós vos recebemos de braços abertos e o coração cheio de esperança. Sabemos da vossa disposição de colaborar e o entusiasmo com que aderis a todas as nobres causas em que vos tendes empenhado. A Academia Brasileira e de Letras precisa da vossa energia e do vosso talento, no cumprimento das missões estatutárias que marcam a sua trajetória, a partir da inspiração dos seus primeiros líderes, à frente dos quais lembramos Lúcio de Mendonça, Joaquim Nabuco e Machado de Assis.
A chegada de mais um membro efetivo é sempre motivo de muito regozijo, especialmente quando se trata de uma personalidade com tantas e notáveis qualidades morais e profissionais.
Sede bem-vindo à Casa de Machado de Assis, que vos abraça com a certeza de que ganha uma figura verdadeiramente notável da Cultura Brasileira. Estamos todos felizes.
07 de junho de 1999