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Discurso de posse

DISCURSO DO SR. MÁRIO DE ALENCAR

Senhores:

Permiti que só vos diga o meu agradecimento depois de ter cumprido a tarefa inicial, que me incumbe, de falar-vos sobre o companheiro ilustre, a quem me foi dado suceder nesta Casa. É um dever de tamanho peso, tão desproporcionado aos recursos da minha inteligência e do meu esforço, que, não obstante a honra de que ele agora me investe, quase me arrependo da haver solicitado e merecido a indulgência dos vossos sufrágios.

Conheceis tanto como eu, ou melhor do que eu, o contraste imenso entre a minha fraqueza e a força daquele engenho, entre a minha timidez e aquela ousadia, aquela confiança e resistência de animo, aquele extraordinário poder de palavra, que deu a José do Patrocínio, no último quartel do século XIX, a preeminência aos homens de luta na imprensa e na tribuna popular deste país.

Mais fácil seria o meu trabalho, se tivesse de falar-vos somente do romancista que ele foi e do poeta que ele não quis ser. Preferiu a glória menos duradoura e os cuidados mais terrenos de jornalista e de escritor político. Foi um homem de ação social, e o estudo da sua obra e da sua vida não deve excluir a apreciação do seu caráter de homem. Não possuindo as qualidades que o fizeram forte, receio, por não compreendê-las, apreciá-lo mal. Relevareis, porém, os meus erros e a minha incapacidade, se ponderardes que nada é tão difícil, tão complexo, tão sujeita ao engano, como o delinear um caráter e particularmente o de um homem que viveu no nosso tempo, ao nosso lado e entre as nossas paixões.

Não seguirei a regra usada na biografia dos homens notáveis, de procurar nos antecedentes de família e nos atos da infância a razão, os sinais e os vestígios do destino deles. Se fosse infalível este princípio de psicologia aplicada, ver-me-ia agora em grandes dificuldades para explicar-vos os indícios da formação do jornalista e do orador no obscuro comércio de uma quitanda e na tranqüilidade beata de uma igreja de província. A minha perspicácia iria quando muito achar na desenvoltura e na ginástica de um galopim o segredo da intrepidez e da perícia do polemista futuro.

Confesso-vos, porém, a minha incredulidade no efeito dessas influências nativas e dos primeiros anos: creio mais na força do acaso, que é a nossa providência ou a nossa ignorância, e que fez de Patrocínio um pujante escritor, apesar do seu berço miserável e da sua infância mal protegida pelas negligências de uma batina. A vivacidade dos seus grandes olhos iluminados de doçura e inteligência, valeu-lhe o carinho o cuidado de protetores mais eficazes na primeira idade de menino; mas o ter vencido na vida, o ter transformado um nome comum e sem raiz no nome glorioso e imortal que nos deixou, deveu-o ele principalmente a si mesmo, à sua vontade, à sua coragem, ao seu talento e ao seu amor do estudo.

Aos treze anos veio de Campos para esta cidade e aqui se empregou como servente-aprendiz de Farmácia no hospital da Misericórdia. Tinha casa e comida e dois mil réis por mês pagos pelos seus companheiros, aos quais substituía nos plantões de domingo; e do vigário de Campos recebia a mesada de dezesseis mil réis. Era mais do que tinha no desconforto e na miséria da quitanda de província, muito pouco ainda para a ambição de quem devia criar um nome na história nacional. Sem a altivez que havia nele, e era um protesto íntimo de suas forças contra a humildade da origem; sem a imaginação cuja genealogia não descobri, sem o talento que não teve antepassados, sem o intenso gosto dos livros; as condições do meio e da sua puerícia o mais que teriam formado seria um prático de Farmácia, um tagarela boticário de arrabalde e naturalmente depois um ágil cabo de eleições.

Nuns apontamentos autobiográficos publicados em jornal, Patrocínio refere-se a esse trecho da sua vida; mas não disse as aspirações do meninoe as inquietações do cérebro imaginoso e inteligente fechado nos imites de um botica de hospital. A nossa imaginação é que adivinha o que foi essa quadra de existência para aquele espírito peregrino. Pássaro escravizado que não se resigna a desaprender o vôo para o qual lhe deu a natureza a graça das asas livres. Ali mesmo começou a estudar, freqüentando o Externato Aquino, cujo diretor lhe franqueou as aulas gratuitamente, porque ele já não tinha com que pagar e logo depois perdia a escassa mesada de dezesseis mil réis.

Tirou-lha o vigário de Campos, quando o viu trocar a humildade de servente-aprendiz pela distinção de estudante. Aprendeu tudo e bem, e para o curso médico só lhe faltava o exame de Filosofia, que não chegou a fazer por causa de um frade professor dessa matéria. Frei Saturnino não gostava dele e costumava dizer-lhe que a sua batina sabia mais Filosofia do que toda a que pudesse entrar no cérebro do vosso confrade. Sem esse exame, resignou-se Patrocínio a estudar o curso de Farmácia, que acabou com muita distinção, servido pela caridade de colegas e ajudado por lições particulares que dava.

Foi-lhe a carta de Farmácia uma inutilidade, porque não era do seu temperamento ser farmacêutico e só podia alugar o diploma por trinta ou quarenta mil réis. “Resolvi morrer de fome”, escreveu ele mais tarde; “não alugaria um título que me havia custado tanto sacrifício e que representava as únicas alegrias até então experimentadas.” Disse isto nos apontamentos autobiográficos a que já me referi e que ele publicou em 1881, em dias de polêmica indiscreta, quando o agredia a curiosidade anônima dos adversários. Escreveu-os em defesa da sua vida particular e pública. E disse então a sua origem, as condições do seu nascimento, os protetores que teve e a quem beijava as mãos, as adversidades que sofreu e até os fatos mais íntimos de família, que todos discretamente escondem num desvão da consciência.

Espírito que fosse estranho aos costumes da terra e não conhecesse a linguagem dobrada dos homens, não falaria mais abertamente, com a mesma candidez que ele usou nesse escrito, falando para o mundo e para os seus inimigos. Não sei como o julgou então, nem o julga hoje, a sagacidade dos decifradores de almas alheias. Nessas linhas escritas para o comentário da multidão com a naturalidade e o desapego de uma confidência, só achei que notar o que elas verdadeiramente significam, um documento de sinceridade. Esta foi a virtude, ou foi o defeito, se é defeito, daquele caráter.

Contento-me com lhe achar esta feição. Não indagarei se foi bom ou se foi mau, porque seria uma distinção inútil. O bem e o mal estão em nós; são as partes iguais e elementares da nossa pobre e mortal essência humana. Assim como a planta produz segundo as forças da terra e do ar que a alimentam, assim os atos humanos são bons ou maus segundo o meio e as circunstâncias que lhes dão origem. Não há infalibilidade nem predestinação na natureza. Da mesma árvore, da mesma semente, haveis de colher frutos de qualidade vária; e a diversidade deles é o efeito do acaso dos ventos. Contra o imprevisto do acaso trouxe a civilização a necessidade e o artifício da cultura moral, que é como a estufa do caráter.

Ao abrigo das tempestades dos ventos e das calmas do sol, respiramos a mesma atmosfera, tendemos para o mesmo nível de gosto e adquirimos a capacidade de hipocrisia, que no domínio dos sentimentos e dos costumes é a condição e o fim da civilização, é a norma da educação e é a base da sociedade humana.

Como o uso do vestuário tornou indecente a nudez do corpo, assim criou a civilização a indecência da nudez do espírito. O nivelamento moral extinguiu a sinceridade que as nossas conveniências de bem-estar e de gosto desdenham como expressão de alma selvagem.
Esta sinceridade selvagem tinha-a Patrocínio em si, de origem, e preservou-a na vida apesar da cultura. Foi a cor fundamental do seu caráter. Sinceridade, imaginação e sentimento compunham a tricromia daquele espírito.

Toda a sua obra literária, a grandeza e os defeitos dela, os seus atos honestos, os seus desacertos humanos, as incoerências da sua vida pública, a sua altivez e os seus desfalecimentos, tudo se há de explicar pela diversa combinação dessas cores fundamentais, que as circunstâncias e o momento superpunham ou separavam à maneira de um artista com as chapas de uma estampa colorida. A imaginação era vivaz e pitoresca, o sentimento impetuoso e fecundo.

Era também fecunda a sua inteligência, lúcida, forte e penetrante, mas era uma inteligência a que eu chamarei tranqüila. Não tinha a inquietação da curiosidade incontentada ante os grandes problemas do universo e da vida humana. Se a esfinge alguma vez assomou aos seus olhos, ou ele os desviou indiferente, ou aceitou satisfeito a decifração antiga que lhe davam os caminhantes experimentados na solução do enigma eterno. Houve um instante em que ele repousou na beatitude do positivismo; mais tarde, acordando ao sofrimento que chegava, ou cansado das fórmulas dessa escola de sabedoria geométrica, ele ascendeu para o sonho da religião, num vôo sereno e fácil, sem vacilações, dirigindo-se sempre pelo roteiro católico da crença.

Jamais o perturbou a dúvida; não parou a fitar a esfinge com a ansiedade do desespero, não sentiu a amargura do silêncio infinito, e no desalento do enigma indecifrado, não teve o gozo de enfrentá-la com o sorriso da ironia, que é a vingança zombeteira e sofredora do gênio contra o mistério dos deuses.

Na atitude ante a esfinge é que se pode medir, se não a intensidade de uma inteligência, o seu alcance, a sua órbita de expansão e de surto. Patrocínio não possuiria a de um grande filósofo, nem a de um grande poeta, para os quais os altos problemas do universo e da vida humana, com a peculiar diferença de concepção e de intuito, são o principal motivo de inspiração e de estudo. Limitada a curiosidade às cousas finitas e concretas, ou quando muito às formas usadas do pensamento geral, a sua inteligência tranqüila e indiferente ficou subordinada à força e ao impulso da imaginação e do sentimento.

A subordinação, porém, não era tanta, que lhe paralisasse a atividade consciente, privando-a da direta colaboração e análise na percepção das imagens do mundo; ou, por outras palavras, criando-lhe no espírito a absoluta ingenuidade dos sentidos, a faculdade divina de sonhar acordado e a ignorância fecunda e formadora dos mitos, que foram as condições originárias da poesia primitiva e espontânea.

Se as circunstâncias da vida de Patrocínio, em vez de arrastá-lo à agitação, lhe houvessem permitido perseverar no cultivo das formas literárias com que estreou e que parecia serem formas naturais e adequadas ao seu engenho, a poesia que fizesse podia ser excelente, mas, como quase toda a poesia moderna e a dos antigos poetas menores, seria uma poesia de reflexo, de segunda mão, um comentário elegante da superior e verdadeira poesia, que é a dos grandes poetas. Seria porventura mais. Acharia na emoção pessoal matéria para um lirismo de tonalidade notável, seria um criador vigoroso de quadros, chegaria a aviventar com vibrações de tragédia cenas do drama humano em que as paixões não excedessem a mediania da vida comum. Seria um romancista de costumes talvez perfeito. Mas a sua sinceridade foi uma virtude negativa para o aperfeiçoamento.

A criação artística, em todas as épocas e principalmente no tumulto das cidades modernas, pede o isolamento, a distância proporcionada para a perspectiva do cenário, o desinteresse imediato do ambiente para a reprodução ideal das figuras e dos fatos.

A Patrocínio não foi possível preparar esse isolamento; demasiado sensível ao momento, às paixões e às pessoas em cujo meio operava o seu espírito, era incapaz de uma abstração continuada, que devia ser a atmosfera para a formação da obra de arte. Ficaram-lhe o trabalho e o talento ao serviço e à mercê das impressões do dia. A obra de pura arte que deixou, poesia e romance, pode-se dizer que foi acidental.

Era inevitável a atração do jornalismo. A imprensa tinha de dar o molde à expressão do seu engenho, e este por sua vez havia de fixar-lhe, por influência de suas qualidades características, a feição, se não nova, definitiva de imprensa panfletária.

Efetivamente foi por uma espécie de panfleto – Os Ferrões – que ele começou a carreira de publicista. Título e formas desse periódico foram decerto sugeridos pel’As Farpas, com que em Portugal Eça de Queirós e Ramalho Ortigão reformavam a crítica de idéias e costumes, introduzindo na velha imprensa burguesa uma nova fulguração de talento, de estilo e de franqueza juvenil irreverente. Imitavam também esses escritores um panfleto célebre de Alphonse Karr – Les Guêpes.

É da França que nos chega para o Brasil e Portugal quase todo o alimento do saber e das belas-letras. Tudo queremos imitar dali. Mas nem tudo se pode imitar, menos ainda o que é peculiar a um povo, o que o distingue e lhe foi dado pela natureza, pelos costumes, pela tradição e pela própria história. O espírito francês não pode ser senão de franceses, e só por uma exceção individual o tereis espontâneo e puro em lábios de um português ou brasileiro. Imitado e transportado para a crítica social, ele perde a graça nativa, a sutileza, a urbanidade da malícia, o pico de epigrama e o sal que tempere ou atenue o ardor com que possa ferir.

Notai os títulos dos três panfletos e a diferença de inspiração, de gosto e de tendências. Guêpes – vôo inquieto no espaço, alimento de flores, picada de inseto que mal fere irritado e foge tímido. Farpas – é o corro, a encenação tradicional de cavaleiros fidalgos, depois a instigação, a desordem da carreira, o torvelim do pó, o desfecho premeditado de golpes e feridas. Ferrões – armas de inseto ou puas de aguilhão, acritude de estímulo ou injúria de ponta de ferro. O nosso meio era ainda escasso de idéias; os costumes não seriam ótimos, e como somente a serena isenção da Filosofia sabe discernir entre os costumes e as pessoas, Os Ferrões não souberam imitar a agressão alada das vespas e investiram contra a gente do seu tempo, num descompasso rasteiro de aguilhadas. Desconcertos da mocidade, que haviam de ser a norma da crítica pessoal no Brasil; mas naquele tempo eram ainda uma antecipação da maneira nacional; e Os Ferrões só duraram dez números.

Meses depois Patrocínio fazia parte da Gazeta de Notícias. Entrou sem outra recomendação que uns versos que por um amigo dele foram apresentados a Ferreira de Araújo, então já redator principal da folha. Três sonetos, versos de amor. Ferreira de Araújo, com o discernimento do seu claro espírito e a bondade do seu coração, adivinhou o que havia no autor dos versos e aproveitou a revelação daquele talento.

Além dos trabalhos da parte anônima da folha, escrevia Patrocínio dois folhetins semanais, e a principio um deles em verso rimado, “Gazeta Métrica”, miniatura de um número da folha, inclusive anúncios, que eram depois publicados na seção competente do jornal. Tinham chiste os versos, eram leves, e de uma metrificação espontânea, sem rimas buscadas, forma natural e fácil da sua faculdade poética.

A esse folhetim sucedeu a “Semana Parlamentar” de Prudhomme. A política tomava o lugar das letras. Patrocínio era encarregado de referir os debates da Câmara; tinha o espetáculo diário da comédia política, freqüentava os bastidores, surpreendia-lhes os segredos; estudava os atores, no palco e fora dele, conhecia-lhes os hábitos e os artifícios; o comentário foi inteligente e agudo, o sucesso, geral e grande. Tinha ele então vinte e poucos anos. A idade explicava a inocência das convicções, o fervor da discussão e a esperança na eficácia da crítica. Ainda de notar, mais pela idade que pelo engenho dele, era, na maioria desses folhetins, o tom dessa mesma crítica, o bom senso, a boa lógica, a seriedade de pensamento, o ar de gravidade com que, apenas saído da adolescência, ele vinha preceituar para os maiorais encanecidos da política brasileira. Trazia o folhetim quase sempre um intróito de generalidades sobre a matéria constitucional ou a atualidade política, depois a aplicação aos fatos da semana. Revelava estudo, desinteresse pessoal, e não tinha retórica, o que é admirável naquela idade e no nosso país.

É que Patrocínio era sincero e cultivava nessa época o positivismo, de que foi por algum tempo aluno e sectário. Num dos seus outros folhetins falava, com indignação disfarçada em zombaria, ao menosprezo com que fora acolhida uma publicação de um dos chefes brasileiros da Filosofia positiva.

Nesses folhetins literários era essa a maneira acentuada, a galhofa, a intenção de ter graça, que parece ser em regra a preocupação desse gênero de literatura jornalística. A obrigação de encher com assunto de espírito em dias certos um certo número de tiras de papel, na medida do rodapé, deve ser superir às forças de qualquer talento, por mais fértil que seja. O simples cuidado da extensão forçada do escrito prejudica a espontaneidade da graça, empece o desenvolvimento natural da idéia com as dilações propositadas para suprir o espaço necessário. Não pôde Patrocínio evitar tais senões, mas tinha com que resgatá-los qualidades literárias que prometiam ser das melhores e que o romance em breve mostraria que podiam ser completas e ótimas.

Mota Coqueiro ou a Pena de Morte foi, como todos os seus romances, escrito dia a dia para o jornal. O assunto era em suas linhas principais um fato real, e foi sugerido pela notícia da prova tardia de inocência de um executado. Devia ser escrito em colaboração por quatro dos redatores da Gazeta de Notícias. Naquele tempo a Gazeta era um jornal de rapazes, e já se faziam dessas brincadeiras em literatura. Tocou a Patrocínio iniciar o trabalho, e o fez tão bom, tão levantado, que os outros colaboradores o deixaram, antes de experimentar a prova difícil de medir-se com ele.

Todo o primeiro capítulo, que é o da execução do condenado à forca, é excelentemente feito. Mostra o talento de um narrador elegante e os dotes de uma imaginação descritiva não comum. Tem movimento, emoção e vida. Os outros capítulos, salvo alguns com¬postos em dia menos propício, e apesar de escritos sempre apressadamente, não desmerecem do primeiro. São em geral bem traçadas as figuras do livro. Um tipo de feiticeira, a tia Balbina, é uma criação admirável, é como os grandes tipos poéticos que abrangem no vigor e na concisão dos traços individuais a representação simbólica de épocas, de raças ou de instituições. Em tia Balbina a feiticeira, aliás personagem secundária na ação do livro, há toda a poesia da raça negra e da sua escravidão pela raça branca.

De Mota Coqueiro como de Pedro Espanhol, que é outro romance-folhetim, e de Retirantes, haveria não poucos trechos com que formar uma coleção de páginas escolhidas de boa literatura. Viriam as melhores de Retirantes, que é dos livros de Patrocínio o mais trabalhado, ainda que anterior a Pedro Espanhol, e é o de maior observação, de mais gosto e o menos imperfeito no estilo. Escreveu-o depois de uma viagem ao Ceará, ao tempo da grande seca de 1879. Trazia os olhos queimados da visão do cenário, assistira à retirada dos famintos para a capital, ouviu-lhes os gemidos e as ânsias, viu-lhes o aspecto entorpecido de miséria, o despudor da agonia, e observou a concorrência do interesse calculado e disfarçado, que procurava na fome alheia o incentivo para o lucro e na piedade o pretexto para a desonra e a luxúria. Tinha ali a imaginação abundância de quadros em que aplicar o seu colorido opulento.

Era fértil o assunto, e o romancista que havia sido espectador das cenas terríveis da seca multiplicou-as com um poder de evocação minuciosa de chapa fotográfica. Esse é o defeito do livro. As cenas formam paginas admiráveis, algumas de emoção da mais profunda tragédia; mas pelo seu número excedem a medida do romance e perturbam-lhe a unidade do plano. Para compô-lo bem, fora necessário que o escritor disciplinasse a fantasia em vez de comprazer-se na sua riqueza, e soubesse escolher e eliminar o que ela lhe dava prodigamente com uma exuberância indomada de terra dos trópicos.

Creio que ele não se detinha em delinear o esboço das suas obras, em predispor e proporcionar-lhes a matéria, em talhar o molde e a fisionomia dos personagens. Era brusca a inspiração, o trabalho quase sempre arrebatado. Ignorava ou não aceitava aquela sábia regra de arte que o alemão Holzt definiu em fórmula algébrica e o vosso erudito e sutil confrade João Ribeiro tão lindamente comentou e vulgarizou em uma das suas finas Páginas de Estética: Arte = Natureza – x.

Mas esse defeito, esse excesso, esse desregramento, essa indisciplina foram virtudes principais e as que mais convinham para outra obra que teria de ser a obra-prima de José do Patrocínio: a. campanha do abolicionismo. Sabeis o que ela foi, e eu não cansarei a vossa atenção reproduzindo-a em todos os seus estádios e detalhes, posto que cada um deles tenha para o historiador daquela época um valor não pequeno de informação moral e política.

O abolicionismo no Brasil passou por duas grandes fases: a primeira, até 1879, em que é a razão que o inspira e dirige; é o movimento da idéia, ou, se é do sentimento, é-o numa forma idealizada, de calma e de reflexão; a segunda fase, de 1879 a 1888, é a do inteiro domínio do sentimento, concreto, irrefletido e apaixonado.

Estabelecida no Brasil-colônia, sancionada e regularizada pelas leis da Metrópole e do Império, como elemento econômico, necessário e reputado insubstituível, tornou-se a escravidão um fato natural e justo que todos aceitavam como instituição tradicional, por efeito do meio e da adaptação submissa do negro à sua fatalidade de raça mais fraca ou mais feia.

Não eram os homens nascidos no meio de escravos os que podiam sentir aquele espanto eloqüente e aquela indignação cristã que arrebatava o padre Antônio Vieira a exclamar do púlpito contra a transmigração imensa de gentes e nações etíopes, uma das grandes cousas que então se viam no mundo, e que eles, pelo costume de cada dia, não admiravam. O desnatural da instituição só foi revelado pela cultura estrangeira. Povos para os quais a escravidão seria um perturbador em vez de um fator econômico, começavam a condená-la em nome da razão. Já na Independência era José Bonifácio, o patriarca, influenciado pela filantropia inglesa.

Filantropia é uma palavra bonita, que exprime puramente uma idéia, uma abstração de sentimento vago, como essas aspirações remotas de igualdade, de justiça e de paz universal, que são concepções anômalas no homem, ente racional que tem estômago e tem caninos. Prevalece a abstração excepcionalmente em tipos singulares, raros no tempo e no espaço; e essa anomalia se imita e se pratica pelo comum das gentes, quando os estômagos já comeram ou não podem comer. Há para o egoísmo da natureza muita maneira de simulação, com que ela, indiferente ou cruel, melhor serve aos seus fins. Generalizam-se as aspirações de igualdade, de justiça, de amor humano e de paz internacional, porque nem todos os homens são igualmente fortes, nem todos os povos podem ter exércitos, nem todos os homens podiam ser senhores de escravos. Inteligência do interesse, que é a lei dos animais e das cousas. Chamem-lhe os outros de piedade humana; eu lhe chamarei simplesmente de astúcia, instinto disfarçado de... carnívoros inteligentes.

Seja como for, ela produz o benefício e o equilíbrio geral, porque será sempre dos fracos a maioria na terra. A filantropia inglesa, pelo prestígio moral da Inglaterra e o temor de sua força guerreira, continuou a sua ação eficaz. Houve a lei de 1831 que aboliu o tráfico; o ato de Eusébio de Queirós em 1850, que lhe deu realidade; e a lei de 28 de setembro, que libertou os nascituros.

Atos exclusivamente políticos e que não feriam a propriedade efetiva dos senhores, limitavam apenas a faculdade de aquisição, só excluíam a posse do que era eventual, possível ou provável, mas não existente; deviam ser relativamente fáceis essas reformas e entretanto só foram admissíveis e aceitas progressivamente após consideração, estudo e debate.

Cinco anos durou a elaboração da lei de 28 de setembro; concebido o projeto por S. Vicente e submetido à Coroa em 1866, discutido no Conselho de Estado em repetidas sessões, só em 1871 foi apresentado ao parlamento pelo Visconde do Rio Branco, que o havia entretanto combatido no mesmo Conselho de Estado. Era um vencido convencido, a quem tocava a fortuna de ligar o seu nome a uma lei gloriosa. Opusera-se ao projeto com a prudência e a elevação de um homem de Estado; aceitou-o mais tarde e se bateu por ele, quando as circunstâncias o tornaram oportuno, quando lhe pareceu que as condições do país podiam sem inconveniência sofrer essa reforma liberal. Como a um verdadeiro estadista, era a ponderação, era a razão de Estado que lhe inspirava as convicções e os atos.

Ouviram-se então vozes contrárias de homens também de saber e clarividência, como a de Olinda, e, deixai que vos cite um nome querido e respeitado e que é o meu também, o nome de Alencar.

O seu sentimento era generoso; ele seria pela abolição completa, havia-o declarado como aspiração num escrito da adolescência, – o prefácio ao romance Contrabandistas, – confirmara-o na obra literária da madureza, – o drama Mãe; – não obstante, como político, como delegado da soberania nacional, para quem os destinos da nação devem constituir um encargo de honra, de meditação e de consciência, reprimiu José de Alencar o seu sentimento pessoal para só atender aos cuidados do país. Considerou a situação do presente, pesou as conseqüências da lei e, consultando os seus efeitos futuros, combateu o projeto com a sobranceria de quem cumpre um dever que respeita, e a integridade de um caráter que serve lealmente à sua pátria.

A sua previsão foi talvez pessimista, não por preconceito ou interesse partidário, mas só pela solicitude apreensiva de seu pensamento patriótico e reto. Não profetizava, predizia pela lógica; o não era da previsão humana que a providência assentaria aqui a sua morada, transformando o Brasil em terra milagrosa, onde as surpresas de mágica se multiplicam e o determinismo político e social desaparece aos caprichos de uma vara de condão.

Não vos lembro estas cousas senão para lembrar a diferença entre as duas fases do abolicionismo; e como na primeira era o raciocínio esclarecido que preponderava sempre nas resoluções dos legisladores. Ao problema social antepunha-se, como convinha, o problema político; o respeito às leis era o princípio dominante na maioria dos homens de Estado.

Promulgada a lei de 1871, restringida como fora a faculdade de aquisição de escravos adventícios e por nascer, a propriedade escrava não ficava atingida, continuaria a existir meio século, cem anos ou mais, duplamente garantida pela prudência dos estadistas e pelo prestígio dos donos dos escravos, que eram ainda de cerca de dois milhões e representavam o maior capital da indústria e uma das maiores fontes, de onde vinha para o país grande parte de sua renda, base do seu governo e da sua independência. A lei de 1871 parecia aos diretores da nação uma conquista liberal que satisfazia, e conciliava o ideal da justiça humana com as necessidades práticas do país.

Até 1879 não apareceu nenhum projeto novo no parlamento brasileiro. Fazia então Joaquim Nabuco a sua estréia política na Câmara dos Deputados, e ao renome de parlamentar brilhante e sedutor que logo alcançou, juntava a fama de ser o renovador da idéia abolicionista. Joaquim Nabuco, porém, era já o homem de pensamento que todos admiramos; o entusiasmo da mocidade não desalinhava em sofreguidão irrequieta a compostura fidalga do seu espírito. Tinha o temperamento liberal do senador Nabuco, cultura mais vasta, descortino mais amplo de idéias; seria um continuador da política do pai com maior eficácia porque tinha maior força de eloqüência.

Tudo o qualificava para um propugnador dos mais estrênuos e dos mais justamente reputados e respeitados na campanha abolicionista, que ele empreendia com absoluta fé. Mas seria um lutador de idéia; já possuía a tolerância que constitui o traço do seu caráter gentil e o fundo do seu pensamento elevado e grave. “Quando nos alistamos”, diz ele algures, “acreditávamos todos nós que a campanha duraria além da nossa vida...” A agitação popular que impôs a abolição, só podia ser a obra de um homem de imaginação vibrante, sentimento impetuoso e sinceridade selvagem. Naquele tempo era José do Patrocínio. Tinha, além de tudo isso, a eloqüência, já exercitada pelo trabalho quotidiano da imprensa.

Três anos antes, ele havia contado, em verso, a melancolia d’“A revista” dos escravos nas fazendas. Dizia primeiro o alvorecer do domingo, o tanger alegre do sino para as horas de folga; a ilusão de liberdade que cantava com as aves e sorria com o sol. Depois a tristeza dos dias de trabalho, o tanger apressado do sino despertando os escravos para a fadiga e o sofrimento:

....................................................
E levantam-se mudos, taciturnos,
Os mártires sombrios da avareza.
......................................................
E vão postar-se em quietação de estátuas
Ante o feitor, submissos, alinhados;
Os cães podem latir ante os seus donos
Mas eles devem estar sempre calados.

Eis a revista! um ato de miséria,
De escárnio e de vileza acerbo misto,
E que termina o escravo murmurando
Junto ao senhor: louvado seja o Cristo.

Louvado seja o Cristo! – mas Seus lábios
Ensinavam doçura e piedade;
Não mandavam que o déspota chumbasse
Uma grilheta aos pés da humanidade.

Louvado seja o Cristo! – mas nas sombras
Daquela angústia longa e sobre-humana
Irisava-se um arco de aliança
Por todo o céu da consciência humana.

Louvado seja o Cristo! – Ele era doce
Como aos domingos o romper da aurora;
Escravo! não é ele quem sustenta
O homem torpe e vil que vos explora?

Quando se há de curar essa medonha
Chaga hedionda e fatal do cativeiro;
E há de o trabalho sacudir os braços
Lançando dos grilhões os estilhaços
Longe dos céus formosos do Cruzeiro?!

Era ainda a escravidão para José do Patrocínio um tema poético, em moda naqueles dias; mas estes versos já são como um prenúncio de tormenta.

Haveis de ter sentido em algumas tardes luminosas de verão certa serenidade contrafeita da natureza: vêm crescendo as nuvens; há um silêncio de escuta no espaço, um movimento surdo; e fuzila a centelha e esfuzia a lufada. Foi a iniciativa de Joaquim Nabuco na Câmara como a aragem que aglomerasse as nuvens e determinasse o choque. A palavra de Patrocínio foi como a voz da tempestade; a sua imaginação e o seu sentimento foram todos os ventos, gemendo, rugindo, soprando de norte a sul, de leste a oeste, varrendo a terra e levantando o turbilhão.

Foram vendaval que ameaçava, gritava, sacudia, zurzia, arrebatava; foram o simum africano que trazia a súplica, a saudade, o perfume das florestas, o eco da liberdade do deserto, a visão das choupanas nativas, e era a cantiga selvagem, era o sofrimento do libambo, era o banzo, e era a revolta. Soprava carícias e fogo no coração do negro, e zunia terrível na consciência do branco.

Houve o espanto, a ansiedade, a alucinação, o desgoverno e a loucura. A lei de 13 de maio de 1888, concebida, apresentada, discutida e promulgada em oito dias, aboliu a escravidão, incondicionalmente, libertando mais de um milhão e quinhentos mil escravos. A abolição foi feita por obra de José do Patrocínio: foi talvez um erro de política, foi sem dúvida uma violação de direito, mas um erro magnânimo e bendito, uma conquista social gloriosa.

Disse-vos que foi a obra-prima de Patrocínio. Obra genial no seu conjunto. Não a premeditou, foi uma explosão; não a fez com a ordem e a harmonia de plano de uma criação individual, o entusiasmo multiplicou-se, e ele a foi compondo à feição das obras primitivas, que seriam, na arquitetura, as fábricas ciclópicas, em que a grandeza do todo supre a combinação e o perfeito do traço, na poesia as rapsódias rudes dos bárbaros em que o estro e o fervor da inspiração cria no desconcerto das partes a unidade nacional dos poemas épicos. O trabalho do talento de um homem pareceu a criação do gênio de toda uma raça, e o tempo em que o compôs, apenas dez anos, foi como a parada de um século, imobilizado para abranger a formação daquela obra extraordinária.

Para fazê-la José do Patrocínio não imitou nem consultou modelos. São os capítulos dela artigos de imprensa diária, lições de doutrina, sermões de piedade e conselho; são elegias, são odes, são sátiras; são conferências e discursos de improviso, catilinárias, filípi¬cas e panegíricos. Os anos que decorreram ainda não fizeram esquecer a impressão dessas orações: vibrava e transformava-se o auditório sob o efeito daquela palavra magnífica. E no entanto não era Patrocínio um orador educado pela Retórica. A sua frase não tinha o ritmo ondulante do pensamento oratório: era curta, incisiva, de um compasso breve e precipitado como as pulsações de seu coração doente.

Alterava-se o timbre da sua voz; perdia a modulação do sopro e estalava, como as notas arrancadas ao metal de instrumentos de corda. Era deselegante nas atitudes; braços e corpo sacudiam-se em gesticulações desordenadas. Não subia à tribuna como um ator se apresenta no palco, para pedir os aplausos da platéia; aparecia como um dominador, como quem faz uma missão em que não reflete, como um oráculo sob a inspiração de um deus oculto. O auditório não o intimidava. Discursava uma vez em conferência popular, ao tempo em que os propagandistas da República achavam no seu fervor pela campanha abolicionista um pretexto para atacá-lo como desertor das fileiras republicanas.

Havia então partidos, predileções e não raro findavam as conferências em espetáculo de guerra. Ia Patrocínio fazendo uma exposição comparativa do estado social de vários países do mundo, e ao chegar ao nosso, dizia: “O Brasil...” mas deteve a palavra um momento como a coordenar as idéias. Aquela parte do auditório que lhe queria mal, e era grande parte, entrou a rir, supondo que ele tinha uma inibição mental, ou, na própria expressão popular, um caroço. “O Brasil...”, continuou Patrocínio, “que somos nós? que somos nós? somos um povo que ri quando devia chorar!” Nesse dia não houve doestos nem luta; a conferência terminou sob unânimes e ardentes aplausos.

Sabia excitar a emoção, porque todo ele era emoção. Ao acabar os discursos, ficava exausto e ofegante: o coração mal obedecia à violência do sangue inflamado pelas explosões dos sentimentos. Por isso não foi assíduo na tribuna.
A imprensa não lhe custava tanto sacrifício de saúde. Escrevia os artigos com o mesmo entusiasmo, a mesma veemência, mas o calmo ambiente do seu gabinete de trabalho temperava-lhe os frêmitos da inspiração. Escrevia como falava, sem emendar os períodos, sem lhes dar o polido de arte. Não formou um estilo, porque foi um pródigo da riqueza que tinha; faltou-lhe o dom da economia intelectual, a paciência para esperar a cristalização do pensamento.

Parece-me que em toda a sua obra a consciência nunca foi uma colaboradora ativa. Patrocínio era um improvisador; o seu talento tinha fulgurações de relâmpago, a cintilação e a aspereza de um filão de ouro; não possuía a continuidade de luz dos astros, a simetria e o brilho facetado de um diamante. Não se apagam, porém, as fulgurações do relâmpago da retina que um dia as sentiu. Há de guardar a nossa lembrança e há de ficar na história literária deste país o esplendor e a fertilidade daquele engenho. A tradição nacional não recorda quem tivesse como ele a faculdade inventiva do epíteto e da metáfora, que exprimia o seu louvor ou a sua desaprovação.

Há, de artigos seus, títulos que valem biografias, metáforas que gravaram em bronze a fisionomia da sua época, e epítetos terríveis que soaram como o estalar de látegos e bofetadas. Em contato com as paixões, os interesses e as intrigas da política, a sua sinceridade foi-lhe arrastando o espírito para a sátira pessoal e pungente.

Depois de feita a abolição, Patrocínio podia morrer, e morreria feliz; mas a sorte fez que ele vivesse ainda, para sofrer a sua glória. Sofreu-a lutando. Conheceram-no todas as causas generosas, que nos últimos anos se agitaram neste país. Continuou combatendo sob os insultos, sem esmorecer; foi perseguido pela inquisição na idade-média da nossa república, fuzilaram-no como malfeitor numa praia, enquanto ele, foragido numa casa de Paula Matos, ideava o mecanismo de uma aeronave dirigível. Foi a derradeira preocupação do seu espírito.

Aborrecida da terra, a imaginação pedia o espaço ilimi¬tado do céu. Veio depois a pobreza, a moléstia e a miséria. Hóspede na imprensa, onde ele fora senhor e dono, escrevia ultimamente alguns artigos para não morrer de fome. O coração que o devia matar, foi que o matou, interrompendo uma crônica que ele escrevia para A Notícia. Morreu de repente, e foi bem assim, porque já era demais a agonia de alguns anos de abandono e de miséria.

Na Imprensa e aqui na Academia ele fica sem substituto. Eu próprio sou a garantia de que a sua cadeira aqui continua a ser a cadeira de José do Patrocínio. É grande bastante o seu nome, para que, à sombra dele e sem perturbá-lo, possa um modesto autor de versos esquecer-se da vida, compondo ritmos para as suas alegrias e tristezas. A vossa companhia é uma segurança contra o desalento. Não tive outra aspiração, quando vim pedir-vos este lugar; nem me iludiu a significação da vossa bondade, acolhendo-me sem medir o contraste de valor entre mim e aquele morto ilustre. Quisestes, admitindo-me, ter a vosso lado um representante do nome de José de Alencar; não víeis em mim o continuador do talento do grande romancista, mas vistes que eu tinha e prezava o gosto das letras e a seriedade no cultivo delas, e pareceu-vos que não era indigno da Academia prestar homenagem à memória de um escritor brasileiro animando-lhe o filho no sincero esforço e na nobre ambição de servir à sua pátria, servindo à sua língua e ao seu próprio ideal.

Eu não podia ambicionar maior distinção nem maior nobreza do que a honra da vossa companhia, em que está representado o que o pensamento nacional possui de mais alto na poesia, na obra de ficção, na lingüística, na crítica, na diplomacia e na eloqüência parlamentar. Tomando posse desta cadeira, sinto-me orgulhoso de pertencer a uma instituição, a cujos destinos preside a glória, pura e imorredoura, de Machado de Assis.

Senhores, eu vos agradeço cordialmente a indulgência dos vossos sufrágios.