“Queria ver o fardão ao vivo antes de decidir se ia encarar ou não”, admite Julia Parker, estilista carioca que será a primeira mulher a confeccionar o fardão de um acadêmico em 127 anos de existência da Academia Brasileira de Letras.
A hesitação de Julia tem um motivo: ela trabalha exclusivamente com roupas femininas. Produzir a peça significaria sair completamente da sua zona de conforto. Contudo, após ver o fardão de perto e compreender os detalhes da peça, ela aceitou o desafio. “Um dos meus fortes no ateliê é o bordado”, revela. A técnica é um dos destaques do fardão verde-oliva que vestirá Edgard Telles Ribeiro, eleito em dezembro do ano passado para ocupar a cadeira 27.
Além do desafio profissional, o “sim” de Julia teve um incentivo pessoal. E olha que ela entende de “sim” – está acostumada a vestir noivas. “Quando comentei com meu pai que o Edgard tinha me procurado, ele disse: ‘O Edgard era um dos escritores favoritos da sua avó’.”
Julia conta que a avó faleceu há muitos anos e se emociona com a possibilidade de reconexão com sua ancestralidade proporcionada pelo projeto. “Durante todo o processo, penso muito no que a minha avó estaria achando.” Na última semana, Telles Ribeiro fez a prova final do fardão, cuja produção começou em janeiro no ateliê de Julia, localizado no Humaitá.
01/04/2025