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ABL na mídia - RFI - Escritor e imortal da ABL, Godofredo de Oliveira Neto fala sobre a democratização da literatura

 

Godofredo de Oliveira Neto participou, na capital francesa, de eventos universitários do Ano do Brasil na França e falou sobre a popularização da cultura brasileira pelo mundo, especialmente por conta de “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, que ganhou o Oscar de melhor filme em língua estrangeira. O autor, que publicou em 2011 “Amores Exilados”, que trata da mesma temática, disse que viu o interesse pelo livro crescer por conta da popularidade da obra protagonizada por Fernanda Torres.

“Graças ao filme, toda uma época do Brasil, dos anos 70, veio de novo para a cena iluminada. (...) O livro estava numa segunda edição. Há uma proposta agora para uma terceira edição, mas o interesse é muito grande. Eu tenho recebido muitos convites para falar sobre o livro. (...) Acho que é um momento para se começar do zero e entender o que aconteceu, com as críticas internas, externas, com as avaliações das estratégias políticas, e ver também as dores e os sofrimentos”, disse.

Perguntado sobre o processo de criação de livros que potencialmente serão traduzidos e lançados em outros países, o escritor contou que, quando escreve, direciona o foco para o público brasileiro, mesmo que a obra acabe sendo lançada em outros idiomas, como é o caso também de “O desenho extraviado de Hieronymus Bosch”, que foi publicado na França antes de ser lançado no Brasil, mas que por aqui ganhou o nome de “Esquisse”.

“Penso sempre no Umberto Eco e no prefácio de ‘O nome da rosa’, em que ele diz uma coisa interessante: o escritor escreve sempre pensando no leitor ideal. E analisando essa frase, eu acredito que no meu caso eu escrevo pensando nos brasileiros”.

Oliveira Neto comentou ainda sobre seu último livro lançado, que fala da mitologia indígena. “Ana e a margem do rio” é narrado por uma menina que tenta passar para o papel, de forma escrita, os mitos que ouvia da avó indígena. A obra é voltada para o público infanto-juvenil.

Godofredo, que também é autor da fábula "Oleg e os clones", diz que é preciso “sair de si", principalmente quando se escreve para jovens ou crianças. "Esse é um conselho que eu dou para os jovens escritores e escritoras, que é se deixar levar e criar um narrador ou uma narradora que não é você, senão todos os interditos da vida vão te impedir de escrever”, aponta.

Vida de imortal

Em 2022, Godofredo de Oliveira Neto foi eleito para ocupar a cadeira de número 35 da Academia Brasileira de Letras (ABL). Ele conta com orgulho como tem sido a vida de imortal.

“Foi uma grata surpresa, estou encantado. Acho que a ABL está em um momento muito bom de diálogo com a sociedade brasileira, uma abertura imensa. Não que não tenha havido antes, mas agora isso se potencializou. A participação de mulheres está aumentando, a programação cultural é intensa, com muitos convidados. (...) Não é uma eleição minha para mim. Eu tento fazer jus aos leitores e leitoras da minha obra”, disse ele, que prepara um novo livro.

O autor conta que desde “O desenho extraviado de Hieronymus Bosch”, fez uma mudança de forma na arquitetura do romance com relação aos anteriores, que se aplica a esse novo projeto. “Comecei uma mudança, digamos, estilística, da forma, e esse que estou escrevendo vai nessa mesma linhagem, quanto à sua formatação e sua arquitetura”, explicou.

Literatura inclusiva

Por fim, o autor opinou ainda sobre as mudanças positivas que vem observando na literatura brasileira que, para ele, está evoluindo de forma mais inclusiva.

“A literatura brasileira deu um salto muito grande, abriram-se novas editoras, produzindo mais. É uma fase muito rica e mais representativa da nação brasileira, fugindo um pouco do eixo Rio – São Paulo. A temática de trazer para frente, no protagonismo, franjas imensas da sociedade brasileira como o movimento negro, que está vindo com muita força, mas não só; também o movimento feminista, LGBT, indígena, são propostas muito presentes na literatura brasileira contemporânea e que mostram a variedade da nação brasileira. Isso democratizou muito uma certa literatura. E a gente vive esse momento de grandeza e de aplauso com a literatura contribuindo decisivamente para a formatação de uma nova nação, que corresponda mais ao seu real teor populacional”, afirmou.

Matéria na íntegra: https://www.rfi.fr/br/podcasts/rfi-convida/20250317-escritor-e-imortal-da-abl-godofredo-de-oliveira-neto-fala-sobre-a-democratiza%C3%A7%C3%A3o-da-literatura

18/03/2025