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Artigos

  • Astros e ostras

    Retorno a um assunto que abordei recentemente: a necessidade de um aprimoramento da democracia representativa. Agora mesmo, uma pesquisa feita no Ceará e publicada num jornal de Fortaleza revela que mais de 70% dos eleitores já foram abordados por candidatos e seus cabos eleitorais que ofereceram dinheiro em troca de votos. Desse total, uma porcentagem significativa topou a oferta.

  • A hora da saidera

    Na semana passada, li um artigo do professor Marco Antonio Villa, que não conheço pessoalmente, mostrando, em última análise, como a era Lula está passando, ou até já passou quase inteiramente, o que talvez venha a ser sublinhado pelos resultados das eleições. Achei-o muito oportuno e necessário, porque mostra algo que muita gente, inclusive os políticos não comprometidos diretamente com o ex-presidente, já está observando há algum tempo, mas ainda não juntou todos os indícios, nem traçou o panorama completo.

  • O pós-mensalão

    Os ministros do Supremo estão imbuídos do compromisso de aperfeiçoar os costumes eleitorais brasileiros, e tem que ser entendido nesse contexto a dureza com que estão analisando o processo do mensalão. Já o Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, ao definir o caso como um atentado à democracia brasileira, havia tratado do tema nessa perspectiva institucional, e por isso ele classificou de “quadrilha” a associação de políticos e empresários para a compra de apoio no Congresso. Ao decidir por tal ação, o comando político do PT optou por desqualificar as negociações partidárias, retirando-as do plano programático para o meramente fisiológico.

  • Linguagem popular, sim ou não

    No debate em torno de uma conferência, na “Semana de Arte” promovida pela Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro, no píer Mauá, um aluno do interior perguntou se deveríamos condenar a linguagem popular, “pois esse pessoal fala de forma inadequada”.                                Primeiro, tivemos que esclarecer a diferença entre linguagem popular e regionalismos.  Os termos utilizados por escritores como Guimarães Rosa, Rachel de Queiroz, José Cândido de Carvalho, João Ubaldo Ribeiro, Jorge Amado e Dias Gomes, para só ficar nesses exemplos, são típicos da cultura local, que deve sempre ser respeitada.  As expressões, apesar de inovadoras, podem vir a figurar em dicionários e vocabulários de transmissão da norma culta ou padrão, sem nenhuma dificuldade.  Os regionalismos são sempre aceitos.                                 Em segundo lugar, temos a questão controvertida da chamada linguagem popular.  O filólogo Antonio Houaiss chegou a popularizar o verbete “mengo”, diminutivo do clube mais popular do Brasil.  Mas ele jamais aceitaria adotar a palavra “pobrema” ou “areoporto” e dar-lhes o status de uma expressão legítima do português contemporâneo.

  • Visão republicana

    O 30º dia do julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal trouxe duas definições fundamentais para o aperfeiçoamento da democracia brasileira: a maioria do plenário formalizou o entendimento de que houve compra de apoio político no Congresso por parte do Executivo, e o ministro Celso de Mello denunciou que essa prática, inaceitável, coloca em risco o equilíbrio entre os Poderes da República.

  • Autran Dourado

    No último domingo, morreu Waldomiro Autran Dourado, mineiro, 86 anos, nascido em Patos de Minas, autor de uma obra que vem sendo estudada, aqui e no exterior, apesar de sua discrição, que o tornou privilégio de poucos, na medida em que se dedicou quase integralmente ao ofício de escritor. Dono de um estilo inconfundível mais uma técnica do que um estilo, não cortejou a popularidade nem fez parte de grupos, isolando-se em seus contos e romances como o artista que foi.

  • A Embaixadora

    O título de Embaixadora das Américas que foi atribuído a Nélida Piñon cabe-lhe à perfeição. Ninguém melhor para a tessitura da convivência. Sabe enfeitiçar, interlocutar, sabe escrever, sabe falar, ou repovoar presenças.

  • Hora da definição

    O Supremo Tribunal Federal entra hoje na parte mais delicada do julgamento do mensalão, quando serão analisadas as participações do núcleo de comando petista na compra de apoio político no Congresso. Chegou a hora de definir se o ex-ministro José Dirceu foi mesmo o “chefe da quadrilha”, como acusa o Procurador-Geral da República, e qual o papel dos demais integrantes do núcleo, o ex-presidente do PT na ocasião, José Genoino, e o ex-tesoureiro Delúbio Soares.

  • Confronto cultural

    As explosões do mundo islâmico contra o filme e as caricaturas do profeta aguçam o seu conflito com o Ocidente, visto, hoje, como na iminência de uma guerra de religiões. Reptam o cerne da liberdade de expressão, mas a seu custo e à sua responsabilidade.

  • O papel do revisor

    Contrariando seu comportamento ao longo de todo o julgamento, o ministro revisor Ricardo Lewandowski fez questão de começar a votar ontem mesmo, ao final do voto do relator, com o objetivo, que alcançou, de fazer um contraponto ao voto de Joaquim Barbosa.

  • Condenação encaminhada

    O plenário do Supremo Tribunal Federal encaminhou ontem a condenação do ex-ministro José Dirceu por corrupção ativa, já tendo votado três ministros (Joaquim Barbosa, Rosa Weber e Luiz Fux) e vários outros se pronunciado, em comentários paralelos aos votos, no mesmo sentido.

  • Jorge amado e os jesuítas

    O motivo da nossa ida a Ilhéus  foi o convite da reitora Adélia Maria de Carvalho Pinheiro para uma palestra, na Universidade Estadual de Santa Cruz, a propósito do cenário de Jorge Amado. Falei  para os alunos e professores da instituição pública que já tem 21 anos de existência e hoje abriga uma comunidade escolar de 11 mil pessoas, situando-se entre Ilhéus e Itabuna.

  • A defesa do STF

    Entre os desserviços que o ministro Ricardo Lewandowski está prestando no julgamento do mensalão, talvez o mais nocivo seja a tentativa de desacreditar o STF nos seus comentários paralelos.

  • Marco Túlio Cícero

    Ignorante em política e em direito, mesmo assim me atrevo a dar um palpite: o PT não será o mesmo depois do julgamento no STF, que ainda não terminou. Falta o segundo tempo e o escore está na base do 3x1 a favor da condenação da maioria dos réus ou corréus --palavra que acabei de aprender e tenciono usar daqui em diante para designar não o Zé Dirceu ou o Zé Genoino, mas a humanidade inteira, na qual, a contragosto me incluo.

  • Reforma política

    O pessoal mais antigo da ilha tem muita saudade das eleições nos velhos tempos. Uns se queixam da avacalhação, porque outrora era uma coisa solene e séria, os homens de bem envergavam paletó e gravata, faziam a barba, botavam água de cheiro atrás das orelhas, no sovaco e no lenço, metiam no bolso a caneta Parker usada somente nas grandes assinaturas e se apresentavam decentemente para o cumprimento do sagrado dever. Outros reclamam da falta de graça de não ter mais de ficar escondido por trás de uma cortina, escolhendo cédulas e enchendo envelopes, ou marcando cruzinhas na chapa. E, além disso, eram tempos fartos, o eleitor se dava melhor. Há quem se recorde saudoso da ocasião em que um certo coronel, além dos benefícios que fazia a todos os correligionários, deu um queijo de cuia a cada eleitor - isto mesmo, um queijo de cuia inteiro, ainda dentro da cuia - era acabar de votar e retirar o queijo. Hoje não há mais disso, já se perdeu essa grandeza, eles só querem continuar mamando e não dão nada a ninguém.