Mariana Filgueiras
O casarão, na Rua Cosme Velho, 18, virou um prédio comercial. A cama de casal, o jogo de xadrez, a escrivaninha, as obras de Shakespeare em coleção de bolso, o indefectível pincenê e a caneta-tinteiro são os únicos pertences guardados na Academia Brasileira de Letras (ABL), casa que fundou. Quase cem anos depois da morte de Machado de Assis, resta muito pouco do seu universo físico. O que sobra é um legado que ultrapassa os limites do Petit Trianon: o bruxo do Cosme Velho está prestes a se tornar, de vez, o maior filão do mercado editorial brasileiro. E não seria diferente na celebração do centenário da sua morte: oficialmente, os festejos deveriam começar apenas em 2008 (1839-1908), mas uma avalanche de livros temáticos já estão nas prateleiras, ou vão tomá-las de assalto nos próximos meses. Além disso, correm soltas palestras, seminários e conferências sobre o maior escritor brasileiro - e aí repousa a principal questão dos eventos: o que faz de Machado um gênio? Este debate pode ser conferido nas páginas 4 e 5 deste caderno.
Enquanto a ABL não define a programação oficial em parceria com as comissões do governo federal (encabeçada pelo senador, e imortal, Marco Maciel), o leitor já pode se divertir com os 50 contos de Machado de Assis (Companhia das Letras), seleção do especialista inglês John Gledson. Ou com o livro Capitu, memórias póstumas, do imortal Domício Proença Filho, relançado pela Record. Ou ainda com Machado de Assis, um curso literário oferecido por Alfredo Pujol, editado pela Imprensa Oficial.
A lista dos livros no prelo é extensa. Infelizmente, livros fundamentais para a compreensão da permanência e atualidade de Machado, no entanto, estão esgotados, sem qualquer previsão de reaparecerem: Machado de Assis: o homem e a obra - Os personagens explicam o autor, de Mário Matos, publicado em 1939 pela Companhia Editora Nacional, no centenário do escritor; Machado de Assis: estudo crítico e biográfico, de Lúcia Miguel-Pereira, também editado pela Companhia Editora Nacional, em 1988; e Viagem em torno a Machado de Assis, do pesquisador Agripino Grieco, que saiu em 1969 pela Martins. Fica a dica para os editores mais atentos.
As lembranças não ficam só nas prateleiras. Ainda neste semestre, começam as filmagens de Capitu, do diretor Marcus Vinicius Faustini, com Maria Ribeiro e Caio Blat nos papéis de Capitu e Bentinho. Segunda-feira, na Casa de Rui Barbosa, uma palestra gratuita do pesquisador Alfredo Bosi abordará As leituras de Machado de Assis. A secretaria municipal de Culturas organizará quatro eventos: os Saraus de Machado (espetáculo de leitura de contos com música ao vivo em sete pontos da cidade); Maratona Machado de Assis (três horas e meia de leitura de trechos dos romances); Hora do conto (contistas modernos vão aproximar os leitores não-acadêmicos da obra do escritor), além de espetáculos itinerantes em escolas municipais mesclando teatro, contação de histórias e música.
Com esta edição, o Idéias declara aberta a temporada do bruxo. O outro, o do Cosme Velho.
Quando a ironia faz boa cama com a saudade
Mariana Filgueiras
O próprio Machado autorizou futuros escritores a completarem os "buracos" da sua obra. Valendo-se da deixa, o acadêmico Domício Proença Filho tomou a parte que lhe cabia do legado. No intervalo de dois capítulos de Dom Casmurro, percebeu uma elipse de quatro ou cinco anos na narrativa. No fim do primeiro, Bentinho se inscrevera na faculdade de direito de São Paulo. No início do segundo, já tinha terminado o curso.
- Eu pensei: maravilha! Tenho todo este tempo para recriar a vida de Capitu. Que era uma paixão antiga. Quando li Dom Casmurro, ainda adolescente, me apaixonei por ela. Eu pensava: qual a defesa dela? Por que ela não fala? Um dia alguém tem que dar a voz a ela - conta Domício, um machadiano convicto, à frente de cinco títulos sobre o autor. - Mas como escrever esta história? Eu pensei em encontrar uma pasta com fundo falso, com manuscritos de Capitu. Mas é um lugar- comum de lascar. Aí eu imaginei encontrar a tetraneta de Capitu, que guardaria algumas cartas, mas é outro recurso batidíssimo. Liguei para o meu filho, que me disse: "Ué, deixe a moça falar". E deixei ela falar. Simples assim.
Capitu, memórias póstumas acaba de ser relançado, em terceira edição. A idéia, segundo Domício, estalou concomitantemente em Fernando Sabino, sem que um soubesse do outro. Enquanto ele deu a Capitu a primeira pessoa, Sabino fez uma leitura do romance com a narrativa em terceira. O acadêmico prepara ainda, para o ano que vem, um roteiro didático de leitura do clássico: Roteiro de Dom Casmurro, a ser editado pela Ática.
Outro lançamento que não esperou a efeméride é a seleção de contos organizada pelo especialista inglês John Gledson: 50 contos de Machado de Assis. As seleções de contos de Machado são as apostas mais comuns de editoras quando o assunto é o escritor mulato. De acordo com os estudiosos, nada mais há de inédito a se descobrir. O que diferencia as edições são os recortes e leituras críticas. Enquanto vivo, Machado publicou 76 contos. O público, entretanto, tem a seu dispor mais de 200. Os 50 escolhidos por Gledson tiveram o corte do tempo. Foram escolhidos apenas os contos publicados a partir de 1878.
- Para o leitor atual, os contos anteriores não têm a força e a convicção dos posteriores - determina Gledson. - O primeiro, "O machete", que é desse ano, pertence à fase em que Machado não tinha alcançado o tom, o jeito narrativo, que agora chamamos "machadiano". No segundo conto, "Na arca", publicado alguns meses mais tarde, o Machado familiar está funcionando a pleno vapor, com aquela ironia, com uma pitada de sarcasmo, que caracteriza Papéis avulsos, coletânea publicada pouco depois de Memórias póstumas de Brás Cubas, em 1882.
O especialista ressalta a dificuldade em excluir alguns contos da maturidade de Machado, e admite que foi guiado pelo gosto do público:
- Incluí sobretudo os contos dos anos 80, que me parecem os mais criativos, engraçados, perspicazes. Uma antologia de 50 contos dá mais latitude para incluir o crème de la crème, e a edição ganha a vantagem de contar com notas explicativas e um mapa do Rio de Janeiro, o que para mim é um prazer especial. Gosto de acompanhar as personagens nas suas andanças pela cidade.
Cercado de tantos estudos, reflexões e assertivas por conta da celebração do centenário de morte, o que mais ainda há por ser dito sobre Machado?
- Ele tem uma peculiaridade: só trabalha com temas universais. O amor, a morte, a existência, o ciúme, a vaidade, a solidão. A busca da perfeição. As características da condição humana que a ferrugem de cronos não consegue desbastar. E ele amortece a tragédia com o trato da ironia e do humor. Ameniza a melancolia com a galhofa. Com o humor. E o melhor humor, que é o humor de linhagem inglesa. Não é o humor da gargalhada, é o humor do sorriso. Com isso, ele consegue uma permanência na expectativa do leitor - ensina o professor Domício, encantado com a perspectiva de uma avalanche de títulos machadianos nas prateleiras nacionais. - O texto literário, no meu entender, tem duas características fundamentais: uma é esta universalidade. A segunda é a multisignificação; ou seja, o texto se abre às mais variadas leituras. Logo, atravessa olhares cada vez mais armados e diferenciados, passando por todas as épocas.
Sobre os temas universais, John Gledson observa que, no fim da vida do escritor, o gênero conto já não lhe caía como uma luva, como antes.
- Com algumas exceções, como "O caso da vara", "Missa do galo", "Pai contra mãe". Em boa parte, creio que é uma questão dos assuntos abordados, que nos anos 80 muitas vezes têm um elementozinho de risco ou de controvérsia, que parece que espicaça o autor. É o que o leitor vai descobrir.
Um bruxo com fama de fantasma
Alvaro Costa e Silva
De uns tempos a esta parte, Machado de Assis tem aparecido, de maneira até certo ponto exagerada, como personagem - em carne e osso! - da literatura brasileira. Além disso, seus romances maiores têm servido de base e inspiração para diversas obras contemporâneas. É como se o bruxo fosse um fantasma a assombrar nossos autores, que, da sua influência, não conseguem fugir para vôos solos e mais originais.
Note-se que aqui não se vai comentar livros do tipo pau-de-sebo, os quais costumam abundar neste período que ora se inicia de efeméride redondíssima (os 100 anos da morte de Machado de Assis em setembro do ano que vem). Aqui vai-se falar de outros autores, menos oportunistas.
Talvez o exemplo mais acabado dessa safra de volumes machadianos seja o publicado mais longe no tempo: Memorial do fim: a morte de Machado de Assis, de Haroldo Maranhão, cuja primeira edição, da editora Marco Zero, saiu em 1991. Morto em 2004, o paraense Maranhão expõe Machado em seus dias de ocaso e morte, na forma e no estilo de um Aires (quase) do além. E acrescenta uma pitada de escândalo: teria o escritor, depois da morte de sua adorada Carolina, nutrido amores por uma leitora? Mas o que mais chama a atenção é o prodígio de mimetismo literário do romance. Por vezes, tem-se a impressão de que o discípulo foi além do mestre, exagerando nos maneirismos de estilo.
Não se pode dizer que Fernando Sabino exagerou. Na verdade, foi corajoso. Sabe-se o quanto o escritor mineiro foi influenciado pelas cartas que trocou, ainda menino de calças curtas mas já com veleidades literárias, com Mario de Andrade. No livro Cartas a um jovem escritor, mais importante que a sugestão do nome - "Tavares Sabino, Fernando Tavares, Fernando Sabino. O que é impossível é Fernando Tavares Sabino" - são as constantes referências a Machado, que decerto calaram fundo no aprendiz. Logo na primeira correspondência, de janeiro de 1942, lê-se: "Seus contos são leves e delicadas transposições líricas da vida (....) ou irônicas transposições realísticas da vida. Estou pensando em Machado de Assis". Mais adiante: "Você tem que trabalhar dia por dia. Como um Machado de Assis". Em agosto de 1943: "É assombroso como você está escrevendo bem a prosa de ficção. É uma coisa admirável a sua linguagem e o seu estilo. Você está escrevendo tão bem como Machado de Assis!".
Portanto, não é de admirar que Fernando Sabino sempre pusesse Machado (ao lado do americano Henry James) nas alturas. E, em mais uma tentativa de romper o bloqueio romanesco que sofreu depois publicação e do sucesso de O encontro marcado, de 1956, resolvesse decifrar o que chamava de "o mistério de Capitu". A recriação literária Amor de Capitu: o romance de Machado de Assis sem o narrador Dom Casmurro passou quase despercebida, na edição da Ática, de 1999. Nela, como o longo subtítulo indica, discute-se a óbvia infidelidade da personagem principal. Daí a experiência de, utilizando-se da terceira pessoa, eliminar o narrador idoso, digressivo, rancoroso, casmurro. Sabino reconhece que levar a cabo sua intenção "não deixa de ser uma temeridade". Por isso mesmo, vale a leitura.
Também corajoso foi o acadêmico Domício Proença Filho, que resolveu, na recriação Capitu: memórias póstumas, dá voz à adúltera, para contar "a sua verdade". Outra empresa temerária (que o próprio Domício Proença explica melhor na reportagem da página ao lado).
O escritor Antonio Fernado Borges, de todos, parece ter resolvido melhor o problema da influência. Não deixou de ser ele mesmo, Antonio Fernado Borges, sendo machadiano. No romance Braz, Quincas & Cia (Companhia das Letras, 2002), problematizou - para usar um jargão acadêmico - a obra do ídolo, com resultados acima da média. Não satisfeito, resolveu reunir o portenho Borges - outra de suas obsessões e que já lhe valera o livro de contos Que fim levou Brodie? (Record, 1996) - ao carioca Machado, no romance Memorial de Buenos Aires (Companhia das Letras, 2006). A boa sacada em trocadilho do título é apenas um aperitivo.
No livro Bolha de luzes (Companhia das Letras, 1998), do diplomata João Inácio Padilha, há um conto em que se evoca Machado. Trata-se da história de dois obscuros diletantes das letras - o narrador, que acaba de proferir uma conferência no Real Gabinete Português, não por acaso um cenário machadiano, e Otacílio da Silveira, que tem nome de e é professor. Este afirma ter avistado, nos dias de sua juventude, ninguém menos que Machado de Assis em plena Rua do Ouvidor - no relato, a ação transcorre em 1947. E que viu nele um grande viajante. Como se sabe, o mais longe que o escritor carioca esteve foi Barbacena, cenário do delírio de Rubião, e mesmo assim, lá, em cima de um cavalo, quase lhe deu o prego. "O senhor reparou como a Europa" - pergunta o professor no início da narrativa - "ou a representação que o mestre fazia da Europa, era um antro de libertinagens em seus escritos de juventude? Ele não confessava nem aos melhores amigos, mas sentia um enorme gozo, uma enorme inveja dos seus próprios heróis, quando os despachava para a Europa".
Finalmente, uma última menção: o romance Por onde andará Machado de Assis - do médico Ayrton Marcondes, lançado em 2004 pela editora Nankin - ocupa-se, como é dito numa advertência ao leitor, de um outro, o manuscrito deixado pelo conselheiro Aires e publicado em 1904 com o título Esaú e Jacó, sob o pseudônimo de Machado de Assis. O livro, que tem lá a sua originalidade, retoma os enigmas e personagens de Esaú e Jacó, estabelecendo com ele um diálogo irônico e paródico.
Ora, paródias, pastiches, paráfrases existem desde os primeiros tempos da literatura. Homero, Dante, Virgílio são constantes vítimas delas. O uso de autores ou grandes personalidades históricas como personagens de obras de ficção, idem. Basta lembrar O papagaio de Flaubert, de Julian Barnes. O que preocupa é o crescente machadismo.
Três vezes Dom Casmurro
Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso.
- Continue, disse eu acordando.
- Já acabei, murmurou ele.
- São muito bonitos.
Vi-lhe fazer um gesto para tirá-los outra vez do bolso, mas não passou do gesto; estava amuado.
No dia seguinte entrou a dizer de mim nomes feios, e acabou alcunhando-me Dom Casmurro.
Machado de Assis (Dom Casmurro)
Quando Bento Santiago ia entrando na sala de visitas, ao ouvir José Dias falar seu nome, escondeu-se atrás da porta. A casa era a Rua de Matacavalos, o mês novembro, o ano de 1857.
- Dona Glória, a senhora insiste na idéia de meter nosso Bentinho no seminário? É mais que tempo e agora pode haver uma dificuldade.
- Que dificuldade?
- Uma grande dificuldade.
A mãe de Bento quis saber o que era. José Dias, depois de alguns instantes de concentração, veio ver se havia alguém no corredor; não deu com ele, voltou e, abafando a voz, disse que a dificuldade estava na casa ao lado, a gente do Pádua.
Fernando Sabino (Amor de Capitu)
Só agora, decorrido tanto tempo humano, posso, finalmente, constestar as acusações contra mim feitas pelo meu ex-marido, o dr. Bento Santiago. E fazê-lo, porque, nestas paragens que ora habito, aprendi, com meu irmão Brás Cubas, as artes da narrativa além-tumular. Ficamos amigos, ele, eu e o senhor Quincas Borba, o filósofo, um homem extraordinário, não tão louco como alguns pensam e escreveram. Afinal, somos criados da mesma pessoa, diante de quem, confesso, fico dividida, talvez por força da ambigüidade do seu texto: ao mesmo tempo que o admiro, há um lado meu que o rejeita. Ele é o grande responsável por tudo o que me aconteceu.
Domício Proença Filho (Capitu: memórias póstumas)
Machado de Assis em Londres
Marcos Vinicios Vilaça
Entre os dias 18 e 22 de junho passado, o maior dos escritores brasileiros - cujo humor de estilo britânico tem sido, aliás, sempre recordado - esteve em evidência em Londres. Com a impecável organização da embaixada do Brasil, a Semana Machado de Assis abriu a série de manifestações - especialmente da Academia Brasileira de Letras - a celebrar, até o final de 2008, o centenário de seu falecimento.
Quando me tocou falar, na abertura da semana, cuidei de ressaltar alguns tópicos machadianos. Cito alguns deles de forma resumida:
- Machado de Assis viveu e foi protagonista de importante momento da vida do Brasil, aquele que marca a passagem da Monarquia para a República;
- Machado é um tríbio. Temos que vê-lo no que antecede a essa transição, na própria transição e no que a ela se sucedeu;
- Tudo tinha seu estuário no Rio de Janeiro, capital do país, onde viveu Machado de Assis sem de lá sair, exceção de brevíssimos períodos em que se deslocou para Nova Friburgo, na região serrana a poucos quilômetros;
- Viveu no Rio e foi o melhor intérprete da sociedade de então;
- Nesse período fundou, sob a idealização, entre outros, de Lúcio de Mendonça, a Academia Brasileira de Letras. É um tempo muito curioso. Começa a moda da galocha, do paletó jaquetão, do soneto, do chopp, do chuveiro, da Gillete, da Kodak, da injeção - sobretudo contra a sífilis - da substituição do carneirinho pelo velocípede como brinquedo de criança e do presépio pelo Papai Noel, da governanta inglesa, do futebol, do habeas corpus, da caricatura política alongada em caricatura social veiculada na imprensa que contava com a constante e prestigiosa presença de Machado de Assis;
- Esaú e Jacó certamente é a melhor investigação romanceada do período em que saímos da Monarquia para a República. Os tipos que nele se encontram desdobram as paixões e o contraditório, expondo certa suavidade da mudança. Mais que mudança, uma transformação;
- Tornou-se consensual que Machado de Assis não se apaixona pela política. Inegavelmente nunca a ignorou como cronista ou romancista. Por isso mesmo, participou também da acesa discussão sobre a transferência da capital do país;
- Falava-se em instalar o governo da República em cidades serranas do Estado do Rio de Janeiro, mas Cruls já batia pernas pelo Planalto Central, cuidando dos instantes seminais do que mais tarde viria a ser Brasília. E Machado opinava: "Não há dúvida que uma capital é obra dos tempos, filha da História. As novas devemos esperar que serão habitadas logo que sejam habitáveis. O resto virá com os anos";
- O desfile de perfis políticos está mesmo nas crônicas de A Semana, entre elas o texto clássico "O Velho Senado", mas há nos romances políticos como Lobo Neves, supersticioso e fátuo; Camacho, cabo eleitoral típico; Teófilo, ansioso por se tornar ministro; Brotero, o das aventuras amorosas e não podemos esquecer o brasileiro Tristão, a naturalizar-se português para se eleger deputado por lá. Também o deputado Clodovil a viajar pela Europa.
O entorno de amigos de Machado estava farto de políticos: Alencar, Francisco Otaviano, Bocaiúva, Joaquim Serra e o maior deles: Joaquim Nabuco.
Quando o Império enfardelou os trapos e a República chegou, é aconselhado a retirar da parede da repartição onde trabalhava o retrato do Imperador. Machado, solenemente esclarece: "O retrato chegou aqui com uma portaria e só sai com outra portaria".
Em certa crônica na Gazeta de Notícias, numa fase de altas turbulências, apelou à esperança dizendo: "Supunha o mundo perdido em meio de tantas guerras e calamidades, quando respirei aliviado: encerravam-se em Londres, com grande brilho, as festas de Shakespeare".
Pois bem, brilharam em Londres as festas de Machado.
Jornal do Brasil (RJ) 4/8/2007
06/08/2007 - Atualizada em 05/08/2007