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Um século sem Machado de Assis

 

O ano será de celebrações ao escritor brasileiro que tem sua obra reconhecida em nível internacional

Luiz Fernando Vieira - Da Redação

Em 29 de setembro deste ano completa-se um centênio que Machado de Assis - para muitos o maior romancista da literatura brasileira -morreu. Por conta da data, 2008 será de celebrações ao escritor fluminense, com eventos especiais e lançamentos de livros. Em nível de país foi assinado um convênio entre o Ministério da Cultura (MinC) e a Academia Brasileira de Letras (ABL) para a realização de diversas ações em conjunto visando o Ano Nacional Machado de Assis. Em Mato Grosso, por enquanto, a 6ª edição do Prêmio Adeptus de Literatura faz homenagem a Machado e premia os vencedores com livros e assinaturas do jornal A Gazeta.

No Estado o escritor vem sendo lembrado desde o ano passado, quando a doutora em Literatura de Língua Portuguesa Yasmin Nadaf lançou o livro Machado de Assis em Mato Grosso. Com a obra, Yasmin também homenageia os escritores mato-grossenses que fizeram referência a ele em algum momento. "Ao reportar o status que Machado ocupou dentro das nossas letras eu também estou ressaltando trabalho dos nossos autores críticos", disse à época. Segundo ela, é clara sua influência e a admiração que sentiam pelo cronista e romancista. Muitos se espelharam na crônica folhetinesca de Machado, em seus contos e romances, lembrou.

Machado de Assis serviu de inspiração desta vez para os organizadores do Prêmio Adeptus de Literatura, que chega a sua sexta edição. Como seu forte era a prosa, o certame este ano selecionará trabalhos como crônicas e contos inéditos, com tema livre. Quem quiser participar, pode se inscrever na livraria Adeptus até o dia 19 de março. Cada candidato poderá inscrever até três trabalhos. Os cinco primeiros lugares receberão prêmios nos valores de R$ 400, R$ 300, R$ 200, R$ 100 e R$ 50 em livros a serem retirados na livraria, além de uma assinatura do jornal A Gazeta. A comissão de seleção será formada por profissionais indicados pela Associação dos Amigos do Livro Mato-grossense (AlimeMTo).

O Ano Nacional Machado de Assis será celebrado em conjunto pelo MinC e pela ABL, que assinaram um termo de cooperação no final de novembro de 2007, em Brasília. O ministro Marcos Vilaça, então presidente da academia, adiantou na oportunidade que a instituição deverá propor uma série de iniciativas voltadas à divulgação do legado literário do primeiro presidente da instituição. O ministério pretende incluir na programação oficial a realização de uma série de eventos como, por exemplo, seminários, conferências e exposições. Também constam do projeto o lançamento de coletâneas e edições comemorativas, além de publicações sobre a vida e a obra do autor.

Já entre as editoras e mídia em geral, a movimentação já começou com o lançamento de algumas obras e o anúncio de outras e uma minissérie. Alguns livros inclusive trazem abordagens interessantes sobre a obra e a vida de Machado de Assis. Um dos mais recentes é O Olhar Oblíquo do Acionista (Jorge Zahar Editores), do economista Gustavo Franco, que resgata a visão de Machado de Assis sobre temas econômicos e financeiros. A obra apresenta uma coletânea de crônicas do escritor que tratam dos grandes temas e polêmicas econômicas das duas últimas décadas do século 19, começando pela preguiçosa rotina do Império, passando pela Abolição, pela República e pela sucessão de reformas modernizantes introduzidas. Machado também dedica muita atenção às reformas bancárias, à euforia especulativa e às crises posteriores no câmbio, nos bancos e nas finanças públicas.

De dentro da ABL mesmo vem a notícia de que o acadêmico Sérgio Paulo Rouanet organiza a publicação das correspondências de Machado de Assis. Como são muitas cartas inéditas, o material deverá sair em dois volumes. A ABL prepara ainda o lançamento de todos os livros do escritor fluminense a preços bem populares, além de um dicionário machadiano, assinado por Ubiratan Machado. Em breve, a Editora Record promete colocar nas prateleiras de todo o país o Almanaque Machado de Assis - Vida, obra, curiosidades e bruxarias literárias, de Luiz Antônio Aguiar (organizador).

E já está à venda o dicionário Machado de Assis - Ontem, Hoje e Sempre, que faz parte de uma parceria entre o Grupo Zaffari e a ABL. O trabalho tem acabamento luxuoso, formato grande e vem ilustrado com fotos raras do escritor, além de notas biográficas de importantes estudiosos de sua obra. É fruto de um estudo realizado por pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com coordenação de Luiz Coronel.

E quem gosta ou está curioso por conhecer a obra de Machado de Assis mas não tem dinheiro para comprar os livros, pode optar por baixá-los sem custos pelo site Domínio Público. Trata-se de uma biblioteca virtual desenvolvida em software livre pelo governo federal onde se pode conseguir boa parte do universo literário machadiano, assim como de outros autores de Língua Portuguesa. São mais de 300 obras só do "bruxo" e os arquivos estão em PDF. O endereço é www.dominiopublico.gov.br.

Na televisão, a promessa é de que uma microssérie seja apresentada no segundo semestre, pela Rede Globo. Será uma adaptação e Dom Casmurro, assinada por Euclydes Marinho, com direção de Luiz Fernando Carvalho.

Mini-biografia - O "Bruxo do Cosme Velho", batizado Joaquim Maria de Machado de Assis, foi jornalista, cronista, contista, romancista, poeta e teatrólogo. Nasceu em 21 de junho de 1839, no Rio de Janeiro, cidade onde também faleceu, em 29 de setembro de 1908. Filho de um operário e uma dona de casa, perdeu a mãe muito cedo e, como não teve condições de realizar estudos regulares, foi um autodidata. É o fundador da cadeira nº 23 da Academia Brasileira de Letras (ABL), tendo sido seu primeiro presidente, cargo que ocupou por mais de dez anos.

Sua obra abrange, praticamente, todos os gêneros literários. Na poesia, inicia com o Romantismo de Crisálidas (1864) e Falenas (1870), passando pelo Indianismo em Americanas (1875) e o Parnasianismo em Ocidentais (1897-1880). Paralelamente, apareceram as coletâneas de Contos Fluminenses (1870) e Histórias da Meia-Noite (1873), e os romances Ressurreição (1872), A Mão e a Luva (1874), Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878).

Depois, Machado de Assis entrou na grande fase das obras-primas - Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891), Dom Casmurro (1899), Esaú e Jacob (1904) e Memorial de Aires (1908) -, que fogem a qualquer denominação de escola literária e que o tornaram o escritor maior das letras brasileiras e um dos mais significativos autores da Literatura de língua portuguesa. (com informações do MinC).

A Gazeta (MT) 5/1/2008

06/01/2008 - Atualizada em 06/01/2008