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Sérgio Buarque de Holanda e José Mindlin na Folha de Pernambuco

 

O jornal A Folha de Pernambuco publicou, no dia 12 de outubro, um editorial homenageando os Acadêmicos Sérgio Buarque de Holanda e José Mindlin. Leia abaixo a matéria retirada do jornal:


Editorial

Buarque, Mindlin e os livros

O bibliófilo José Mindlin foi eleito por aclamação membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) neste ano em que se completam 70 anos da publicação de Raízes do Brasil, obra clássica de Sérgio Buarque de Holanda. Nesses dois importantes fatos é significativa a presença do livro como instrumento do saber e denominador comum na vida de ambos.

José Mindlin conciliou duas vocações aparentemente separadas: a de quem buscou durante décadas títulos raros e de empresário vitorioso. Sob este último aspecto, destacou-se na década de 1970, quando sua fábrica – a Metaleve – engrandeceu, tecnologicamente, a indústria nacional pelo conceito desfrutado além das nossas fronteiras, produzindo, inclusive peças para os aviões da Força Aérea dos EUA, com autorização do governo norte-americano.

Incursionando na atividade política, ocupou uma secretaria no Governo de São Paulo, afastando-se do cargo por discordar do endurecimento do regime, dedicando mais tempo aos livros, em especial os raros e belos.

Quanto a Sérgio Buarque de Holanda, pertence à honrosa galeria dos “explicadores” do Brasil, pois “Raízes...” mergulha nas nossas origens, a fim de que melhor compreendamos o País que somos. Na mesma direção, aliás, seguida por outros “explicadores” como Raymundo Faoro (Os Donos do Poder), Gilberto Freyre (Casa Grande e Senzala), Celso Furtado (Formação Econômica do Brasil), Caio Prado Júnior (A Revolução Brasileira), Darcy Ribeiro, Antônio Cândido, Hélio Jaguaribe, Guerreiro Ramos, Roland Corbisier, José Honório Rodrigues, Paulo Prado, Manoel Bonfim e, mais remotamente, Capistrano de Abreu, um dos nossos primeiros historiadores (1843), autor de O Descobrimento do Brasil e seu Desenvolvimento no Século XVI.

Se vivo fosse, Buarque de Holanda teria 104 anos de idade. Na obra que perfaz 70 anos teria defendido a tese sobre “a inata cordialidade do homem brasileiro”, recebendo, por isso, críticas de integralistas, que a consideravam desvirilizante, enquanto boa parte dos comunistas também discordava, sob o argumento de que a cordialidade beirava a submissão, o conformismo, o concluio com as oligarquias.

Mas, o que seria, afinal, essa cordialidade? Na versão corrente da época. Ele a interpretaria como uma expressão coletiva, em que os impulsos emocionais se sobreporiam às formalidades e normas de conduta consagradas, podendo ser benéficos às pessoas situadas socialmente em camadas inversas, com afinidades ou inimizades. Desfazendo dúvidas, no entanto, esclareceu, posteriormente, ser um equívoco atribuir-lhe o crédito pela hipotética autoria, o que constitui um detalhe na sua expressiva produção literária.

Neste ano, portanto, a Academia Brasileira de Letras aclama uma personalidade de reconhecido valor intelectual, como José Mindlin, enquanto Sérgio Buarque de Holanda permanece redivivo com os 70 anos da publicação de Raízes do Brasil.

31/10/2006 - Atualizada em 30/10/2006