Presidente da ABL fala sobre a imortal obra machadiana na sede da ACL
DA REDAÇÃO
Quando, em dezembro do ano passado, o jornalista Cícero Sandroni, 73 anos, foi eleito presidente da Academia Brasileira de Letras, tinha entre os desafios da gestão organizar um evento para o centenário da morte de Machado de Assis, um dos maiores expoentes da literatura brasileira. De fato, várias atividades vêm sendo desenvolvidas com este propósito. Em Campos, a Academia Campista de Letras também não deixou de render suas homenagens. Dando continuidade ao ‘Ciclo de palestra: Memorial de Assis’, levou Sandroni à sua sede para falar sobre o ilustre fundador da ABL.
O encontro entre o presidente da Academia Brasileira, membros da ACL e comunidade aconteceu na última segunda-feira. Sandroni falou para uma atenta platéia que não hesitou em sair de casa num início de semana chuvoso para entrar em contato com as idéias do imortal sobre Machado de Assis. Como era de se esperar, a noite foi de eloqüentes elogios ao autor de ‘Memórias Póstumas de Brás Cuba’s. Sandroni enalteceu, sobretudo, a contemporaneidade de sua obra:
— O todo de sua obra continua inigualável. É incrível como ele escrevia, no século XIX, como se fosse para o Brasil de hoje — disse, referindo-se principalmente a uma de suas crônicas: ‘O Autor de Si Mesmo’, de 1895. O texto dá voz a um menino de dois anos de idade, vítima de um trágico e cruel acontecimento. Maltratado pelos pais, ele fora levado por eles a uma estrebaria, onde passou três dias, sem comer nem beber, coberto de chagas, recebendo bicadas de galinhas, até que veio a falecer. Nesse texto, baseado em uma notícia que apareceu nas folhas de um jornal da sua época, a temática é apresentada tendo como pano de fundo a compreensão que Schopenhauer (filósofo alemão) tem do amor.
Com a citação da crônica, foi inevitável a alusão ao caso da menina Isabella Nardoni. “Todos os dias ouvimos notícias assim... notícias de crianças maltratadas, crianças jogadas do 6º andar... Ele dá voz ao menino, que não se queixa da morte. E faz isso não para explorar as lágrimas dos leitores, mas para falar da condição humana”, comentou o imortal, genro de Austregésilo de Athayde, que presidiu a ABL de 1959 até morrer, em 1993.
Sandroni seguiu falando da inspirada obra machadiana. Citou ‘Dom Casmurro’, ‘Memorial de Aires’, ‘Esaú e Jacó’ e tantas outras. Relembrou personagens inesquecíveis, como Capitu e Quincas Borba. Aplaudido de pé, encerrou a participação posando para a foto oficial ao lado da presidenta da ACL, Arlete Sendra, e demais acadêmicos.
Paulistano, que foi para o Rio aos 11 anos, o autor de ‘O Diabo Só Chega ao Meio-dia’ (1985) e ‘O Peixe de Amarna’ (2003) fez questão de deixar como mensagem, que a obra de Machado de Assis é mesmo imortal: “Sua presença na alma brasileira continua indelével”, resumiu.
Monitor Campista (RJ) 16/4/2008
16/04/2008 - Atualizada em 15/04/2008