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O imortal e o bruxo na praça

 

Moacyr Scliar fala sobre a infância de Machado de Assis na abertura da Feira do Livro de Joinville

Rodrigo Schwarz

A Feira do Livro de Joinville abre hoje discutindo o mais importante tema da literatura brasileira: a obra de Machado de Assis. Para falar sobre o Bruxo do Cosme Velho, morto há cem anos e admirado por nomes como Woody Allen e Salman Rushdie (autor de “Os Versos Satânicos”), está na cidade o escritor gaúcho Moacyr Scliar. Ele lançou recentemente o livro “O Menino e o Bruxo”, que aborda a infância de Machado de Assis e mostra como um garoto mulato, pobre e gago tornou-se o maior escritor do Brasil.

Moacyr Scliar é a grande atração da Feira do Livro, montada na praça Nereu Ramos, no centro de Joinville. Além dos estandes de livros com preços promocionais, o público poderá conferir, até o dia 13 de abril, bate-papos com autores locais e atrações musicais e teatrais (todas gratuitas). Scliar falará ao público em dois horários, às 9h30 e 19h30.

Pela manhã, ele discutirá seu livro sobre Machado de Assis e, à noite, abordará suas outras obras, como “A Mulher que Escreveu a Bíblia” e “Exército de um Homem só”. O escritor conversou com a reportagem de A Notícia sobre “O Menino e o Bruxo”, sua intensa produção literária – quase uma centena de títulos publicados – e a vida como imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL). Confira abaixo a entrevista.

Os escritores Deonísio da Silva e Lya Luft cancelaram a vinda para Joinville. Entre os autores que marcam presença no eventoestão Borges de Garuva, Jura Arruda, Rodrigo Schwarz, Carlos Henrique Schroeder e Rubens da Cunha.

Como surgiu a idéia de transformar a história de Machado de Assis em um livro para crianças e adolescentes?

Moacyr Scliar – Sou fã de Machado há muito tempo e sempre me impressionou a sua história pessoal, particularmente no que se refere à infância que, aliás, é pouco conhecida. A idéia do menino Machado encontrando o velho Machado “catapultou” a narrativa.

Acredita que ainda é possível um menino de origem pobre se tornar um escritor conhecido mundialmente, como aconteceu com Machado de Assis?

Scliar – É até mais possível. Na época do Machado de Assis, a grande maioria da população era analfabeta. Hoje, muitos jovens, mesmo pobres, lêem, escrevem, vão à escola. Além disso, os meios de divulgação dos textos aumentaram muito, por exemplo, com a internet. Ou seja, jovens talentosos têm mais facilidade de mostrar seu trabalho.

O senhor já escreveu quase uma centena de livros. Como concilia essa intensa produção de escritor e colunista com as demais tarefas do dia-a-dia e a vida familiar?

Scliar – Realmente, minha vida é movimentada: escrevo livros, escrevo para vários jornais, viajo muito, pelo País e pelo exterior, mas a verdade é que gosto disso e dou um jeito de aproveitar o tempo. Em viagem, por exemplo, estou sempre ao laptop, escrevendo. Minha mulher (professora de inglês) e meu filho (fotógrafo) também são muito ativos e me apóiam. Minha atividade como médico de saúde pública e professor universitário reduziu-se bastante. Hoje, faço parte de grupos de trabalho da Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul e do Ministério da Saúde, o que me mantém “ligado” à área, mas não me toma muito tempo.

Está escrevendo mais alguma obra, recentemente?

Scliar – Estou trabalhando numa coleção de histórias que têm como tema, e título provisório, “Os Homens e suas Insólitas Paixões”.

Sentiu alguma mudança significativa em sua vida após entrar para a Academia Brasileira de Letras (ABL)?

Scliar – Vou à ABL sempre que posso, tomo o chá (magnífico!), convivo com escritores e intelectuais, mas devo dizer que minha vida não mudou nada. A ABL é importante, e neste ano Machado de Assis está sendo mais importante ainda (cursos, palestras, publicações). Mas a hora da verdade, para um escritor, ocorre quando ele está escrevendo.

A Notícia (SC) 4/4/2008

04/04/2008 - Atualizada em 03/04/2008