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No velório, amigos lembram amor pelo país

 

O Globo  (17.07.2000)


O corpo do jornalista Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho foi velado ontem no salão dos poetas da Academia Brasileira de Letras (ABL) por familiares, imortais, políticos e artistas. Durante o velório, uma bandeira do Fluminense e outra do Brasil foram postas sobre o caixão, que chegou à ABL às 14h30m. Hoje, às 10h, haverá missa de corpo presente rezada pelo padre e acadêmico Fernando Bastos de Ávila. O enterro será às 11h, no mausoléu da Academia, no Cemitério São João Batista, em Botafogo. Antes, o cortejo passará em frente à Associação Brasileira de Imprensa (ABI).

O Presidente da ABL, Tarcísio Padilha lamentou a perda do amigo e jornalista.

- Ele foi um dos pais da pátria. Era um enamorado das causas nacionais. Hoje estamos mais pobres com sua ausência. O Brasil perde uma de suas referências - disse ele, lembrando que, na próxima quinta-feira, aniversário de 103 anos da Academia, haverá uma sessão-saudade, às 16h, em homenagem ao imortal.

Um dos quatro filhos de Barbosa Lima, o advogado Carlos Eduardo, de 61 anos, disse que seu pai estava sempre atento a todos os acontecimentos:

- Ele era um homem lúcido e extremamente dócil, compreensivo, altamente democrático.

- Ele era a maior figura que o Brasil produziu neste século. Um homem íntegro, um verdadeiro patriota, que esteve sempre à frente de grandes causas como as Diretas Já e o impeachment de Collor - lembrou o ex-presidente da ABL e sócio remido da ABI, Arnaldo Niskier.

O acadêmico Antônio Olinto também ressaltou o amor que o jornalista tinha pelo país:

- Com uma posição nacionalista íntegra, ele queria de fato que o Brasil fosse uma grande nação. Era um modelo de homem público, escritor, para mim, o homem mais importante do século 20.


Para o imortal Josué Montello, Barbosa Lima "soube ser um grande brasileiro".

- Ele era o que sobrava de uma geração representativa da cultura brasileira, que me precedeu na ABL. Sempre tive por ele o maior carinho, respeito e admiração. E uma grande afeição que foi consolidada pelo tempo. Poucas pessoas tiveram a fidelidade dele à solução de problemas. Barbosa soube ser homem de letras, político e, acima de tudo, um grande brasileiro.

Presidente da Fundação Biblioteca Nacional e ex-ministro da Educação e Cultura, o acadêmico Eduardo Portella também esteve no velório.

- É uma perda para a Academia, para a cultura brasileira e para nossa cidadania - avaliou. - Ele era um servidor da causa pública.

- Ele não era apenas um grande homem e um grande jornalista. Era um patrimônio moral e intelectual do Brasil. Homens com a estatura dele são raros. Nós, na verdade, perdemos um ser que é História. Poucos como ele conseguiram isso de maneira tão indelével - apontou o poeta e acadêmico Carlos Nejar.

O ex-governador e candidato à Prefeitura do Rio, Leonel Brizola, chegou à ABL às 18h, na companhia de Miro Teixeira, líder do PDT na Câmara.


- Achávamos que esse dia nunca ia chegar, que íamos antes dele - disse Brizola. - Ao longo dessa vida, Barbosa Lima construiu um círculo tão amplo, que fomos nos filiando. Ele tornou-se uma espécie de patriarca dessa nação. Todos nós nos sentimos profundamente abalados. Se o país se inspirar nos exemplos de dignidade e, sobretudo, de patriotismo dele, essa nação não terá o que temer no futuro.

Uma hora depois, o também candidato a prefeito César Maia chegou ao velório. Depois de cumprimentar cordialmente seu adversário político, rezou em frente ao caixão.

- Espero que as escolas e os políticos brasileiros olhem para o exemplo do Barbosa Lima para tomar um banho de patriotismo e construir assim um Brasil muito melhor - disse Maia, que permaneceu por dez minutos no velório.

Também estiveram ontem na ABL Cícero Sandroni, um dos membros do Conselho da ABI; Mauro Dória, conselheiro do Fluminense, time do qual Barbosa Lima foi eleito presidente de honra no ano passado; o candidato a prefeito do Rio pelo PSB Alexandre Cardoso; o deputado federal Vivaldo Barbosa; o secretário estadual de Justiça, João Luiz Pinaud; e Marcelo Cerqueira, presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros, do qual Barbosa Lima era membro desde 1935.

Do Recife, o presidente nacional do PSB, Miguel Arraes, lamentou a morte:

- Perco um amigo, alguém determinante em minha vida, e o Brasil perde uma das grandes figuras desse século. É difícil encontrar alguém com a firmeza de posição de Barbosa Lima. Com o tempo, suas convicções foram acentuadas, ao contrário de outros que com o tempo vão mudando de posição. Era uma pessoa voltada para os interesses sociais.


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09/06/2006 - Atualizada em 08/06/2006