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Lançamento do livro "A Democracia Traída"

 

A Academia Brasileira de Letras, em parceria com a Editora Globo, promove no dia 16 de dezembro, terça-feira, às 18h30min, o lançamento do livro "A Democracia Traída", do historiador Raymundo Faoro.

O livro "A Democracia Traída", do jurista, historiador e pensador Raymundo Faoro, reúne uma importante série de entrevistas concedidas durante o período fundamental entre os últimos anos do governo militar e o governo FHC — incluindo, portanto, todos os principais episódios de nossa história política recente, como o movimento das “Diretas Já”, a eleição indireta de Tancredo Neves, a Constituinte de 1988 e os governos Sarney e Collor.

As entrevistas, cobrindo mais de duas décadas entre os anos de 1979 e 2002 (num total de dezesseis encontros), foram realizadas por um grupo de jornalistas renomados liderados por Mino Carta, com a participação de Mauricio Dias, Antonio Carlos Prado, Bob Fernandes, José Onofre, Nelson Letaif e Nirlando Beirão, e publicadas originalmente nas revistas IstoÉ, IstoÉ Senhor e CartaCapital. O volume foi organizado por Mauricio Dias (também autor das notas de rodapé, que esclarecem pontualmente as referências feitas, e das que introduzem e contextualizam cada entrevista) e prefácio de Mino Carta, além de conter índice onomástico.

Raymundo Faoro é conhecido como o autor do fundamental "Os donos do poder", clássico diagnóstico do patrimonialismo nacional, da “privativação” do Estado pelas elites brasileiras, com todas as conseqüências para a (não) cidadania. Durante os anos em questão, porém, seu nome esteve na linha de frente do debate político, a partir de sua atuação na histórica presidência da OAB – de onde travou um combate jurídico contra o governo militar em torno da tortura –, e em seguida na anistia, na campanha pelas eleições diretas e na convocação da Constituinte.

Na síntese do organizador: “Este livro é, essencialmente, o diálogo de um dos maiores intelectuais brasileiros com a política brasileira”. O arco de temas desse diálogo é bem sintetizado pelos títulos das entrevistas, que começam com “O funeral da ditadura” e terminam com a premonitória “Se o Lula for eleito e contemporizar…”, passando por “A democracia absorveu a ditadura”, “Uma Constituinte tutelada”, “O país é pré-capitalista”, “Uma armadilha para o PT”, “A elite brasileira é marginal” e “O preço da reeleição”, entre outros.

O que explica o título do livro: “Uma transição feita sob as ordens do ditador: lenta, gradual e segura. Um biombo transparente do velho lema conciliador: mudar para proteger. Ao evitar a ruptura com as regras que consolidavam o autoritarismo fardado migrou-se para um regime de autoritarismo civil que traiu o estabelecimento de uma democracia plena. O entulho foi escondido sob o tapete. As respostas de Raymundo Faoro denunciam todo esse processo que impediu, mais uma vez, que germinasse a semente de um país menos injusto”.

Trecho:

- Uma possível vitória de Lula significaria que o país teria um governo de esquerda?

Eu não chamaria de esquerda. O PT poderia mudar a orientação histórica do país. Este país é um país de exploração. O pobre é cada vez mais pobre. Lula significaria a vitória dessa camada contra a outra. Governar, porém, contra as pessoas que no Brasil estão por cima é quase temerário. O Allende, no Chile, não conseguiu. O Chávez, na Venezuela, está indo penosamente, sempre com um risco enorme. Por outro lado, se o Lula for eleito e contemporizar, perderá o apoio do próprio partido. Aí passaria a ser um governante para os outros. Essa mudança é o passo mais difícil de ser dado. No Brasil, na África, na Ásia...

- Mas o senhor acha viável a ruptura radical com esse esquema de poder. Com essa orientação histórica do país, como o senhor disse?

Se essa ruptura para o alto for feita, as coisas podem se complicar muito. Mas essa questão da adesão ao poder me lembra a história de um falecido empresário de comunicação que, lá no começo dos anos 60 do século passado, comentou com um líder de esquerda que temia a implantação do comunismo no país. Foi acalmado pelo interlocutor, que lhe disse que, caso isso acontecesse, o empresário seria aproveitado. Meio desconfiando, o homem perguntou: “Será que eles aceitariam adesão de última hora?”.

Sobre o Autor:

Raymundo Faoro (Vacaria, RS, 1925) foi jurista, sociólogo, historiador e cientista político. Formou-se em direito pela então Universidade do Rio Grande do Sul. Em 1951, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde se tornou procurador do Estado, cargo em que se aposentou. Lançou Os donos do poder em 1958, pela Editora Globo. Em 1975, publicou Machado de Assis – a pirâmide e o trapézio e, em 1981, Assembléia Constituinte – a legitimidade resgatada. Em 1977, elegeu-se presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, cargo que ocupou até abril de 1979. Em 1994, lançou Existe um pensamento político brasileiro?.

Foi colaborador das revistas IstoÉ e Senhor. Recebeu, entre outros, os prêmios José Veríssimo, da Academia Brasileira de Letras (1959) e Moinho Santista (1978), além da medalha Teixeira de Freitas, do Instituto dos Advogados Brasileiros. Eleito em 2000 para a cadeira número 6 da Academia Brasileira de Letras, faleceu no Rio de Janeiro em 2003.

Ficha técnica:

Título: A democracia traída – Entrevistas
Autor: Raymundo Faoro
Organizador: Mauricio Dias
Prefácio: Mino Carta
Editora: Globo
Gênero: Entrevista
Capa: Isabel Carballo
Número de páginas: 320

19/11/2008

18/11/2008 - Atualizada em 18/11/2008