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A escritora Zélia Gattai, 85, foi eleita para a cadeira nº 23 da ABL

 

Folha de São Paulo (8.12.2001)


A escritora Zélia Gattai está comemorando a eleição à cadeira na ABL (Academia Brasileira de Letras), que aconteceu hoje à tarde (7/12/2001), em seu apartamento no Rio de Janeiro, ao lado de amigos e parentes.

"A única coisa que eu posso dizer agora é que estou muito emocionada e que não esperava ter uma votação tão grande", disse a escritora por telefone à Folha.

Assim que terminou a eleição, vários membros da Academia foram parabenizar pessoalmente a escritora e o irmão de Jorge Amado foi de São Paulo para cumprimentar Zélia.

Zélia foi eleita para a cadeira nº 23 da academia, que pertenceu durante 40 anos ao seu marido, Jorge Amado, que morreu em agosto deste ano. Ela teve 32 votos, de 36 imortais que votaram.
Além de Zélia, concorreram à vaga Joel da Silveira, Ieda Otaviano, Waldemar Claudio dos Santos, Marcelo Henrique, Diógenes Magalhães, Rachel da Gama Sampaio, Eliane Ganem, Elias Antunes, Cid Paulo Ferreira e Fernão Avelino.

A escritora tem 13 livros publicados entre memórias, romances e infanto-juvenis.

Veja a bibliografia completa da escritora Zélia Gattai:

1979: "Anarquistas Graças a Deus" (memórias)

1982: "Um Chapéu para Viagem" (memórias)

1984:"Senhora Dona do Baile" (memórias)

1987: "Reportagem Incompleta" (fotobiografia)

1988: "Jardim de Inverno" (memórias)

1989: "Pipistrelo das Mil Cores" (literatura infantil)

1991: "O Segredo da Rua 18" (literatura infantil)

1992: "Chão de Meninos" (memórias)

1995: "Crônica de uma Namorada" (romance)

1999: "A Casa do Rio Vermelho" (memórias)

2000: "Cittá Di Roma" (memórias)

2000: "Jonas e a Sereia" (literatura infanto-juvenil)

2001: "Códigos de Família" (memórias)

Fonte: Fundação Casa de Jorge Amado


Zélia Gattai Amado

A escritora Zélia Gattai Amado nasceu no dia 2 de julho de 1916, em São Paulo. Filha de imigrantes italianos, sua infância foi vivida em meio às primeiras manifestações políticas operárias nos bairros de imigrantes da capital paulista.

Seu pai fazia parte do grupo de imigrantes políticos que chegou ao Brasil no fim do século 19 para fundar a "Colonia Cecília" - tentativa de criar uma comunidade anarquista na selva brasileira. A família de sua mãe, católica, veio para o Brasil após a abolição da escravatura para trabalhar nas plantações de café, substituindo a mão-de-obra escrava.

Em 1936, aos 20 anos, Zélia casou-se em São Paulo com o intelectual e militante do Partido Comunista Aldo Veiga.

Em 1942, nasceu seu primeiro filho, Luis Carlos Veiga. O casamento aproximou-a de intelectuais como Oswald de Andrade, Lasar Segall, Tarsila do Amaral, Mário de Andrade, Rubem Braga e Vinicius de Moraes.

Em 1938, seu pai, Ernesto Gattai, foi preso pela Polícia Política e Social de São Paulo, durante o Estado Novo, o que levou Zélia a participar mais da política.

Em 1945, separa-se de seu primeiro marido e conhece Jorge Amado durante o 1º Congresso de Escritores. No mesmo ano, Jorge e Zélia decidem viver juntos. Desta união nasceram João Jorge Amado (Rio de Janeiro, 1947) e Paloma Jorge Amado (Tchecoslováquia, 1951).

Em 1946, Jorge Amado é eleito à Assembléia Constituinte pelo Partido Comunista Brasileiro, o que forçou a mudança do casal de Salvador para o Rio de Janeiro. Dois anos depois, em 1948, Jorge Amado tem seu mandato cassado e a família é obrigada a se exilar em Paris. Em 1950, expulsos de Paris, o casal vai morar em Praga, ex-Tchecoslováquia. Em 1952, eles voltam ao país.

No início da década de 1960, o casal muda-se para Salvador (BA) e vai morar no bairro do Rio Vermelho. Em 1978, Jorge e Zélia, após 33 anos de vida em comum, oficializaram a união.

Somente em 1979, aos 63 anos de idade, Zélia Gattai começou a escrever suas memórias. Cinco volumes já foram publicados com sucesso no Brasil onde as tiragens se sucedem. Os livros estão traduzidos para o francês, o italiano, o espanhol, o alemão, o russo e o chinês. Uma telenovela adaptada de seu primeiro livro "Anarquistas, Graças a Deus", pela TV Globo, teve grande audiência e circula em vários países.

De seu segundo livro "Um Chapéu para Viagem" (sobre a vida de Jorge Amado e de sua família), foi feita uma peça de teatro. O terceiro, "Senhora Dona do Baile", trata da vida do casal no exílio. O quarto, "Jardim de Inverno", narra os fatos que a família viveu na ex-Tchecoslováquia. "Chão de Meninos" conta a volta do casal para o Brasil depois do exílio.

Zélia escreveu dois livros infantis: "Pipistrelo das Mil Cores" e "O Segredo da Rua 18", que foram adotados nas escolas do Brasil.

Além dos livros de memórias e dos infantis, a escritora publicou um volume de fotografias de sua autoria com textos em três idiomas: "Reportagem Incompleta". Em agosto de 1995 publicou seu primeiro romance, "Crônica de Uma Namorada".

Em 2000, a Editora Record lançou uma edição comemorativa pelos 20 anos do livro "Anarquistas, Graças a Deus", com fotografias da autora e familiares.

No dia 6 de agosto de 2001, Zélia ficou viúva do escritor Jorge Amado. No mesmo mês, se candidatou à cadeira de nº 23, que tinha sido ocupada pelo marido na Academia Brasileira de Letras durante 40 anos.

Sua mais recente obra é "Códigos de Família", lançada em novembro deste ano, logo depois da morte de Amado. Em "Códigos", Zélia Gattai conta passagens de sua vida em que se criaram códigos especiais para remeter a uma situação ou a outra, de acordo com a convivência com Jorge Amado, com outros escritores, com amigos e com a família.

 

07/06/2006 - Atualizada em 06/06/2006