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A encarnação sonora do mago

 

Pedro Alexandre Sanches

O sucesso comercial de Paulo Coelho como escritor fez-se a partir do sepultamento de outro Paulo Coelho, que entre 1973 e 1979 manteve íntimas ligações com a música brasileira, com ápice na anárquica parceria com o roqueiro Raul Seixas. O livro “A Canção do Mago - A Trajetória Musical de Paulo Coelho” (Ed. Futuro, 244 págs., R$ 33), da jornalista Hérica Marmo, refaz a trajetória deixada para trás desde o encontro com o parceiro, quando Raul era um executivo “careta” de gravadora e Paulo, um hippie rebelde envolvido com teatro, imprensa marginal e amplo ideário subversivo.

Juntos, criaram um conjunto de canções de forte poder comunicativo, que apelava para o imaginário dito ”cafona” e deixava subjacente um discurso de confronto com a moralidade e a política da época, e que muitas vezes era mal percebido, até mesmo pela censura militar. Como a autora descreve, “Dentadura Postiça” (1973) passou incólume com o refrão “vai cair, vai cair, vai cair” endereçado não à dentadura, mas à ditadura "postiça".

Aos poucos, Raul e Paulo pareciam inverter as respectivas posições no mundo. Seixas virou o "doidão" de plantão, mergulhado em álcool, drogas e rock'n'roll. Coelho tornou-se funcionário burocrata da gravadora Philips. Convicto da necessidade de comunicação direta entre artista e público, participou da construção de carreiras pop como as de Rita Lee, Fábio Jr. e Sidney Magal.

No livro, ele revela que decidiu abandonar de vez a música quando soube da morte de Elis Regina, em 1982. A saga se completaria mais adiante, no nascimento da persona "alquimista" do Paulo Coelho escritor, mais ou menos na mesma época da partida definitiva de Raul Seixas, aos 44 anos, em 1989.

Revista Carta Capital 7/10/2007

11/10/2007 - Atualizada em 10/10/2007