Dando início à publicação da ficção completa do acadêmico Lêdo Ivo, a Editora Leitura lançou esta semana A morte do Brasil (1984). A obra tem 207 páginas e orelha escrita pelo crítico literário e ensaísta André Seffrin.
"A noite desce sobre o Brasil e um delegado de polícia encara seu ofício como missão na guerra da vida. Sedento de justiça, ele acredita que uma "cidade deve ser limpa" assim como um país deveria ser limpo, uma coisa "branca e limpa, um território imaculado". Embora seja um homem aparentemente sem esperanças, tem a ambição de conhecer a verdade e a mentira no coração dos homens, separá-las e distingui-las. Ao fazer suas caminhadas por conhecidas praças e ruas do Rio de Janeiro, é visitado pelas lembranças de sua Maceió, talvez a origem de seu desconforto. E o mundo lhe parece um lençol sujo em que as manchas se multiplicam. Não à toa, diariamente exige lençóis limpos em sua cama de hóspede solitário de hotel duas estrelas. E é fantasmagórica e fáustica sua travessia da noite: "Assim é o mundo: a ausência também nos acompanha, o que não existe caminha ao nosso lado". A noite é seu refúgio e seu império. Dentro dela, ele passeia como um rei porque sabe que tudo serve ao homem: esmolas, paisagens, coberturas com piscinas, algemas. Animal lírico estranhamente conformado aos limites que o mundo impõe aos proscritos, ele atravessa a praça da vida condenado ao exílio de si mesmo.
Em O caminho sem aventura, belo romance de 1948, Lêdo Ivo inaugura a mitopoética que o conduzirá a Ninho de cobras e A morte do Brasil, ou seja, aos dois romances magistrais em que revive Maceió à distância, “convertida em letras e palavras”, e mapeia a grande noite nacional. São histórias que nasceram da desilusão, e retratam o país que se perde nos grotões das falcatruas e escândalos. Rumorosamente atual e incômodo em suas implicações éticas, A morte do Brasil é assim um marco ficcional de flagrante atualidade – romance dos mais importantes da literatura brasileira moderna, escrito numa linguagem privilegiada e inconfundível, digna do grande estilista que é Lêdo Ivo. Um dos nossos poucos escritores que guardam, vivo, o segredo dos verdadeiros clássicos".
Em outubro, será publicado As Alianças, romance de estréia distinguido com o Prêmio Graça Aranha.
30/8/2007
10/09/2007 - Atualizada em 09/09/2007
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