Entrevista com Evanildo Bechara - Lingüista e integrante da Academia Brasileira de Letras
A Academia Brasileira de Letras (ABL) é totalmente a favor da unificação da Língua Portuguesa. Tanto que a entidade articula, em parceria com a Academia de Ciências de Lisboa, desde 1986, o acordo.
A próxima edição do Vocabulário Ortográfico deve trazer as novas regras. “Depende apenas do presidente Lula sancionar”, fala, em nome da ABL, o acadêmico e lingüista Evanildo Bechara.
Quais as principais vantagens do acordo da língua portuguesa?
Todas as palavras serão escritas da mesma maneira. Isso deve se traduzir em difusão da língua e a melhoria do ensino.
E quais as principais críticas a esse acordo que visa unificar a ortografia da Língua Portuguesa?
A crítica que se faz não tem fundamento científico, tem apenas fundamento humano, de não querer a reforma. É humano. Todas as vezes que se muda de hábito, o ser humano fica aborrecido.
A reforma vai alterar a escrita mas não a oralidade, uma vez que não se tem controle sobre a fala.
Exato. A oralidade não tem controle. A língua escrita não registra a oralidade. Veja o caso brasileiro. Se o português escrito registrasse a oralidade, teríamos no mínimos umas dez ortografias no Brasil.
A ortografia não é o espelho da pronúncia, apenas faz, na medida do possível, um casamento perfeito entre a pronúncia e a história da palavra.
Quais as principais mudanças da nova ortografia?
Diz respeito ao uso dos hífens, mas, aqui na ABL, estamos tentando sistematizar as regras para que o assunto fique palatável a todo e qualquer usurário da língua.
Quando, de fato, serão absorvidas e utilizadas essas mudanças na ortografia?
Toda reforma ortográfica é para a próxima geração. A reforma vai atingir, mesmo, quem está aprendendo a ler e a escrever agora. Porque, na realidade, a gente escreve como aprendeu na escola e ninguém muda de hábito de repente.
Gazeta do Povo (PR) 7/6/2008
09/06/2008 - Atualizada em 08/06/2008