O Globo (30.08.2003)
A escritora Ana Maria Machado tomou posse ontem na Academia Brasileira de Letras (ABL) com um discurso no qual comemorou a Casa de Machado de Assis e os notáveis que a sucederam na cadeira de número um, que pertenceu ao jurista Evandro Lins e Silva, morto em dezembro do ano passado. Faz parte da tradição da ABL prestar homenagem na posse ao antecessor, mas Ana Maria foi além das formalidades e trouxe à tona lembranças de sua convivência com Lins e Silva, seu amigo desde a década de 70.
- Muitas vezes, começando a engatinhar em minhas tentativas de ficcionista, interessada nos meandros da alma humana, eu puxava conversa sobre crimes passionais, e percebia o cuidado com que doutor Evandro respeitava os diferentes lados em cada questão, a importância de se apurar o fato para buscar a justiça - disse a primeira autora cuja obra é identificada com a literatura infanto-juvenil a ingressar na ABL.
Ontem, ela recebeu flores e presentes de amigos, parentes e admiradores anônimos em seu apartamento no Leblon.
- Comemorar é trazer à memória, recordar. Doze anos depois de ter superado o câncer, eu não peço que a vida me dê nada mais extraordinário do que foi a sobrevida. E hoje é dia de festa. Eu celebro a vida e, além do protocolo, este carinho das pessoas é inesperado - disse Ana Maria, que revelou ter se inspirado em Lins e Silva para criar um personagem de seu romance “Tropical sol da liberdade”.
A nova imortal, autora de mais de cem livros, é a sexta mulher a ocupar uma cadeira na ABL e foi saudada com um discurso do acadêmico Tarcísio Padilha, que a considera uma “apóstola da palavra”.
05/06/2006 - Atualizada em 04/06/2006