Billy Wilder, quem diria, estourou na posteridade. Outro dia (7), dediquei uma coluna às suas frases, tão hilárias quanto mortais. Leitores se entusiasmaram pelo seu lado frasista, que não conheciam —achavam-no apenas um dos maiores diretores do cinema. Hoje, Billy é uma unanimidade, e é fascinante essa virada de chave a seu respeito. Em vida (1906-2002), não gozava, nem de longe, dessa unanimidade. Era respeitado pela indústria, que admirava a sua coragem e o cumulava de Oscars, mas esnobado pelos críticos.
A Paramount, durante 20 anos, bancou os seus filmes mais corajosos, como "Farrapo Humano" (1945), sobre alcoolismo, e "Crepúsculo dos Deuses" (1950), quase uma autópsia do cinema. Mas bastou um fracasso, com "A Montanha dos Sete Abutres" (1951), para botá-lo na geladeira. Billy se associou aos irmãos Mirish, independentes, que lhe deram controle total —roteiro, produção, elenco, direção e corte final. Para eles, fez "Quanto Mais Quente Melhor" (1959), "Se Meu Apartamento Falasse" (1960), "Cupido Não Tem Bandeira" (1961), "Irma la Douce" (1963) e muitos mais. Mas, como era inevitável, algo também azedou e, aos 75 anos, Billy se viu cruel e precocemente aposentado.
Os críticos americanos nunca lhe foram gentis. Manny Farber, Andrew Sarris, Dwight McDonald e Pauline Kael botavam defeito em tudo que fazia —"cínico", "oportunista", "desagradável", "metido a sociólogo". E, por Billy não levar a sério a nouvelle vague, a turma do "Cahiers du Cinema" sempre o odiou.
Mas Billy nunca precisou deles. Bastava-lhe o público, que sempre adorou o seu fel, e, para isso, tinha de ser um público especial. "Quanto Mais Quente Melhor", com Tony Curtis e Jack Lemmon vestidos de mulher, tinha tudo para ser ofensivo a todo mundo. Em vez disso, foi eleito há pouco a maior comédia do cinema.
E quem são hoje os maiores fãs de Billy? Os jovens críticos.