Elites novas disputam espaço com as antigas

Ancelmo Gois

A palavra da moda na política é “elite”. Mas tem gente que usa o seu (nem sempre) santo nome em vão. A elite são várias, mostra o historiador José Murilo de Carvalho no pequeno artigo abaixo, escrito a pedido da coluna. Para José Murilo, em países como o nosso, as elites estão em processo de diversificação. Veja.

“Elite são várias. Um grande banqueiro é elite econômica; um presidente, ministro ou senador, política; um cardeal, eclesiástica; um Ph.D, intelectual; um artista famoso, cultural. Quanto mais moderno um país, mais diversificada sua elite. Ao inverso, quanto mais atrasado, mais concentrada. Em países atrasados e muito desiguais, um pequeno grupo monopoliza todas as posições de elite. Eles são propriamente elitistas. Em países em processo de modernização, como o nosso, as elites estão em processo de diversificação. Nesses casos, elites novas disputam espaço com as antigas. Uma nova elite política, por exemplo, pode usar o poder para se enriquecer e, ao mesmo tempo, brigar com a velha elite e com as elites econômicas. Nesses casos, uma poderosa arma retórica dessas novas elites é xingar as elites antigas de elitistas. Até que, mais para frente, novas novas elites as chamem, por sua vez de elitistas.”

O Globo (RJ) 14/10/2007