Com o lançamento de A Bruxa de Portobello em espanhol, Paulo Coelho comemora mais um sucesso
O autor diz que experimenta a morte e o renascimento com cada livro produzido
Quando Paulo Coelho se senta para escrever, daí costuma sair, muitas vezes em tempo recorde, um romance que será traduzido em 60 idiomas e publicado em mais de 150 países. Agora chegou a vez de o espanhol, uma das línguas mais faladas no mundo, dar versão a A Bruxa de Portobello.
Ele compara seu processo criativo com a gestação de um bebê. "Quando escrevo, sou uma mulher, e meu período de gestação dura dois anos", disse o premiado escritor brasileiro. Mas esse prazo sempre pode ser menor, anuncia o autor de O Alquimista e O Zahir: "É verdade que escrevo um livro em duas a quatro semanas. Mas só me permito escrever a cada dois anos, quando sinto que reuni energia emocional suficiente para apresentar uma história". Ele diz que experimenta "a morte e o renascimento" a cada livro produzido.
"Quando escrevo, me engravido de vida e não sei como será meu bebê", explica. Durante esse confinamento, ele não toma notas nem faz planos. "A única coisa que sei é que a vida colocou dentro de mim uma semente que crescerá em seu devido momento. E, então, quanto chega a hora me sento e escrevo".
Em A Bruxa de Portobello, seu livro mais recente, o escritor explora a feminilidade de Athena, filha adotiva de um casal libanês cuja maternidade desperta seu desejo de conhecer sua mãe biológica e a leva a empreender uma viagem para procurá-la, o que muda não só sua vida, como também a daqueles que a rodeiam.
O livro foi escrito no início de 2006 no sul da França, pouco antes de iniciar sua peregrinação de três meses no vigésimo aniversário do caminho de Santiago de Compostela, conforme descreveu em seu primeiro livro, O Diário de um Mago.
Traços pessoais
Aos 60 anos, Paulo Coelho afirma que o mistério de cada ato criativo deve ser respeitado – e ele respeita o seu próprio, sem tentar compreendê-lo. Sua essência está presente em muitos de seus personagens. Em O Zahir, por exemplo, o protagonista é um escritor reconhecido que viaja pelo mundo em busca de sua esposa desaparecida.
"Todos os personagens que descrevo em meus livros têm alguns de meus traços pessoais; não posso escrever sobre idéias e sentimentos que não vivi", conta. "Não obstante, se tiver que dizer qual de meus livros é mais autobiográfico, diria que é O Diário de um Mago". Segundo ele, em O Zahir há ingredientes de sua vida atual, como o sucesso e as viagens. "Mas o personagem principal continua sendo um reflexo de minha alma, como Maria em Onze Minutos ou Veronika em Veronika Decide Morrer", conclui.
Ao longo de sua carreira, ele contabiliza nada menos que 85 milhões de livros vendidos em todo o mundo. Sobre o sucesso, declara não saber a que atribuir. "Não tenho uma fórmula preparada para aplicar quando embarco em um novo livro, mas sempre atuo controlado por muitos elementos: disciplina, compaixão e um sincero entusiasmo".
Filosofia
Quando lhe perguntam sobre qual seria sua filosofia de vida, ele afirma não ter uma em particular, mas aprendeu com o escritor argentino Jorge Luis Borges que não existe outra virtude mais importante que a coragem: "Esta é para mim a verdadeira essência da vida: ser capaz de seguir lutando apesar do medo".
Como membro da Academia Brasileira de Letras, Coelho participará em março do 4.º Congresso da Língua de Cartagena das Índias, na Colômbia, onde se encontrará com escritores da África que escrevem em português. "Eles têm tantas histórias para contar!"
Perguntado sobre seus próximos projetos, ele os enumera: "Estar vivo amanhã; respeitar meu sucesso; continuar tendo curiosidade por tudo; ser capaz de continuar caminhando por muitos caminhos da vida; e ir para a cama sentindo que honrei cada hora que se passou durante o dia".
Jornal de Brasília (DF) 7/2/2007