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Voltamos sempre

 

Voltamos sempre à infância, mesmo que não se queira. Voltamos sempre aos mesmos livros de clássicos e cada vez com novo olhar.

Voltamos sempre no tempo para contemplar erros e acertos, com a aprendizagem de viver. E a renovação na equipagem.

Por mais que nos enganemos com a visão das coisas, a realidade insiste em se revelar. E cada dia, a poesia e o devaneio nos descobrem, bem mais do que os descobrimos.

E é preciso acreditar na Palavra, que é certeira e se cumpre no tempo determinado, quando é de Deus.

E se tenho em mão essa lâmpada de caminho, a escuridão é afugentada e as sombras somem.

E não é a lâmpada do tempo que vai fenecendo, nem a lâmpada da civilização que morre. É a força de Deus, a força de tudo sobre o nada.

Escrevo e não brigo com a tinta, “nem falo, para não ser interrompido”, como pensava Jules Renard.

Vou sugerindo de andar, com ideias que vão na minha frente. Com um pouco mais chegamos. Chegar é perder idades.

E procuro, ao lado minhas canetas. Vejo uma delas nos dentes de Aicha, minha cachorra, imitadora na arte de escrever.

E me recordo de Kafka que advertiu que criava como um cão ou Guimarães que teve opinião próxima.

E sei que Aicha vai seguindo sua vocação e talvez descubra a imortalidade ou o éden dos cães nalgum lugar da imaginação. E a imaginação é conquista de farejar os sonhos, com os ossos.

Tribuna Online, 26/07/2020