Quem diria, a lei pode começar a influir no mercado imobiliário de Brasília. O número de civis e militares condenados por tentativa de golpe de Estado e tendo suas sentenças amenizadas para prisão domiciliar abriu uma oportunidade para as construtoras. Elas já planejam seus novos condomínios em função das necessidades de sentenciados. Até agora, as prisões domiciliares vinham sendo cumpridas nos endereços particulares de cada um —perfeitos talvez para conspirações, mas não para o cumprimento da pena.
Certas instalações que até os valorizavam ficaram ociosas. A churrasqueira, por exemplo, perdeu a utilidade —por determinação da Justiça, o condenado é impedido de promover rega-bofes para seus asseclas, digo, correligionários. Donde, nos amplos espaços para os forrobodós de outrora, a residência poderá dispor de uma academia particular, equipada com esteiras, espaldares, estações de musculação, mesas flexoras e cadeiras extensoras, para que o prisioneiro mantenha, mesmo confinado, uma vida fit.
Impedido de sair à rua para prevenir possíveis fugas ou obstrução da Justiça, o condenado não pode manter sua antiga vida social. Carreatas, motociatas e jet-skíadas estão fora de cogitação, claro. Comícios, nem pensar, nem mesmo discursos em cercadinhos, já que o condenado está proibido de se dirigir ao mundo exterior. Toleram-se, no máximo, papos ocasionais com carteiros, técnicos da Net e entregadores de pizza.
As construtoras sabem que suas residências prisionais não se comparam a algumas já atualmente em uso, como a do ex-presidente Collor. Ele cumpre prisão domiciliar em seu duplex à beira-mar na praia de Jatiúca, em Maceió, avaliado em R$ 9 milhões, com 600 metros quadrados, quatro suítes, adega, piscina e cascata artificial com filhote de jacaré. Collor foi obrigado a esse sacrifício por sofrer de apneia do sono, isto é, roncar. Não seria justo para seus companheiros de cela tê-lo roncando a noite inteira.
Imagine os de Bolsonaro tendo de aturar os seus soluços.

 
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