O governante deve estar atento à necessidade de evitar ceder a certo tipo de burocracia que, em vez de criar, promover, fazer, preocupa-se apenas em tricotagem ao mexer no que está quieto, como gostava de dizer minha avó materna, que viveu protegida pelo terço, vela e oratório. Estar quieto não significa estar imobilizado. Quieto é estar tranquilo com o que faz ou com o que sente.
Pois bem, li estarrecido que há quem proponha retirar recursos do Sistema S. Meu Deus, pra que mexer com o que está quieto, produzindo, por exemplo, nos campos da educação e da cultura?
Conheço o que o SESC/SENAC fazem em Pernambuco admiravelmente, com modernidade e responsabilidade. Conheço o que o SESI realiza no plano de cultura promovendo artes plásticas de forma inovadora e acopladas inclusive à produção industrial.
Conheço o que vem fazendo a FIRJAN, via programas culturais do SESI, um deles numa rede estadual de teatros, no apoio à MPB. Na implantação de bibliotecas em áreas carentes com absoluto êxito, num esforço a que se associou a Academia Brasileira de Letras, graças à gestão presidencial de Ana Maria Machado e que a Casa procura assegurar continuidade.
Mas conheço, sobretudo por frequentá-la em atitude de admiração pelo que realiza, a Escola SESC de Ensino Médio, no Rio de Janeiro.
É uma escola rara. Ali residem 500 estudantes vindo de todo país, cerca de cem professores, apoiados em laboratório, biblioteca, teatro, cinema, parque esportivo, num espaço cuidado com carinho e competência.
Muitos dos meus confrades da ABL, que lá estiveram, no programa de intercâmbio ABL/Confederação Nacional do Comércio, comparam-na a um verdadeiro campus universitário moderno.
Lá se trabalha inclusive pela comunidade vizinha marcada por muitas carências. É uma escola competente, graças aos seus dirigentes e técnicos, é uma escola solidária pelo que faz pelas famílias de alunos ou circunvizinhos, é uma escola aberta ao mundo. É uma escola bilíngue, com vários estudantes bolsistas de universidades americanas e européias.
Tudo se faz com planejamento e orçamento racionais.
Prá que mexer no que está quieto?
Respondo como o poeta Ascenso Ferreira:
“Prá que? Prá nada”.
Se o país quer ter o bordão de pátria educadora, deixemos o Sistema S quieto no seu canto, pois dos seus deveres dará conta, seja em cursos presenciais, seja nos à distância.
A estrutura tecnológica de ESEM permite a multiplicação do trabalho que realiza e enorme ganho em escala, com atividades virtuais.
A ESEM, sob a lição do filósofo Edgar Morin (sempre presente à Escola), tem o que ele chama de “pensamento complexo” conjugando trabalho, educação, cultura e tecnologia como princípios educativos e a pesquisa como princípio pedagógico fundamental para uma aprendizagem permanente.
O Sistema S busca atuar em áreas de convergência, sem fragmentar o conhecimento, sabedor de que a diversidade da arte, da cultura, da sustentabilidade é a de sua identidade.
Prá que mexer, por mera tricotagem, no que está certo?