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Sobre "História da literatura brasileira"

 

No primeiro instante, julguei não ter sido o Sr. Wilson Martins o autor das notas sobre a minha História da literatura brasileira, recém-publicada pela Ediouro, após um trabalho de dez anos, neste Suplemento Idéias, no dia 29 de dezembro de 2007, ao apagar do ano. Foi o fantasma dos fantasmas do Sr. Wilson Martins, cujas sombras maledicentes? Algumas são perceptíveis? Tentaram agravar-me por motivos alheios à criação. Sobretudo porque um poeta e ficcionista intentou tamanha proeza e ele nunca conseguiu escrever uma História da literatura brasileira. Pelo contrário, o Sr. Wilson Martins tem se notabilizado nacionalmente como um crítico esdrúxulo, capaz de afirmar grandes asneiras com total desassombro e ressentimento.


E foi, sim, uma crítica fantasmagórica, nevoenta, num texto mal alinhavado, desconexo, impreciso, colegial, tanta falta de verdade ao dizer que não examino obras? Quando é isso que faço o tempo todo ao longo de quase 600 páginas? Quanto cochilo funâmbulo em frases vazias e dúbias. É a incompreensão previsível de um resenhista irritado e míope diante das mudanças. E nesta época de "balas perdidas", as que disparou voltaram, lânguidas, para ele mesmo, sem me atingir.


No segundo instante, dei-me conta de que o Sr. Wilson Martins falseia tudo, chega a um feio erro de objeto e de pessoa, não se afigurando real, leitores, nem a tal foto ali plantada, talvez de um sósia, pelo ódio que mancha o artigo e que Machado considera "a chaga da crítica". Na Introdução - que ele não quis ver - travo uma discussão de teoria e filosofia da literatura,com caráter abrangente, declarando - o que é novo - não serem os gêneros que determinam a linguagem, mas a linguagem que determina os gêneros. E talvez daí advenha seu único elogio de ser meu livro universal. Porém, logo a seguir penetro nos meandros mais singulares da literatura brasileira, desde a Carta de Pero Vaz de Caminha, seguindo por Basílio da Gama, Gregório de Matos e Guerra, Castro Alves, Euclides da Cunha, Erico Veríssimo, Drummond, Jorge de Lima, Cabral, Murilo Rubião, Campos de Carvalho, Lígia Fagundes Teles, Clarice, J. Veiga, o concretismo até César Leal, entre outros, traçando com limpidez e profundeza a crítica da literatura nacional. São centenas de nomes e de obras de brasileiros, muitos retirados do injusto esquecimento. "Particularmente notável é o largo espaço concedido à literatura contemporânea, que distingue sua História, das congêneres" - manifestou-se um ilustre paulista, Mestre da crítica, como muitas outras das importantes cabeças pensantes do Brasil. E curiosamente, o colunista, leitores, que motivou esta resposta, em (Idéias, 5 de janeiro de 2008), repete (não posso crer que esteja plagiando exatamente o livro que renegou ?) as mesmas idéias e observações que fiz a respeito das influências de Simões Lopes Neto (págs. 126 e 419, HLB), Coelho Neto ( pág. 422, ibidem) e o barroquismo ( pág. 421, ibidem ) na ficção roseana, além de reconhecer, o que também fiz, a injustiça contra o autor de O rei Negro, num estudo que vai da pág. 173-175, da minha História. E se me distraio novas "(des)apropriações" sairão de sua pena, tão impressionado se mostrou com minha laboriosa escrita. É curioso: pega trechos de meu livro sem citar-me. E ainda me ataca.


A hipocrisia não é a homenagem do vício à virtude , na expressão de um pensador francês? Mas não adianta. O resenhista, preso ao abandonado museu das letras, não se conforma com matéria que respira e pensa, ávida daquela "claridade" que pede ao estilo o genial Aristóteles, esse tão nosso contemporâneo. Aliás, essa palavra pelo visto causou-lhe certa e estranha suscetibilidade. Não importa. Acompanho Mário Quintana: escrevemos para os leitores, que são os nossos "contemporâneos". Onde, obviamente tal crítico não está. Por isso destilou contra este escriba o rancor de alguém de mal com o mundo, querendo sempre diminuir os autores. Pois ficou apenas em "seu tempo", (tempo morto) e como afirmou Eugène Ionescu, já está ultrapassado.


Em definitivo, o Sr. Wilson Martins parece o dono de uma tenda de quitandas que busca impedir que "um armazém de forças vivas" se estabeleça na vizinhança, como se fosse o proprietário da crítica nacional. E não é nada disso, falta-lhe fôlego e fogo. Pois "cabeça sem fósforo, é como fósforo sem cabeça" (quem diz é o Barão de Itararé). Por isso "desleu" de antemão o meu livro. Deixando vingar a lição do grande e generoso Mário de Andrade : "Para quem me rejeita, trabalho perdido explicar o que antes de ler, já não aceitou".


Jornal do Brasil (RJ) 12/1/2008