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Presença e não herança de Eduardo

 

Marina não é a herdeira natural de Campos, nem a sua sucessora lógica. Surge numa sequência eleitoral e, mesmo, contundente, mas não programática, no horizonte aberto pelo candidato do PSB. O poder de votos da ex-senadora não exprime uma visão de mudança, mas revide ao cansaço da permanência inédita, em nossa história, de um partido no poder pelo voto por 12 anos. Disso se dá conta, desde já, o Planalto, num empenho de recambiar ao partido-máter tantos filopetistas, na militância próxima e hesitante do PSB. A crise desencadeada pela morte de Eduardo forçaria o retorno à opção fundadora, não obstante o desgaste do partido de Lula, nesta inevitável usura pelo poder.

A bandeira de Marina, nas claras contradições de seus pleitos, avançará, sim, e perigosamente, pelo levante dos inconformados, de voto errante, a capturar os indecisos, fora da pressão programática de Eduardo Campos.

O caminho da candidata é o de sua força carismática indiscutível, levando ao ímpeto das mobilizações pelo mais ostensivo e contagiante dos salvacionismos. Sem dúvida, reforça maciçamente a terceira opção, a sair dos atuais 9% do PSB. Mas o ganho será, já, o de uma legião a esmo puxada da Rede Sustentabilidade, a que Campos deu guarida de última hora, diante dos impasses do registro.

Como ficará, nessa mobilização ambígua, a força do PSB? Vai à retranca de uma bancada ortodoxa, talvez, durante a própria campanha eleitoral, na dominância emergente da pregação de Marina? O recado de Campos já se preparara para os jejuns e os largos prazos, no que fosse o compasso certeiro de uma “toma de consciência” do país pela opção profunda, por fora das sazões eleitorais. Claro, depararemos essa imediata subida eleitoral de Marina, no porte em que, hoje, venha à frente o Brasil do cansaço, muito mais do que o da esperança.

A catástrofe da morte de Campos tirou da terceira escolha a marca do verdadeiro divisor de águas, frente ao atual binômio situacionismo-oposição. Mas há que isolar-se o que resta do PSB da contaminação pelo querer político da sucessora, cigano e absolutamente personalista, atenta aos rumos da hora. Não por outra razão, crescem, a partir de Recife, os cartazes de Eduardo com faixas pretas, em nova conclamação. Não se arrancam das paredes, mas se alastram, no clamor pela esquerda que cobra o nosso futuro.

Jornal do Commercio (RJ), 22/08/2014