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A possível surpresa depois de Obama

 

Deparamos, nos últimos dias, nos Estados Unidos, o desponte do vice-presidente Biden como alternativa a Hillary na sucessão de Obama. Até há pouco, o nome da ex-secretária de Estado surgia mais como uma candidatura de estrito testemunho e resistência, num quadro que se via maciçamente favorável aos republicanos. Assistimos, também, ao entredevoramento das candidaturas do Partido Republicano, a levar alguns pretendentes à postulação independente, como na aposta de Donald Trump. De toda forma, desapareceu um presidenciável óbvio, ou, mais ainda, as múltiplas governanças republicanas parecem ter debandado, de vez, de uma coalizão.

A surpresa de uma nova opção democrata com Biden é a da continuidade explícita da atual presidência, mais do que o simples voto antirrepublicano, presumida a sua vitória. A superposição de candidatos da extrema direita na pregação, inclusive, de um neorracismo sugere, 
até - e ao contrário do neutralismo ideológico de Hillary -, a eventualidade da aparição do contraponto de uma candidatura de esquerda, com a ruptura mais abrupta com os tradicionalismos, insistindo na defesa dos direitos e nas garantias dos homossexuais. Nas primeiras sondagens, nas lideranças mais ostensivas desses rumos ideológicos, como a senadora Elisabeth Warren, surge um desaperto eleitoral frente à sufocação dos tradicionalismos, derrubando o favoritismo de Trump à metade dos prognósticos de ainda há um mês. 

No reforço à nova prospectiva, o impasse no apoio do Congresso ao pacto com o Irã reduziu-se com o acordo inesperado do Reino Unido, que celebrou pacto idêntico com o governo de Teerã. 

A estratégia com que se esboça, cautelosa, a candidatura de Biden é a da recuperação, até há pouco impensável, da mensagem de Obama, em todo o seu viço, fora do mero jogo pendular dos dois partidos. De toda forma, a entrada do vice vira, de vez, a página de uma eleição assentada nas expectativas maciças da vitória republicana.

Jornal do Commercio (RJ), 28/08/2015