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Os dois Brasis e seus descrentes

 

Os debates finais da campanha presidencial trouxeram a voz de todo o espectro ideológico do País frente à opinião pública. Inclusive, o extremo do conservadorismo direitista, na obscenidade homófoba do candidato Levy Fidelix. Levantou-se também a esquerda, no corte crítico sobre o PT e no que seja o futuro do socialismo brasileiro, com Luciana Genro. Foi-se ao voto, também, com a nitidez da proposta do Partido Verde, desembaraçado da utopia ambiental.

O que aparece, de logo, é a perplexidade das oposições em apresentar uma alternativa ao presente governo. Do Bolsa Família ao SUS, arguiu-se que o ora realizado, comêxito, por Dilma já vinha de Fernando Henrique. Nem outra é a via a ser seguida, hoje, pelo tucanato ou as linhas dos reformismos mitigados de Marina, frente às metas de Lula e Dilma.

As paletas de discórdia vieram a debates menores, como o da autonomia ou independência do Banco Central ou, em clara perplexidade de Aécio frente a Dilma, o do que seja a privatização da economia brasileira, em aceno ao liberalismo, frente ao peso do investimento público na infraestrutura do nosso desenvolvimento. Os dados sobre o crescimento, desbastados de toda euforia, vêm de par com a convicção crescente da opinião pública sobre o razoável para um bom desempenho, a prazo médio e largo, do governo petista.

Repetiram-se as jaculatórias oposicionistas de Aécio, mostrando que a calmaria de hoje se deve ao prévio governo tucano, no abate dos lancinantes 900% de inflação, em que FHC recebeu do governo Sarney. As interrogações, por força, vieram, também, a Marina, no alegado triunfo da seriedade da sua proposta, assentada num superprometido programa de governo. Mas esse conteúdo não veio à opinião pública, talvez, estrategicamente, reservado como cardápio do segundo turno, no mutirão, então, previsto para a vitória da candidata pessebista.

O que se depreendeu no remate dos debates e do comezinho da discussão é do quanto os oposicionistas confiam no eleitorado, que quer, sobretudo, e de longe, a derrota sumária de Dilma, muito mais do que um contraponto entre excelências de um programa.

Num cenário liberto, de vez, de revelações-bomba, na socialização de erros e defeitos, o que deparamos, nas últimas semanas, foi o agudizar-se da divisão eleitoral entre quem tem e quem não tem. E, em termos desse inconsciente social do país, só se a supera pela aspiração fundamental da justiça, ainda remota, como experimentam esses 20% de brasileiros que se abstêm de votar.

Jornal do Commercio (RJ), 10/10/2014