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As oposições e o condomínio da mudança

 

O desfecho do segundo turno marcou, de vez, um avanço da nossa consciência cívica, por sobre o mero vaivém político-eleitoral. De saída, pela percepção de que diferenças mínimas de vitória levam as responsabilidades inéditas para a convergência do país dividido. E, de logo, vai-se ao clamor de Aécio, de que o enfoque prospectivo derrube toda visão restauradora, senão vindicativa, da luta pelo poder.

Significativamente, também, deparamos a reafirmação da legítima identidade partidária, tal como lograda pelo reforço da presença de Lula no segundo turno, no seu feudo nordestino. A vitória contundente em Pernambuco superou todos os prognósticos da fidelidade traumática à memória de Eduardo Campos.

O reconhecimento da vitória do PT por Aécio foi ao mais largo dos horizontes, no reclame mais repetido durante a campanha, ou seja, a mudança do País. Não foi outra a primeira palavra de Dilma, no enfoque do nosso quefazer imediato, na urgência da costura dos dois Brasis.

De pronto, veio-nos o anúncio da reforma política, ameaçada pelos possíveis impasses no Congresso, talvez, e a requerer a convocação de um plebiscito. Não avançou, entretanto, a presidente sobre as outras exigências da justiça social, no compromisso com a redistribuição de rendas e a reforma fiscal. Não avançou também, Dilma, sobre a reorganização partidária, implícita no reconhecimento da inviabilidade de um regime apoiado em 28 partidos e no sempre imprevisível aliancismo de ocasião.

O termo diálogo só perde para o da mudança no discurso político emergente. Mas a presidente não fez qualquer referência explícita a Aécio, em contraste com o adversário. Importaria o ganho do impulso político das oposições, garantindo o reforço no Congresso de iniciativas como a ampliação do Bolsa Família ou, sobretudo, a federalização do aparelho público de segurança.

O resultado da eleição repta a nossa democracia a esse condomínio objetivo das esperanças de um novo mandato, respondendo à frase-chave do discurso de Dilma, ou seja, o da diferença mínima de votos, chamando a responsabilidade da oposição. E mal começa um consenso sobre o que seja "diálogo" e "mudança".

Jornal do Commercio (RJ), 31/10/2014