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A obsoleta radicalização americana

 

O resultado das eleições prévias dos Estados Unidos, nas últimas semanas, evidencia a gravidade da radicalização do Partido Republicano. Ela se exprime, de pronto, pela falta de apoio ao candidato Marco Rubio, que, justamente, refletia a opção ponderada no quadro do partido oposicionista. Mas o preocupante da radicalização vai à força dos pronunciamentos de Ted Cruz, chegando ao extremo da religiosidade, buscada na volta às origens do Grand Old Party. Cruz ganhou no Texas e em Oklahoma e acredita estar apenas no começo de um determinado arranco eleitoral. Voltam a defesa do direito às armas e a redução, senão o desmonte, de toda ação econômica do Estado, desde já, com a radical eliminação do "Obamacare", sem dúvida, o maior avanço do moderno estado de bem-estar social dos Estados Unidos. Trump não tem meias palavras ao reiterar a expulsão dos muçulmanos do país e a construção do famoso muro na fronteira mexicana, reinvocando o precedente multissecular da muralha chinesa. A justificação é o comércio da droga no país, mas não se furta o candidato a exprimir o cansativo e repetido repúdio aos mexicanos e a necessidade da barreira para evitar a sua contaminação continental. 

Outra novidade da dita "superterça" foi a expansão de Sanders fora dos seus feudos de Vermont e Oklahoma, com impressionante votação em Massachusetts, prólogo, talvez, do que possa acontecer em Nova York. Manifesta-se aí - sobretudo a partir de uma nova geração - o atrativo por uma ideologia de esquerda, na busca do novo diante da atual inércia intelectual americana. 

Tudo conflui para o reforço da escolha definitiva do país pela opção Hillary, neste momento, no desenho da maior evidência do que seja o bom senso político. Vem, ao mesmo tempo, ao reforço de Obama e entremostra, numa ampla abertura da pauta, uma disponibilidade para o futuro que é todo o contrário da proposta republicana. Espanta, de qualquer forma, de parte de quem foi secretária de Estado do atual presidente, a nítida falta de referência à política externa que empreenderá. Mas, e exatamente em contraponto ao muro de Trump, fala da necessidade urgente de maior abertura de pontes e de um diálogo diferenciado com a Europa, frente aos riscos de ruptura no continente com a saída da Inglaterra da União Europeia. 

Desde já, também, o prenúncio da superterça, a reforçar a candidatura democrática, é o grau de conflito manifestado dentro da própria direita, na violência do confronto entre Cruz e Trump, a tornar absolutamente impensável qualquer coalizão no Grand Old Party, diante da opção enraizada dos democratas pelo Estado moderno.

Jornal do Commercio (RJ), 11/03/2016