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Desponta a guerra justa

 

A irrupção do Estado Islâmico põe em questão a amplitude e a eficácia da engrenagem internacional no combate ao terrorismo. Extrema-se agora o que se delineava, inclusive em outras bases, com a ação do Al Qaeda nesta trintena.

No pano de fundo de uma consciência global, desenham-se o crime contra a humanidade e a cobrança às Nações Unidas diante de um quadro não mais de vindita cultural, mas de extermínio radical de todos os adversários do califado, tal como se organiza o Estado Islâmico.

Vai à linha de frente o combate do governo americano, com o auxílio europeu ainda hesitante, numa primeira mobilização. Delineia-se, também, da parte de Obama, a contenção da primeira escalada, querendo restringir-se aos bombardeios maciços, no suposto de que os aliados locais darão conta da tarefa com suas tropas fronteiriças.

Significativamente, também, nessa mobilização, não se encontra a presença dos Brics, onde reponta, sobretudo, a presente posição brasileira. As adesões a Obama vêm, também, por motivos paralelos, à Turquia, frente aos levantes possíveis dos curdos e às deslocações territoriais maciças pela ameaça do Estado Islâmico.

O Brasil vê-se, nesse desafio, preso ao dilema que lhe aponta a nossa Constituição. Se deparamos o compromisso explícito da luta contra o terrorismo, são os mesmos incisos da nossa Carta que proscrevem qualquer recurso às guerras de extermínio nessa ação.

O pronunciamento da presidente Dilma em Nova York pautou-se por essa norma, assumindo, inclusive, o risco da estupefação não só americana, mas de outros países continentais. De logo, deu-se conta da perda imediata de toda condição de participar do Conselho de Segurança da ONU, no que tem sido o mais firme propósito internacional do país neste quarto de século.

A lucidez das apostas do Itamaraty conta, de saída, com o extermínio, a curto prazo, senão imediato, do Estado Islâmico, no anúncio do superarmamento de que dispõe Obama, embora ele ainda poupe o seu uso. Mas, do inédito ao inédito, o desponte do califado, sem paralelo em toda a história contemporânea, forçará o empenho direto de um contingente americano, na tolerância zero contra o atentado, que volta à convivência internacional contemporânea. O horror, também inédito, da troca do holocausto pelo rosário de vítimas, no corredor da morte do estado terrorista, nos leva a uma irreversível e nova tomada de consciência do nosso tempo.

Jornal do Commercio (RJ), 16/11/2014