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Depois do país de Lula

 

Mal percebemos, por vezes, o contraponto entre a forca das eleições genuinamente democráticas e o amadurecimento irreversível de uma
consciência cívica, como deparamos neste segundo turno eleitoral.

Aí está, de imediato, a cobrança de pontos nítidos de programa de governo, frente ao mero aliancismo político e à promessa de cargos num mandato inicial. Foi o caso nítido de Marina, no forçamento de maior nitidez na plataforma de Aécio, envolvendo, inclusive, a renúncia à reeleição.

Atente-se, ainda, ao quanto o eleitorado de Duma vai para além dos antigos e estritos jogos feitos do "povo de Lula". Reforça-se no apoio, já, das baixas classes médias, para além das meras periferias urbanas.

As campanhas, nestes últimos dias, reduziram as agressões, num somatório de denúncias autocompensadas, chegadas aos familiares dos antagonistas. O ataque à corrupção se generaliza, no que é a usura inevitável do exercício do poder. Vai-se,  de logo, como sempre, à vã promessa de erradicá-la em todo novo mandato.

O fim da contenda evidencia, também, o desfoque das artilharias de campanha originalmente projetadas. Progride um inconsciente coletivo que quer as diferenças de proposta, e não o empate de denúncias. E aí estão, em somas nulas, os nepotismos e o avanço nos dinheiros públicos. Inócuo é, também, a essa altura, o alinhamento no muro de penas por fraude, diante do crescendo da delação metódica do pagador da Petrobras.

Os debates dos últimos dias, por outro lado, vão à repetição dos números da inflação ou do PIB, ou ao contínuo pelourinho do governo Aécio, em Minas Gerais. Tal quando não deságua ano longínquo estuário da promessa da reforma política, pedindo o plebiscito e a reforma constitucional.

Curiosamente, ampliou-se a faixa dos indecisos nestes últimos momentos da campanha. O moralismo não parece ter alcançado o tsunami esperado pela oposição. E, no arraigado dos votos em Dilma, permanecem a consciência da opção de fundo desses doze anos e seu contraste com o mero make up reformista que lhe oferece como alternativa o tucanato.

Jornal do Commercio (RJ), 24/10/2014