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A democracia refém das delações premiadas

 

Só se acentua, nos últimos dias, o crescimento da reação internacional contra o impeachment de Dilma, no protesto formal em organizações latino-americanas, e, já agora, atingindo as Nações Unidas. Vem de par com a perplexidade diante da alegação de crime, por Dilma, quando as ditas “pedaladas” já se registravam como rotina nas apropriações orçamentárias do governo Fernando Henrique Cardoso.

A mesma acusação se estende ao governo Temer, diante da generalização dos regimes de propina, atingindo contundentemente o ex-ministro Jucá. Nem de propósito, a seguir, e numa exasperação do confronto, é o próprio ministro da Transparência, Fabiano Silveira, que cai. Não há mais que se comprovar a culpabilidade; remete-se à presunção e à saída da pasta.

A sequência consolida a opinião pública emergente, na inconfiabilidade do regime Temer, e na busca do fortalecimento pelo estrito desempenho econômico e social, por força, a demorar, sem créditos de espera. Mais ainda, a sofrer a oposição gritante do PT, pela primeira vez, há mais de década, no antagonismo, e com o quadro de incertezas, desenha-se a retração dos votos certos contra Dilma, a reforçar uma eventual surpresa na sentença do Senado.

Só se adensam os novos espantos, diante da potencialidade das revelações do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. O que mostram estas semanas é o quanto os recursos ao impeachment pretendem destituir o governo, em curto-circuito, diante das práticas constitucionais assentadas na força do voto e das maiorias eleitorais. 

No âmbito dessas surpresas, cresce, ainda, a presente indefinição de senadores que votaram pelo debate, mas não pela manifestação, já, da culpabilidade da presidente. Está longe de se configurar, ainda, o impacto total da Operação Lava Jato, frente à apropriação dos dinheiros públicos pelos detentores do poder.

Diante das vicissitudes do nosso amadurecimento democrático, o presente debate, no impeachment, criou uma nova ameaça ao nosso Estado de Direito: a de um governo permanentemente refém das delações premiadas, e sua imprevisível munição.

Jornal do Comercio (RS), 21/06/2016