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A catástrofe anunciada

 

A notícia que se tem, depois da tragédia, a maior na história carioca, com desolação e a morte de ricos e pobres, com mais de 500 vítimas, além da perda de casa e automóveis - em Petrópolis, Teresópilis e Nova Friburgo - é  que o governo do Estado do Rio sabia, desde 2008, dos riscos na região da catástrofe.

Uma análise  das áreas mais atingidas pelas chuvas intensas apontava os problemas futuros, apenas faltou retirar os moradores - disse o secretário de Meio Ambiente, Carlos Minc. Aliás, faltou o principal. E a explicação é simples: num ano eleitoral o governador candidato não quis, também, correr o risco de perder votos, com medidas agressivas ou desagradáveis. E os moradores foram  deixados para morrer. Por que é mais difícil tomar atitude preventiva, sendo visível o perigo habitar as encostas, do que depois chorar o terrível acontecimento e culpar o acaso na natureza, ou a violência do destino? Ou ainda afirmar que não é hora de procurar os resposnsáveis. Quando então será?

O que sabemos é a desesperada busca por desaparecidos. O empresário Conolly, por exemplo, no Cemitário Jardim da Saudade, chorou o falecimento de 12 pessoas de sua família nas enchentes da Região Serrana. Marcelo Maia tentava descobrir os corpos do irmão, da cunhada e de dois sobrinhos nos escombros do Jardim Califórnia, em Friburgo. Vera Lúcia Rodrigues seguia atrás de informes sobre  sua mãe, de 67 anos. E sesguindo no lodaçal, murmurava: "Tá tudo acabado!"

Até o rancho, em que Tom Jobim compôs "águas de março", em 1972, foi destruído, em parte, na pequena São José do Vale do Rio Preto. E é o cronista Ruy Castro que lembra a sugestiva e profética letra de outra canção, Passarim: " Cadê meu caminho, a água levou/Cadê meu rastro, a chuva apagou/E a minha casa, o rio carregou..."

O único aspecto positivo da tragédia, se pode haver algum,  é o da solidariedade do nosso sofrido e fraterno povo.Maior do que todos os governos.

Diário da Manhã (GO), 17/1/2011