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As cartas de Dilma

 

Passado, de vez, o efeito Copa e seu possível impacto eleitoral, alinha-se, necessariamente, o primeiro desenho para as próximas urnas. E, para alguns, a surpresa de uma possível quebra dos jogos feitos, que apontavam, ainda há semanas, para a vitória de Dilma. Avulta, agora, o dado inesperado, no eixo Sudeste, da vertiginosa queda da avaliação de Haddad na prefeitura paulista, somada à precariedade dos votos de Alexandre Padilha para o governo do estado, de par com a queda do petismo na própria matriz histórica do advento de Lula, o ABC.

Poder-se-ia, ainda, estimar uma piora relativa da petista nos baluartes históricos, o Norte e Nordeste. Mas tal se compensa frente à queda ainda mais relevante das candidaturas do PSDB e mesmo do PSB. Praticamente, metade do eleitorado no Norte e Nordeste vai à petista, e significativamente o chão eleitoral de Campos na área mal avança, ainda, de 12% de opções de voto. Estratégico, desde já, entretanto, é o avanço da presidente no Sul, onde conta com 36% do contingente eleitoral.

O dado estratégico, talvez, mais importante é o da relativa perda, no eleitorado de Dilma, da larga faixa do país do dito “povo de Lula”, marcado pela população recém-saída da marginalidade social e com renda até dois salários mínimos. Mas, de maneira significativa, esse contingente engrossa nova indefinição e não passou para o lado oposto. Abre-se todo o horizonte de retorno ao PT, na mesma medida em que as políticas públicas das próximas semanas enfatizem a melhoria de renda e as vantagens estimadas para o Bolsa Família.

Também na área crítica do Sudeste, fracassam as tentativas de associar Aécio a Pezão. Só se reforça, por outro lado, esse impasse do situacionismo fluminense, mesmo que Pezão se desvencilhe de Sérgio Cabral. Seu coeficiente de votos previstos vai a um terço dos esperados por Garotinho e Crivella. Fica, ainda, também, a incógnita de como o PMDB vai, finalmente, na vice de Dilma, melhorar o voto pró-Planalto, vencido o seu divisionismo típico em várias regiões do país. De toda forma, o jogo de forças do oposicionismo ganha força, a partir da certeza da vitória de Alckmin em São Paulo. Mas tal não exclui que, em todo o país, o avanço das indecisões impeça o “povo de Lula” de voltar ao berço, e, quem sabe, até, ainda no primeiro turno.

Jornal do Commercio (RJ), 25/07/2014