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Artigos

  • Queixas de médicos

    Zero Hora (RS), em 08/11/2008

    Recebi, via internet (esta verdadeira caixa de ressonância da nossa cultura), um curioso texto intitulado “Como enlouquecer um médico em 12 lições”. Contém coisas do tipo: “Comece a consulta reclamando da demora, mesmo que tenha sido atendido rapidamente. Depois, diga ao médico que ele é o 13º que você procura e que você só quer mais uma opinião, pois não confia muito em médico. Diga também aquela frase clássica: ‘Cada médico fala uma coisa’”. E: “Nunca responda diretamente às perguntas. Caso ele pergunte se você teve febre, diga que teve tosse. Conte tudo detalhadamente, começando, se possível, desde quando você ainda era criança”. Ou ainda: “Leve sempre três crianças com você (nem precisam ser seus filhos), especialmente aquelas que mexem em tudo, sobem nos móveis, ficam fazendo perguntas no meio da consulta. Combine previamente com uma delas para quebrar o termômetro do médico”.

  • A impossível arte de prever o futuro

    Zero Hora (RS), em 28/10/2008

    Quando começou a atual crise econômica, o presidente Lula fez um bem-humorado pronunciamento, usando uma expressão que desde então tem sido repetida, sempre com ironia, pelos comentaristas: nos Estados Unidos, disse Lula, a crise pode ser um tsunami, mas aqui no Brasil chegará como uma marolinha.

  • Os jovens e seus pais

    Zero Hora (RS), em 26/10/2008

    Tempos atrás, escrevi aqui em ZH um texto (depois publicado no livro Um País Chamado Infância, Ed. Ática) intitulado Oração de um Pai.

  • Angústia é problema médico?

    Zero Hora (RS), em 25/10/2008

    A palavra angústia vem do latim angustus, que significa estreito, apertado. Tem muito a ver com o termo alemão angst, cuja raiz indo-européia, anghu, significa a mesma coisa, restrição, aperto. Mas a palavra angst adquiriu uma conotação muito mais ampla, sobretudo por causa daquela importante corrente filosófica que é o existencialismo, e sobretudo por causa de dois importantes filósofos, Soren Kierkegaard e, nazismo à parte, Martin Heidegger. Para Kierkegaard, a angústia era o resultado da insegurança humana diante das responsabilidades para com Deus. Já Heidegger fala do angst frente ao Nada, à morte, algo que todos nós sentimos e que é inerente à condição humana.

  • Imperdível

    Zero Hora (RS), em 19/10/2008

    Jorge Amado costumava me dizer que, quando cedia os direitos de um texto seu para adaptação (cinema, tevê, teatro), esquecia que era o autor. Isso porque, argumentava, o diretor acabaria fazendo aquilo que achava melhor, um direito que Jorge aliás reconhecia. Com os anos, aprendi que o grande escritor baiano tinha razão. Muitos de meus textos foram adaptados com resultados muito variáveis. Os direitos de O Centauro no Jardim foram vendidos, por um agente literário, a uma produtora de Hollywood. Eu não tinha a menor idéia do que fariam para adaptar à tela um livro cujo principal personagem é metade homem e metade cavalo. E eles, constatei depois, também não: o filme nunca foi realizado. Mas, na Alemanha, a história gerou uma peça de teatro, e a atriz que fazia o papel de centauro conseguiu a façanha de caminhar pelo palco – sem fantasia, sem nada – como se fosse um centauro. Um resultado inesperado.

  • O padroeiro dos médicos

    Zero Hora (RS), em 18/10/2008

    Hoje é dia de São Lucas, autor, segundo a tradição, de um dos Evangelhos e dos Atos dos Apóstolos. E é também o Dia do Médico, porque, sempre de acordo com a tradição, esta foi a profissão que Lucas, nascido em Antióquia, atual Síria, exerceu. Pouco se sabe sobre sua vida. As evidências de que teria mesmo sido médico são escassas e baseiam-se muito na analogia entre a linguagem que usa e a de Hipócrates, e também no fato de que menciona muitas doenças. Admitindo que Lucas tivesse mesmo exercido a medicina, a pergunta que cabe é: o que teria atraído um médico para o cristianismo?

  • Os bastidores da ciência

    Zero Hora (RS), em 07/10/2008

    O Nobel de Medicina não costuma provocar sensação, ao menos entre o público em geral – nada que se compare ao Oscar, por exemplo – mesmo porque na maioria das vezes são premiados cientistas que se distinguem por pesquisas básicas, importantíssimas, mas que escapam ao entendimento do comum das pessoas.

  • Os homens e seus medos

    Zero Hora (RS), em 05/10/2008

    Homens têm medo. Melhor dizendo, homens têm medos, vários tipos de temores. Não apenas os habituais: medo da morte, medo da doença, medo de assalto, medo do toque retal para exame da próstata. Homens têm medos mais sutis, muitos deles relacionados às mulheres. Poderia parecer um paradoxo, visto que as mulheres são habitualmente rotuladas como frágeis. Mas mulheres estão longe de ser frágeis, sobretudo as mulheres de hoje, valentes, determinadas, mulheres que lutam por seu lugar no mercado de trabalho e que inclusive vivem mais que os homens. Os homens têm medo de se envolver com mulheres, têm medo da intimidade, têm medo de perder o mítico poder masculino. Este medo, às vezes, é patológico, é uma fobia e tem nome(s): ginefobia, fobia de mulheres, e caliginefobia, medo de mulheres bonitas. E, porque têm medo, os homens têm fantasias.

  • Interpretando as mensagens de nosso corpo

    Zero Hora (RS), em 15/09/2008

    Tempos atrás, fazendo uma pesquisa sobre a história da melancolia, encontrei num velho livro de psiquiatria uma expressão tão intrigante quanto fascinante: “ômega melancólico”. Trata-se de uma ruga, em forma de ômega (aquela letra grega que lembra uma ferradura), que aparece na testa das pessoas melancólicas. Por uma simbólica coincidência, o ômega é a última letra do alfabeto grego e é usado para designar o fim das coisas, assim como o alfa, a primeira letra, é o começo. Ora, para muitas pessoas a melancolia é mesmo o fim da picada, ou elas assim o sentem. O ômega melancólico é uma mensagem que, como a marca de Caim (também na testa), e obedecendo a mecanismos semelhantes – a culpa desempenha aí um papel fundamental – nos lembra que o nosso rosto muitas vezes funciona como uma tela: nele se projetam os sinais de nossos problemas emocionais. Desses sinais tomamos conhecimento através daquele inquietante objeto, o espelho. Que, para nosso desgosto, não mente. Durante muito tempo, o espelho pôde garantir à malvada rainha que não havia no mundo mulher mais bela. Mas então surge Branca de Neve, e o espelho, por dizer a verdade, teve de agüentar a cólera da soberana.

  • É preciso ajudar os fumantes

    Zero Hora (RS), em 15/09/2008

    Nas últimas semanas ressurgiu a controvérsia sobre o fumo. Em São Paulo, foi desencadeada por um projeto de lei que o governador José Serra (ministro da Saúde no governo FHC) encaminhou à Assembléia Legislativa do Estado, propondo a proibição do cigarro em qualquer ambiente coletivo fechado da cidade. O projeto, que tem o apoio do presidente do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde, o gaúcho Osmar Terra, foi rotulado como um ato de “fúria contra os fumantes” por ninguém menos que um médico, o doutor Ithamar Stocchero, ex-presidente da regional de São Paulo da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.

  • A música como vocação

    Zero Hora (RS), em 07/09/2008

    Famílias musicais são um fenômeno freqüente e impressionante. Na música erudita, a família Bach é o exemplo clássico, que se repete, contudo, na música dita popular.

  • A vingança do homem invisível

    Folha de S. Paulo, em 25/08/2008

    Grupo cria material para invisibilidade. Quando a personagem Mulher Maravilha apareceu em gibis pela primeira vez, pilotando um avião invisível, em 1942, a tecnologia para anular a imagem de um objeto ainda era algo impensável. Um estudo agora publicado, porém, mostra que a tarefa já é possível. Construir aquela aeronave, que saiu dos quadrinhos para se tornar o sonho dos militares, pode ser agora só uma questão de tempo. Projetando um material especial que é capaz de desviar raios de luz de uma maneira inusitada, um grupo de pesquisadores da Universidade da Califórnia obtiveram, pela primeira vez, um objeto capaz de dobrar a luminosidade "para trás", criando a invisibilidade. Folha CiênciaAvisado de que muitas empresas estavam interessadas na nova tecnologia da invisibilidade, o pessoal do laboratório resolveu apressar o ritmo das pesquisas. Trabalharam dia e noite e por fim conseguiram o seu objetivo: uma espécie de vestimenta que cobriria uma pessoa da cabeça aos pés e que, desviando qualquer luminosidade, tornaria essa pessoa invisível.

  • A miniaturização da vida

    Zero Hora (RS), em 24/08/2008

    No final deste notável romance que é Caminhos Cruzados, de Erico Verissimo, Clarimundo, professor de matemática, resolve tocar um projeto antigo: escrever um livro em que um ET relatará como vê o nosso mundo e a humanidade. Começa, naturalmente, pelo prefácio, onde se queixa de que a vida é chata, monótona. Da janela de seu quarto, prossegue o professor, ele vê numerosas pessoas, empenhadas no “ramerrão cotidiano”. Entre parênteses, são estas as pessoas cujos dramas, tragédias e comédias Érico acabou de narrar nas 286 páginas precedentes. Mas, diz Clarimundo, “debalde os romancistas tentam nos convencer de que a vida é um romance”; ele simplesmente não acredita nisso. Ao terminar o prefácio, Clarimundo tem um sobressalto: na chaleira que deixou no fogão, a água ferve, “a tampa dá pulinhos, ameaçando saltar”. Num pulo, Clarimundo tira a ameaçadora chaleira do fogo. “Quase me acontece um desastre!” – pensa.

  • Um verbo para começar o ano

    Zero Hora (RS), em 31/12/2007

    O fim do ano é uma época associada à conjugação quase obrigatória de certos verbos: recordar, avaliar, adivinhar, prever. Ocorre-me que um outro verbo pode se juntar a estes. Antes disto, porém, deixem-me contar para vocês uma história que começou num 1º de janeiro.